Siga-nos
exclusivo!

Entrevistas

No aniversário de 10 anos da vitória sobre Fedor, Werdum destaca: “Mudou minha vida”

Fabrício Werdum venceu Fedor Emelianenko em 2010, no Strikeforce – Diego Ribas

Nesta sexta-feira (26), um combate histórico completa dez anos. No dia 26 de junho de 2010, Fabrício Werdum chocou o mundo ao precisar de pouco mais de um minuto de luta para finalizar Fedor Emelianenko, considerado por muitos à época como o maior lutador de MMA de todos os tempos e tido como um atleta praticamente invencível. O triunfo, válido pelo extinto evento ‘Strikeforce’, foi o responsável por mudar completamente os rumos da vida do brasileiro, como o próprio admite.

Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, Werdum relembrou a surpreendente vitória e destacou a importância dela no prosseguimento de sua carreira, ressaltando que, além do respeito adquirido pelo feito inédito, também teve acesso a oportunidades e conquistas financeiras que antes não estavam disponíveis. Apesar de ter inúmeros momentos marcantes em sua trajetória no MMA, como o fato de ter sido campeão peso-pesado do UFC, o gaúcho não tem dúvidas ao apontar o triunfo sobre a lenda russa – que até aquela disputa de 2010 possuía 31 vitórias e apenas uma controversa derrota, por interrupção médica – como o ponto de virada em sua vida como atleta.

“Depois dessa vitória contra o Fedor mudou muito (a minha vida), muito mesmo. Antes eu era conhecido, ‘conhecidinho’, não era bem conhecido. Mas depois dali passou a ser: ‘Quem ganhou do Fedor?’. Eles queriam saber quem era esse cara que ganhou do Fedor. Mudou muito. Vários seminários, convites, presenças. Estava sendo muito mais respeitado, ganhei o prêmio de ‘Upset of the Year’ (Zebra do Ano). Então, mudou completamente minha vida. Eu tinha chegado nos Estados Unidos, tinha um dinheiro guardado, mas começou a acabar, e essa vitória me salvou, me ajudou muito na parte financeira também. A partir dali só coisa boa aconteceu”, exaltou Fabrício, antes de ressaltar o impacto da conquista.

“Todo mundo viu, todo mundo lembra. Acho que chocou o mundo do MMA, a galera ficou impressionada da maneira que foi. Com certeza, se não tivesse essa luta com o Fedor, minha história iria ser diferente. Eu fico muito orgulhoso de ter acontecido isso e poder relembrar e falar sempre disso. Sempre com todo o respeito ao Fedor, o admiro muito, por tudo que ele fez, toda a história. No meu ponto de vista, o Fedor é o melhor peso-pesado de toda a história”, afirmou.

Amplamente considerado como azarão ao entrar na luta contra o russo, Werdum tinha claro em sua mente a necessidade de explorar sua principal arma, o jiu-jitsu, logo nos momentos iniciais da peleja, já que o suor do adversário com o decorrer do combate poderia atrapalhar a pegada em suas tentativas de finalização. A confiança, por ter feito, segundo o próprio, um dos melhores camps de treinamento de sua vida, ajudou o faixa-preta a seguir a estratégia à risca e obrigar Fedor a desistir do combate ao se ver ‘preso’ em um triângulo bem encaixado pelo gaúcho.

“O acampamento para aquela luta foi um dos melhores que eu fiz, o camp mostrou na hora da luta. Treinei com muito foco, estava determinado. Porque foi naquela época que eu cheguei nos Estados Unidos, estava sem contrato, tive que correr atrás. Aceitei a primeira luta no Strikeforce com uma bolsa bem baixa, depois aceitei a segunda, com o Pezão. E depois veio a oportunidade contra o Fedor, que ninguém acreditava, mas a gente acreditava muito. Eu treinava muito naquela época, tudo certinho, como tem que ser. Aquela luta em especial eu estava muito confiante, muito bem mentalmente. E a combinação mente e o corpo, que é difícil de encontrar, e naquela vez eu encontrei”, contou Werdum, antes de comentar sobre a estratégia traçada para o duelo.

“A estratégia realmente era levar para o chão e foi o que aconteceu. Pegar no comecinho, porque até o suor era importante. Porque resvala muito e perde muita posição pelo suor, isso realmente influencia. E a gente tinha combinado de tentar pegar no começo para não escorregar. E dito e feito, peguei no triângulo. Treinei muito chão e deu muito certo ali, do jeito que foi. Pegar aquele triângulo no Fedor, que é um cara que eu admiro até hoje e considero o melhor peso-pesado de toda a história”, revelou.

Muito aconteceu desde aquele confronto do dia 26 de junho de 2010. Enquanto Fabrício seguiu para uma trajetória de sucesso no UFC, inclusive tendo conquistado o cinturão dos pesados da entidade, Fedor Emelianenko continuou a lutar por outros eventos, sem nunca chegar a um acordo que o levasse à principal organização de MMA do planeta. Com ambos já acima dos 40 anos, o encerramento de suas carreiras já se aproxima. E para coroar o longo período de serviços prestados ao esporte, além de celebrar a realização do primeiro duelo, Werdum sugere uma revanche entre eles.

“Acho que uma revanche seria muito legal. Dez anos depois, por ser o Fedor, de ter essa história. Acho que chama atenção pelo fato de ter passado muito tempo, eu acho que a galera iria querer ver essa luta. Dois veteranos, dois caras que fizeram história, cada um no seu caminho. Ia ser muito legal fazer uma revanche com ele. E quem sabe não possa acontecer uma revanche antes que eu me aposente, antes que eu encerre a minha carreira. De repente, a gente encerra a carreira os dois juntos. A gente luta e depois eu até o convido para tomar uma vodca (risos)”, brincou o gaúcho.

Aos 42 anos, Fabrício Werdum soma 23 vitórias, nove derrotas e um empate na carreira. Em seu próximo compromisso, o brasileiro encara Alexander Gustafsson no dia 25 de julho, em evento do UFC marcado para a ‘Ilha da Luta’, em Abu Dhabi. Por sua vez, Fedor Emelianenko, que compete no MMA profissional desde 2000, acumula 39 triunfos, seis reveses e um ‘no contest’ (luta sem resultado). O russo, que ainda tem nova luta agendada, superou Quinton ‘Rampage’ Jackson em sua última peleja, em dezembro de 2019, pelo Bellator 237.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

Mais em Entrevistas