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Treinador de Charles ‘Do Bronx’ descarta Chandler e cita condição para luta com Gaethje

Desde a contundente vitória sobre Tony Ferguson, no co-main event do UFC 256, disputado em dezembro do ano passado, Charles ‘Do Bronx’ tem pleiteado uma disputa de título para a sua próxima luta. Porém, a campanha feita pelo brasileiro, que vem de oito triunfos consecutivos e ocupa a terceira posição no ranking dos pesos-leves (70 kg), parece esbarrar em alguns obstáculos, como o interesse da organização pela revanche entre Conor McGregor e Khabib Nurmagomedov, atual campeão da categoria.

Apesar de já ter admitido que Charles faz parte de um seleto grupo de lutadores que o Ultimate considera para a próxima disputa de cinturão dos pesos-leves, Dana White já deu indícios de que o faixa-preta pode ter que encarar mais um oponente antes de conseguir o sonhado ‘title shot’, como em sua recente declaração – ao site ‘TheMacLife’ -, onde o dirigente afirmou que o brasileiro teria recusado um duelo contra Michael Chandler no UFC 257, agendado para o dia 23 de janeiro. Sem entrar no mérito da veracidade da afirmação do cartola, Diego Lima – líder da ‘Chute Boxe São Paulo’ e treinador de ‘Do Bronx’ – rechaçou qualquer interesse por um confronto entre seu pupilo e o ex-campeão do Bellator.

Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, Lima relembrou que quando o UFC anunciou a chegada de Chandler ao evento, em setembro do ano passado, com pompas de grande contratação da temporada, ‘Do Bronx’ se colocou à disposição de dar as boas-vindas ao americano. No entanto, sem que nenhum avanço tenha acontecido à época com relação ao possível duelo, o treinador não enxerga, neste momento, motivos para o faixa-preta, posicionado no top 3 da categoria, encarar um atleta ainda sem histórico pela organização. Convicto, o líder da ‘Chute Boxe SP’ reiterou o interesse único e exclusivo de seu pupilo em uma disputa pelo cinturão.

“Assim que o Chandler assinou com o UFC, começaram a falar muito o nome dele na organização. E imediatamente o próprio Charles falou que estaria disposto a dar as boas-vindas para ele. Só que depois disso, nada mais foi falado, a gente acabou não conversando sobre nada e aí falaram daquela luta do Charles com o (Beneil) Dariush, aí depois a gente acabou conseguindo lutar contra o (Tony) Ferguson. Mas para ser muito sincero, agora o nosso foco está 100% no cinturão, no vencedor do Poirier com o McGregor. Então, na verdade, nosso foco no momento está bem longe do Chandler. Depois dessa vitória em cima do Ferguson, é uma luta que não teria nem sentido. A gente até se dispôs a ficar como reserva no Poirier vs McGregor, porque isso para nós valeria bastante a pena. Agora, no momento, o Chandler não teria o porquê”, ponderou Diego Lima, antes de completar.

“A gente sabe que o Chandler chegou com um nome forte, com um bom histórico no Bellator. Porém, o UFC é outra coisa. A gente sabe de muitos casos de lutadores que vieram do Bellator e não se cresceram no UFC, muito pelo contrário, foram apostas frustradas, como o Hector Lombard. Então, a gente não sabe qual vai ser a do Chandler. Tem que esperar ele lutar com o (Dan) Hooker, que não está dentro do top 5. Então, para o Chandler pensar em cinturão, na minha opinião, ele teria que galgar um grande caminho ainda, por estar chegando agora e querer sentar na janelinha”, disparou.

Outro nome ventilado como potencial próximo rival do lutador paulista foi Justin Gaethje, atual número um do ranking da divisão. A especulação, no entanto, foi prontamente descartada pela equipe do brasileiro, antes mesmo que uma oferta oficial fosse feita pela entidade. Focado em conseguir uma disputa pelo título para o pupilo, Lima ofereceu a contrapartida de que, se o duelo diante do nocauteador americano fosse válido pelo cinturão, ‘Do Bronx’ o aceitaria de bom grado.

Qualquer outra hipótese não é vista com bons olhos pela equipe do faixa-preta, que confia na confirmação da aposentadoria do atual campeão Khabib Nurmagomedov e volta suas atenções para o vencedor do duelo entre Conor McGregor e Dustin Poirier, que medem forças na luta principal do UFC 257, na ‘Ilha da Luta’, em Abu Dhabi (EAU), no próximo dia 23.

“O Charles está ali na toca dos leões. Dentro do top 5, todos são duros da mesma forma. Não tem um que eu fale: ‘Esse é melhor, esse é o mais fácil’. Muito pelo contrário, todos são difíceis e é por isso que o Charles está ali. Porque ele é um leão igual os outros. Por que nós não queríamos o Justin (Gaethje)? Não pelo fato de ser o Justin, é porque a gente quer o cinturão. Na minha opinião, o Charles merece lutar pelo cinturão contra o vencedor de McGregor e Poirier. Porém, se o McGregor vencer essa luta e ele se aposentar e ir lá lutar (boxe) com o (Manny) Pacquiao, que a gente sabe que o McGregor é uma caixinha de surpresa, e o Dana White falar: ‘Não tem ninguém aqui, vamos colocar o primeiro do ranking e o Charles para lutar pelo cinturão’. Aí a gente pega o Justin pelo cinturão sem problema nenhum”, declarou o treinador, antes de continuar.

