Um dos principais nomes do peso-mosca (57 kg) do UFC, Deiveson Figueiredo está acostumado a enfrentar alguns dos maiores cascas-grossas da companhia no octógono mais famoso do planeta. Em sua juventude, no entanto, as ‘feras’ encaradas pelo paraense eram verdadeiramente selvagens. Natural do Soure (PA), na Ilha de Marajó, ‘Deus da Guerra’ se acostumou a domar animais silvestres desde sua infância, costume que pode ser creditado como fator fundamental na postura destemida do lutador em suas apresentações.
Porém, uma dessas experiências com animais não domesticados por pouco não acabou em tragédia. Em entrevista ao vivo pelo ‘Youtube’ à reportagem da Ag. Fight (veja abaixo ou clique aqui), Deiveson relembrou um encontro nada amistoso com um búfalo selvagem, que quase lhe custou a vida, mas que no fim acabou sendo salvo por seu tio.
“Isso é inevitável (se machucar domando búfalo), a gente sempre toma umas chifradas na perna. Tem uma história, eu tinha uns 17 anos ou menos. Meu tio, Donda, na época era vaqueiro e eu era um moleque. Ele deu dois burrinhos, um para mim e outro para um tio meu, e ele foi montado em um cavalo. Ele falou: ‘Vamos no campo, vou atrás de duas búfalas minhas que um amigo disse que viu em tal local’. (…) Chegou no local, ele achou os búfalos que eram dele, colocou na frente e voltamos, normal. Só que inverno, na fazenda, fica muito cheio de mato, muitas árvores e muita água no campo. Na volta, quando chegou em uma certa parte eu disse: ‘Estou vendo um animal ali, eu acho que no meio do mato, meu tio não viu. Vamos ver se é dele’. Quando cheguei próximo do animal, era um boi (búfalo) bravo. O búfalo olhou para a gente e assoprou de forma estranha. Esse boi correu para chifrar o cavalo que a gente tava. O meu tio deu duas lapadas no dele e o dele saiu desembestado, e eu dei umas cinco chicotadas no burrinho que eu estava e o burrinho só balançava o rabo, falei: ‘Estou ferrado agora’”, contou Figueiredo, antes de continuar.
“O búfalo veio, deu uma chifrada nesse burrinho, que eu só vi o céu passar na minha frente. O burrinho ligou o motor no 220 e voou para dentro do mato e eu caí embaixo do búfalo. Quando eu caí, que eu voltei (a mim) e olhei: o búfalo estava em cima de mim. Ali foi Deus, porque meu tio apareceu rápido do nada e o búfalo deu uma chifrada no cavalo dele. A sorte dele é que ele não caiu do cavalo e o cavalo também não caiu, mas o cavalo não prestou mais para nada, ficou deficiente de uma perna. Eu saí desesperado da água correndo, meu tio achando que eu estava machucado. Na hora eu ainda pensei: ‘Vou fingir que eu desmaiei, não vou falar nada’. Veio isso na minha cabeça, mas eu tive que falar porque ele estava desesperado. Quando o búfalo correu para longe eu chamei ele, ele foi, me pegou pela mão e, eu era tão magrinho, que ele me puxou pelo braço. Quando minha mãe ficou sabendo, ela na hora mandou me buscar. Aquilo ali foi milagre de Deus”, recordou.
Atual número um no ranking peso-mosca do Ultimate, Deiveson teve a chance de conquistar o cinturão vago da categoria em fevereiro deste ano. No entanto, apesar de superar seu rival, Joseph Benavidez, por nocaute técnico no segundo round, o brasileiro acabou ficando sem o título, por ter excedido o limite de peso da divisão na pesagem oficial do UFC Norfolk. Agora, ‘Deus da Guerra’, como é conhecido, aguarda a definição da organização quanto ao seu próximo compromisso.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.