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Diego Ribas/PxImages

UFC

Borrachinha explica batalha por salário no UFC e cogita descaso com brasileiros

Depois da confirmação de que a sua especulada luta contra Robert Whittaker no UFC 284, em março, não aconteceria, Paulo ‘Borrachinha’ decidiu abrir o jogo sobre o que deu errado nas tratativas com a organização presidida por Dana White. Em entrevista ao ‘The MMA Hour’, o peso-médio (84 kg) criticou a estratégia de negociação do Ultimate e acusou a entidade de ser tendenciosa nas ofertas de salários para lutadores brasileiros.

O lutador mineiro, que já expressa publicamente há algum tempo seu descontentamento quanto a defasagem de seu contrato com o UFC, voltou a criticar o valor pago por luta pela organização a ele. De acordo com Borrachinha, que possui mais um combate previsto em seu vínculo atual com o Ultimate, esta divergência foi o principal motivo pelo qual o duelo contra Whittaker não saiu do papel.

Borrachinha, que diz receber 70 mil dólares por luta (com a possibilidade de bônus de mais 70 mil dólares em caso de vitória) desde 2017, quando assinou seu contrato atual com a liga, ainda auxiliado por seu antigo empresário Wallid Ismail, deixou claro que não pretende mais subir no octógono para se apresentar pelo valor que considera defasado em relação à sua projeção como lutador.

“Mick Maynard me perguntou se eu gostaria de enfrentá-lo (Whittaker). Eu disse: ‘Claro’. Ele é um ótimo lutador, essa seria uma grande luta, uma luta que você se sente empolgado para fazer, e acho que as pessoas querem assistir essa luta também. Então, eu disse: ‘Claro, posso lutar com ele. Mas agora vamos falar sobre os termos (da negociação)’. E só aconteceu isso, nós não avançamos depois disso. Eles não me mandaram um contrato. Eles só falaram: ‘Se você quer enfrentar o Whittaker, vamos fazer essa luta’. Mas eu não posso fazer essa luta contra o número um ou número dois (da divisão), um cara de alto nível, pelo mesmo dinheiro que eu tenho recebido desde 2017. Não faz sentido”, explicou Paulo Costa.

O mineiro ainda lembrou que seu descontentamento com o salário pago pelo UFC em suas lutas mais recentes é antigo, mas topou seguir atuando mesmo incomodado. Além de tentar encerrar seu vínculo o quanto antes, de acordo com ele, essa decisão se deu também pelo espírito competitivo dos brasileiros, que, na sua visão, tende a atrapalhar os atletas tupiniquins na hora de gerirem suas carreiras no aspecto financeiro.

“Essa luta pode mexer com muita gente, trazer muita atenção, e eu não vou lutar com ele pela mesma quantia de cinco anos atrás. Eu recebi 35 mil dólares para enfrentar Marvin Vettori, ele era o número um naquela época. Isso é palhaçada. Eu fiz muito isso para o UFC. Eu lutei com Yoel Romero nos mesmos termos. Eu lutei com Adesanya, Marvin e Luke Rockhold nos mesmos termos. Só pra acabar com esse contrato infernal, porque eu quero ficar livre desse erro que eu cometi com meu antigo empresário cinco anos atrás. Mas os números são tão defasados. Eu não posso continuar fazendo isso porque isso não ajuda os lutadores, não ajuda nossa classe. Eu deveria ter dito ‘chega, eu não vou fazer isso’ há muito tempo. Mas eu não fiz. Porque nós brasileiros, nós só queremos lutar. Nós não nos importamos muito. Eles dizem: ‘Você vai lutar com aquele cara’. E nós dizemos: ‘Ok, vamos lá’. Nós estamos fazendo isso por muito tempo. Mas isso não é bom para o negócio, para nós como atletas. Isso é horrível para o negócio na parte dos lutadores. Dizem que se você é bom em alguma coisa, não faça de graça ou por dinheiro de m***. E se você quiser vender algo, você tem que colocar um preço. Eu fiz muito isso no passado (dizer sim ao UFC), mas já chega”, afirmou.

Na opinião de Borrachinha, o UFC aproveita essa postura destemida dos atletas brasileiros para oferecer contratos com valores mais baixos do que deveria. O peso-médio chegou, inclusive, a cogitar uma espécie de descaso por parte da organização americana com os lutadores tupiniquins, em função de percepções erradas a respeito do nosso país. Para Paulo, esse comportamento tem que mudar e ele acredita que está dando o primeiro passo para talvez servir como espelho aos compatriotas.

“Eu não sei, irmão. Eu acho que eles só oferecem contratos com números muito baixos para os brasileiros. Eu não sei o que eles pensam. Talvez eles pensem: ‘Ah, esses filhos da p*** vivem no Brasil, na selva, eles não precisam de dinheiro de verdade, porque a moeda vale cinco vezes menos que o dólar. Vamos pagar migalhas para eles’. E foi o que eu disse antes. A mentalidade dos brasileiros é: ‘Ok, eu concordo. Vamos fazer isso’. Eu fiz isso e eu sei que os brasileiros fazem muito isso. ‘Eu não ligo contra quem eu vou lutar, em que posição meu oponente está no ranking’. Mas isso é péssimo para os negócios”, concluiu.

Um dos principais expoentes do MMA nacional na atualidade, Paulo Borrachinha tem colecionado mais polêmicas fora do cage do que lutas nos últimos anos. Além do imbróglio contratual com o UFC, o mineiro conviveu com algumas lesões que o afastaram por longos períodos da ação e competiu apenas cinco vezes desde 2018, depois de iniciar sua trajetória no Ultimate com três lutas na mesma temporada, um ano antes.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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