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Reprodução/Instagram

Entrevistas

‘Popó’ aponta para falta de ídolos no boxe ao rebater críticas por lutas com youtubers

Tetracampeão mundial e um dos maiores ídolos do esporte nacional, Acelino ‘Popó’ Freitas deve retornar aos ringues aos 45 anos de idade para um combate exibição contra o youtuber Whindersson Nunes, em evento ainda sem data ou local definidos. O provável confronto contra o humorista, que é visto pelo ex-pugilista como uma oportunidade para divulgar o esporte, segue uma tendência recente iniciada no exterior, tanto pela volta de uma grande lenda à ativa, quanto pela participação de uma celebridade da internet no duelo.

O movimento, que já contou com o retorno aos ringues dos ex-campeões mundiais Mike Tyson e Roy Jones Jr, assim como a entrada dos irmãos Jake e Logan Paul – ambos youtubers – no mundo da nobre arte, divide opiniões. Por um lado, os simpatizantes apontam para os benefícios trazidos pelas superlutas de exibição, especialmente a atenção e interesse da mídia e do público. Já alguns membros da comunidade das lutas disparam críticas quanto a um possível desrespeito com a modalidade. Nada que abale Acelino ‘Popó’ Freitas.

Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, Popó debochou dos críticos e fez questão de as razões pelas quais combates envolvendo celebridades, mesmo sem grande experiência na modalidade, tem atraído mais atenção do que muitas disputas entre atletas de verdade que estão na ativa atualmente. De acordo com o ex-campeão mundial, tudo se justifica pela escassez de grandes estrelas que representem a nobre arte junto aos fãs. O baiano ainda citou o momento vivido pelo boxe brasileiro, que conta com grandes lutadores, mas ainda peca na consolidação dos mesmos como ídolos nacionais.

“Os que falam mal (da entrada de celebridades no boxe) é porque não foram chamados, têm poucos seguidores e não tem mídia nenhuma. Aí ficam com despeito. Os que foram chamados é porque têm alguma coisa fora do normal, são celebridades, são os nossos campeões, os nossos ídolos. Antigamente a gente ficava famoso pela televisão, hoje em dia você fica famoso pelas redes sociais”, declarou Popó, antes de complementar sua posição com o exemplo do cenário atual do boxe brasileiro.

“Te falo com toda a segurança. Os nossos lutadores do Brasil sabem ser lutadores, lutam bem, conquistam seus ouros. Mas eles ainda não sabem ter o carisma do que é ser um ídolo. E as pessoas sentem falta disso. Aí elas pegam aquela pessoa que já é ídolo, vê que a pessoa gosta da nossa modalidade e coloca o cara como ídolo da modalidade. É isso que está acontecendo. A galera não sabe atingir quem está dentro de casa assistindo, passar uma emoção bacana quando dá uma entrevista, falar da família de uma forma verdadeira, falar das dificuldades, que pode superar. A gente vê a maioria dos atletas falando só: ‘Eu quero agradecer ao meu patrocinador tal, agradecer ao meu treinador, agradecer isso e aquilo’. E esquece de passar as mensagens que todo mundo que está em casa gosta de ouvir”, ponderou.

Questionado se não gostaria de estar mais próximo dos novos expoentes do boxe nacional para auxiliá-los nessa transição, talvez até mesmo como uma espécie de conselheiro, o ex-campeão mundial foi além nas críticas à nova geração de pugilistas brasileiros. De acordo com o baiano, uma possível aproximação já foi rejeitada pelos próprios atletas. Sem citar nomes, Popó revelou já ter tentado passar sua experiência através de conselhos, mas, segundo ele, sua tentativa foi em vão.

“Olha, próximo eu até estou. Eu nunca estive longe do boxe. O problema é essa galera se aproximar de mim e fazer da maneira correta. Você vê a maioria dos atletas hoje tomando cachaça, cerveja, balada. E na minha época, eu abdiquei de tudo isso para ser o campeão. Aí você quer fazer um tipo de treino e a galera quer treinar de outro jeito: ‘Não, eu quero treinar assim porque meu treinador falou que é assim’. A gente fala: ‘Mas você pode fazer isso, porque dessa forma foi mais fácil, foi mais segura, essa forma aqui que eu fiz eu tive pouca lesão’. E eles respondem: ‘Não, mas eu não quero fazer assim, eu já treino de outra forma’. Um desaforo, aquela coisa toda. Então, é melhor a gente nem se meter”, explicou o veterano, antes de completar.

“Tanto que, para você ter uma ideia, eu estou treinando há quase cinco meses, seis meses, três vezes por semana. Mas não para essa luta ou outro tipo de luta. Só para não ficar parado, ocioso, gordão, feio. Aí tem um grupo de professores de boxe, novos, e um grupo de pessoas anônimas que amam o boxe. Terça, quinta e sábado, na academia Popó Mão de Pedra, que fica aqui na Baixa de Quintas, onde eu fui nascido e criado, a gente reúne de dez a 20 treinadores, todos de máscara, e passa um para o outro como segura manopla de forma correta, movimentação de perna, de braço, e um ajuda ao outro, com uma autocorreção. Uma geração nova de treinadores aqui em Salvador. E dessa forma a gente ajuda o boxe. Quem não gostaria de treinar com um tetracampeão mundial de boxe? Quem não gostaria de fazer uma manopla ou fazer um sparring ou ser orientado pela experiência que eu tenho de 30 anos de boxe? A gente pode passar a nossa experiência para essa galera que está chegando e que tem humildade de aprender”, finalizou.

Aos 45 anos, Acelino ‘Popó’ Freitas fez sua última luta profissional de boxe há cerca de três anos, saindo vitorioso do confronto contra o mexicano Gabriel Martinez, realizado em Belém (PA). No total, o baiano acumulou 41 vitórias e apenas duas derrotas em sua carreira, além de ter sido campeão mundial dos super-penas, pela WBO (Organização Mundial de Boxe) e WBA (Associação Mundial de Boxe), e dos leves, em duas oportunidades, pela WBO.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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