“Na verdade, a gente não está nem falando do Justin lutador. O que nós queremos mesmo é o cinturão, que seja o Justin, o Poirier, o McGregor, quem for. A luta que o Dana nos oferecer pelo cinturão, ele pode escolher o adversário que ele quiser que a gente vai estar pronto. Então, quando nos falaram do Justin, em nenhum momento a gente falou: ‘O Justin não porque ele é duro, porque ele é isso’. Muito pelo contrário, o Justin para mim é uma excelente luta, é um cara muito duro, eu acho que é um jogo que seria muito bacana contra o Charles, só que nós pensamos essa luta pelo cinturão. O que nós queremos mesmo é que a próxima luta do Charles seja pelo cinturão, independentemente de quem seja o adversário”, sentenciou.

Diego Ribas/PxImages

Ciente das diversas peças no tabuleiro de xadrez que precisam se mover perfeitamente para que Charles seja agraciado com um ‘title shot’ no seu próximo compromisso, Lima não perde a fé e a confiança. Ainda assim, o treinador admite que o futuro do paulista depende principalmente da decisão de Khabib, que deve definir sua situação com o UFC após reunião com o presidente da liga em Abu Dhabi, e do resultado do combate entre McGregor e Poirier.

“Confiante nós estamos, mas ao mesmo tempo a gente sabe que tem muita coisa em jogo. Nós sabemos que uma vitória do McGregor pode mudar tudo, e uma volta do Khabib pode mudar tudo também. Então, a gente sabe que o caminho para o cinturão está próximo, nós sabemos que o Charles está com a mão ali esticada para pegá-lo, só que a gente sabe que tem muito McGregor e Khabib no meio. O futuro do Charles está muito ligado a esses dois atletas. Porque nós sabemos que se o McGregor vencer e o Khabib voltar não tem o que falar. O Dana White já falou e é uma luta que vende muito. Então, a gente sabe que é uma luta que seria feita. Agora, se o Charles esperaria para pegar o futuro campeão dessa luta, algo assim, eu não sei. Mas eu acho que a próxima luta do Charles está totalmente em jogo em cima do McGregor e do Khabib. A gente está nessas mãos”, analisou.

A confiança em um ‘title shot’ pode não ser total, mas a certeza de que o faixa-preta está preparado para uma disputa de título está explícita nas palavras do treinador. Pelo sonho do pupilo e de toda a equipe por trás do seu sucesso, Lima promete fazer de tudo para conseguir o objetivo. No entanto, o líder da ‘Chute Boxe SP’ descartou entrar em uma batalha contra a organização.

Ciente do aspecto empresarial pelo qual muitas vezes o UFC baseia suas ações, Lima destacou que compreende e respeita a companhia. Portanto, ainda que tenha convicção de que seu pupilo já fez por merecer uma chance de lutar pelo cinturão dos leves, o treinador afirmou que não faz parte de seus planos ou do lutador comprar uma briga com a franquia.

“O Charles é muito feliz no UFC. A gente é muito grato à organização e a gente entende que eles tem uma posição de empresa. Então, às vezes a gente fala: ‘A gente quer que o Charles lute aqui, que ele lute ali’. Só que o Charles é um funcionário. Então, nós nunca vamos bater de frente com o UFC e arrumar confusão por causa de uma coisa ou outra, muito pelo contrário. Nós estamos deixando muito claro a nossa posição, nós estamos mostrando que o Charles está pronto e merece o cinturão. A gente provou contra o Ferguson, não só para o UFC, mas para o mundo, que o Charles está pronto para o cinturão”, afirmou Lima, antes de completar.

“É o que a gente quer e deixamos muito claro para a organização. Mas em nenhum momento a gente vai bater boca, como a gente vê vários lutadores fazendo, brigando, ameaçando fazer isso e aquilo. Isso pode ter certeza que não é o perfil do Charles, não é o nosso perfil. A gente sabe que o UFC é uma empresa, é a maior empresa de MMA da atualidade e, na minha opinião, é difícil alguém passar por cima dela. Então, a nossa posição é o cinturão, a gente quer e vai fazer de tudo pelo cinturão, só que nós nunca vamos bater de frente ou brigar com o UFC, isso jamais”, concluiu.

Recordista de vitórias por finalização na história do UFC, Charles ‘Do Bronx’ vem de oito vitórias consecutivas pela principal liga de MMA do planeta. Em sua última apresentação, em dezembro do ano passado, o faixa-preta dominou o americano Tony Ferguson – ex-campeão interino dos leves – por 15 minutos, decretando seu triunfo por decisão unânime dos juízes e garantindo um lugar no top 3 do ranking da categoria.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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