Os momentos que antecedem uma grande decisão, em qualquer esporte, podem ser encarados de várias formas pelos atletas, sem que exista uma maneira correta ou errada de agir. Alguns preferem se isolar e manter o foco totalmente voltado para a competição, enquanto outros se sentem mais confortáveis rodeados de amigos e familiares, relaxando e tirando a cabeça, ao menos por alguns instantes, do desafio que terão pela frente. Este foi o caso, por exemplo, de Anderson Silva, ex-campeão peso-médio (84 kg) do UFC e um dos maiores lutadores de todos os tempos, antes de uma das disputas mais icônicas, se não a mais, de sua gloriosa carreira.
No dia 5 de fevereiro de 2011, o ‘Spider’ colocaria seu título em jogo contra o ex-companheiro de treinos e desafeto Vitor Belfort, outro grande nome do MMA brasileiro, na luta principal do UFC 126. O confronto entre duas lendas do esporte nacional, apimentado pela rivalidade estabelecida entre eles, criou uma atmosfera de enorme expectativa pelo encontro dos dois dentro do octógono. Porém, apesar do clima de ‘final de Copa do Mundo’ que tomou conta do Brasil e do mundo, Anderson Silva optou por passar as últimas horas antes do evento de uma forma, até certo ponto, inesperada para muitos: passeando em um shopping de Las Vegas (EUA) com seus filhos.
O acontecimento foi confirmado por duas lendas do MMA, que estiveram presentes ao lado do ‘Spider’ nessa disputa contra Belfort, e contaram à reportagem da Ag Fight, cada um sob o seu ponto de vista, alguns detalhes sobre a inesquecível história. O ex-lutador Pedro Rizzo, que à época fazia parte pela primeira vez do quadro de treinadores de Anderson, relembrou o susto com o aparente sumiço do campeão até momentos antes de ter que se apresentar na arena para o compromisso.
“Eu nunca tinha ido com o Anderson para uma luta e no dia da luta, a gente tinha que estar no vestiário às 17h30, no Mandalay Bay. O Anderson tomou café da manhã e saiu com os filhos, para fazer compras, no dia da luta. O Anderson sumiu, ninguém achava ele. Deu 16h, 17h, quando deu 17h30 chega o Anderson no hotel. Foi fazer compras o dia todo, ou seja, andou o dia todo. Eu falei: ‘Caralho, você está maluco. Você vai lutar hoje’. E ele falou: ‘Não, mestre. Eu estou bem. Vou tomar um banho, trocar de roupa e estou indo para o ginásio’. Na maior calma do mundo (risos). Em uma das maiores lutas de todos os tempos”, relembrou Pedro Rizzo, antes de continuar.
“Ele entrou, tomou um banho e falou: ‘Vamos’. Descemos para o vestiário, a luta dele era a última, ia ser bem tarde. Aí lá trocou de roupa, fez tudo com calma, aqueceu, fizemos a estratégia dentro do vestiário, entrou no ringue, lutou e venceu. Isso é uma coisa que me marcou. No dia da luta ele passeou o dia todo, relaxou a cabeça. Cada atleta é de um jeito. Tem gente que gosta de ficar no quarto, tem gente que não gosta de ver ninguém, tem gente que gosta de ficar conversando com as pessoas e tem o Anderson, que gosta de ficar passeando, fazendo compras no dia da luta. E vai lá e faz o serviço”, contou.
Por sua vez, Rodrigo ‘Minotauro’, ex-campeão peso-pesado do UFC e amigo pessoal de Anderson, contou que ele foi o responsável por buscar o lutador no shopping, momentos antes do evento. O baiano, que atualmente atua como embaixador do Ultimate, destacou que se impressionou com a tranquilidade e confiança demonstrada pelo amigo no trajeto em direção ao hotel.
“Eu lembro que na semana da luta, eu estava com o quadril operado, um amigo meu alugou um jato para poder assistir (a luta) e me levou de carona. A gente alugou um Rolls Royce Phantom, o cara alugou de presente para o Anderson, e a gente foi pegar o Anderson no shopping, na tarde da luta. Ele estava no shopping! Ele falou que queria dar uma distraída. Eu estava dirigindo o Phantom, um carro de 1 milhão e tal, e perguntei: ‘E aí, Anderson. O que você acha da luta?’. Eu estava até um pouco tenso, mas tinha confiança nele. Ele falou: ‘Rodrigo, a luta não vai passar do primeiro round. Ele vai abrir o meio e eu tenho o golpe certo. Estou treinando o chute certo'”, recordou Rodrigo ‘Minotauro’.