Entrevistas
Treinador revela segredo do bom momento de ‘Do Bronx’: “Humildade e felicidade”
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por
Neri Fung, em Niterói (RJ)
No UFC desde os 20 anos de idade, Charles ‘Do Bronx’ sempre foi visto como um lutador de enorme potencial, mas que, por diferentes motivos, não conseguia dar o salto final para chegar no topo. Esta visão, no entanto, já não pode mais ser considerada. Após uma década de serviços prestados no octógono mais famoso do mundo, o faixa-preta vive atualmente seu melhor momento da carreira, com oito vitórias consecutivas e um lugar no top 3 do ranking peso-leve (70 kg) do Ultimate.
A evolução do paulista nos últimos anos é nítida e facilmente identificada para quem acompanha sua trajetória. O próprio Charles já creditou o nascimento de sua filha, em 2017, pelo seu crescimento profissional. Mas esta pode não ser a única explicação. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, Diego Lima – líder da equipe ‘Chute Boxe São Paulo’ e treinador de ‘Do Bronx’ – destacou a positividade com a qual o lutador encara os treinamentos, assim como a humildade e disposição para ouvir todos os conselhos e ensinamentos, e colocá-los em prática imediatamente.
Isto talvez explique melhor a transformação vista, especialmente dentro do octógono. Dono de um dos melhores jogos de chão do MMA, Charles – recordista de vitórias por finalização na história do UFC – tem mostrado uma trocação cada vez mais afiada, que já rende frutos concretos, com alguns triunfos dentro da sequência positiva atual. Até mesmo os questionamentos sobre o aspecto mental do brasileiro parecem ter perdido força, especialmente após suas duas últimas vitórias, sobre adversários do calibre de Kevin Lee e Tony Ferguson, ambas de forma contundente.
“A felicidade (motivo da evolução nos últimos tempos). Eu acho que o Charles está feliz. Ele vem treinar feliz. Ele começa o treino sorrindo, treina sorrindo, termina sorrindo. Quando ele se machuca, ele não está nem aí. Há um tempo atrás, a gente já estava falando em fechar uma luta e ele cortou o supercílio, e você já pensa: ‘Ele vai ficar nervoso’. Muito pelo contrário, ele falou: ‘Po, galera. Não foi nada. Semana que vem está bom’. Ele é um cara muito positivo, nada o abala. E eu acho que a felicidade dele é o principal. Outra coisa que é uma diferença absurda que eu vejo dele é que ele é um cara que poderia estar, como muitos, com uma soberba. Mas ele é totalmente diferente. Ele escuta de uma maneira absurda”, ressaltou Lima, antes de exemplificar a conduta do pupilo.
“Você está no sparring e fala: ‘Charles, essa mão esquerda está baixa’. Na hora, no exato momento, ele levanta. Se você chegar para ele antes do sparring e falar: ‘Vamos tentar andar mais para a direita hoje porque é importante por causa disso, disso e disso’. Começa o sparring e ele anda para a direita. Ele escuta o que você fala, ele presta atenção no que você fala e executa. E não só eu, que sou o head coach, os nossos atletas também, atletas que sonham em estar onde ele está. Atletas que têm muito menos lutas do que ele, muitas vezes falam para ele: ‘Charles, tem que virar mais o quadril’. Chega no sparring ele vai lá e faz, e chega no atleta e fala: ‘Eu virei bem? Era isso?’. Ele presta atenção em todo mundo da equipe. Você vai falar com ele, ele senta no tatame e fica te escutando, prestando atenção de verdade. Essa é a diferença dele. Essa humildade para aprender sempre e a felicidade de estar onde ele está”, concluiu o líder da ‘Chute Boxe São Paulo’.
Com oito vitórias seguidas, sete delas por nocaute ou finalização, Charles ‘Do Bronx’ alcançou o topo da divisão dos leves e ocupa atualmente a terceira posição no ranking da categoria. O mais recente triunfo, sobre Tony Ferguson, no co-main event do UFC 256, realizado no último sábado (12), em Las Vegas (EUA), colocou o brasileiro o mais próximo que já chegou de uma disputa pelo título do Ultimate.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.