Entrevistas
Demian analisa possibilidade de se aposentar e revela interesse em novos projetos
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por
Neri Fung, em Niterói (RJ)
Neste sábado (12), Demian Maia sobe novamente no octógono mais famoso do mundo, desta vez para encarar Belal Muhammad, pelo card principal do UFC 263, que acontece no Arizona (EUA). O confronto, 33º do faixa-preta em sua passagem pelo Ultimate, é também o último previsto no seu contrato atual e pode marcar sua despedida, tanto da organização como da carreira. Apesar de estar ciente que o fim se aproxima, o veterano ainda não tomou uma decisão, mas já se prepara para a vida fora do octógono.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight (veja acima ou clique aqui), Demian deixou em aberto a possibilidade de continuar em atividade após sua participação no UFC 263. De acordo com o lutador, tudo vai depender de seu desempenho no combate contra Muhammad, tendo em vista que, nos treinos, o faixa-preta considera que ainda se mantém competitivo contra a nova geração.
Por isso, o veterano confia na sua capacidade de seguir na ativa, caso seja do interesse de todas as partes, ainda que por um número pequeno de lutas. Por outro lado, Demian admite que, em caso de aposentadoria, conseguiria ter mais tempo para se dedicar a outros projetos, alguns deles já colocados em prática pelo lutador paulista.
“Vem muito do que você sente no treino. Se eu sentir no treino que eu não estou tendo uma boa performance, acho que com certeza é a hora de parar. No meu caso, o que me faz pensar em parar não é o fato de não ter performance, que eu tenho nos treinos. É o fato de querer fazer outras coisas que eu tenho vontade. Outros projetos que eu não consigo me dedicar integralmente por estar lutando no maior evento de MMA do mundo”, explicou Demian, antes de completar.
“Mas, com certeza, se eu tivesse visto que eu não estou com performance, eu já teria parado. Mas eu vejo que ainda estou. Vejo nas minhas lutas, vejo nos meus treinos. Isso que é o meu termômetro. (…) Eu não curtiria lutar sem performance. Para mim, o grande barato do esporte da luta é chegar lá podendo fazer frente com qualquer um, de qualquer nível. Se eu não tivesse isso, com certeza já teria parado”, afirmou.
Ainda dividido entre a paixão por atuar e as oportunidades da vida pós-luta, Demian já toca alguns projetos paralelos à carreira de atleta, ainda que estes sejam impactados, em alguns momentos, pelos treinos e preparações para competir. Além da ‘Escola Demian Maia de Jiu-Jitsu’ e dos requisitados seminários, o faixa-preta também tem se aventurado na área do entretenimento e da informação, ambas ligadas diretamente à sua formação universitária como jornalista.
Depois de se apresentar no primeiro evento do UFC sem a presença do público, em razão da pandemia de coronavírus, em março do ano passado, o veterano utilizou o tempo livre, sem lutas marcadas, para lançar seu próprio podcast e, recentemente, passou a contar a história do jiu-jitsu em vídeos compartilhados através de sua conta oficial no ‘Instagram’.
“Eu fiz isso muito como hobby nesse último ano, que foi bem atípico. Eu gosto de fazer as entrevistas. É muito legal produzir conteúdo, a parte de história é uma coisa que eu adoro. Já fiz algumas coisas para o Combate, está no UFCDocs.com.br, mas tenho um projeto também que, lógico a gente não pode falar ainda, para a TV. Acredito que vai dar certo. Tem os meus seminários também. Eu fico muito restrito em dar seminário só em certas fases do ano por causa de estar sempre tendo que estar preparado. Então, eu não posso marcar duas semanas de seminário, ou mesmo de gravação, como foi a gravar a Arqueologia da Luta, ficar duas semanas viajando na Grécia, no Egito, ou em seminário. Porque você pode estar prestes a marcar uma luta”, comentou Demian, antes de continuar.
“Então, isso tudo acaba sendo impeditivo. Minha própria escola de jiu-jitsu, que, por exemplo, nessas últimas semanas, eu não participei de nenhuma reunião com todos os colaboradores, com sócios, não dei a atenção que eu deveria dar, porque eu estou voltado para fazer uma luta. Isso tudo, é claro que eu amo o que eu faço, mas eu faço há muito tempo. Vai fazer 14 anos só no UFC, fora minha carreira no jiu-jitsu e meu começo em outras artes marciais quando eu era criança e adolescente. Então, às vezes, é só a vontade de mudar pelos outros desafios, mas ao mesmo tempo eu gosto muito do que eu faço”, concluiu.
Considerado por muitos como o principal representante do jiu-jitsu no MMA de sua geração, Demian Maia construiu uma longa carreira no MMA, que se estende desde o início dos anos 2000, grande parte dela feita dentro do octógono do Ultimate. Pelo UFC, o faixa-preta venceu 22 combates, alguns contra grandes nomes da modalidade, como Jorge Masvidal, Carlos Condit, Chael Sonnen, Ben Askren, entre outros.
Demian também teve a oportunidade de disputar um título do UFC em duas ocasiões. Na primeira delas, com o cinturão dos pesos-médios (84 kg) em jogo, o paulista foi superado pelo compatriota Anderson Silva, em 2010. Já em 2017, em combate válido pela soberania da divisão dos meio-médios (77 kg), Maia não conseguiu derrotar o então campeão Tyron Woodley.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.