Sean Strickland é, de forma inegável, um fenômeno de popularidade dentro do UFC atualmente. Ao mesmo tempo, o falastrão americano possui uma das histórias de vida mais delicadas e traumáticas da história do esporte – que explica, em partes, seu sucesso midiático. Com uma trajetória marcada por abuso infantil, adolescência neonazista e uma fase adulta ‘sem filtro’ em suas declarações, o atual dono do cinturão dos pesos-médios (84 kg) vai na contramão da maioria dos campeões, que alcançam os holofotes somente pelos seus méritos esportivos. Mas afinal de contas, quem é Sean Strickland?
Origem humilde e infância traumática
Nascido na Califórnia (EUA) no início dos anos 90, Strickland teve uma origem humilde, marcada por dificuldades financeiras. Mas a questão material foi o menor dos problemas do lutador durante sua infância. Afinal de contas, o americano era frequentemente vítima de seu próprio pai, alcoólatra, que abusava psicologicamente e fisicamente de sua esposa e filhos.
A situação recorrente alimentou uma raiva natural em Sean, que era apenas uma criança à época. Quando chegou em sua adolescência, o atual campeão até 84 kg do UFC passou a revidar as ações de seu pai, com o intuito de – sobretudo – defender sua mãe de agressões. As brigas se tornaram casos policiais em ao menos duas oportunidades naquele período.
Período sombrio influenciado por avô supremacista
Durante a adolescência, Strickland já admitiu ter vivido uma ‘fase’ neonazista. Os pensamentos preconceituosos, porém, vieram da proximidade do lutador com seu avô no período. Irritado com a situação familiar e sem uma figura paterna confiável, Sean buscou em seu avô tal alicerce.
Porém, sob a influência de seu familiar, abertamente racista, o então adolescente absorveu pensamentos e discursos preconceituosos, como o de supremacia racial – atitudes que lhe custaram, inclusive, uma expulsão escolar por conta de crime de ódio. Em entrevista ao ‘The Sun’, o campeão falou abertamente sobre o período nebuloso e, após abandonar tal tipo de postura, detonou seu avô: “um grande pedaço de m***”
Esportes de combate colocaram Sean nos trilhos
Após ver Strickland ser expulso da escola, sua mãe o matriculou em uma academia de esportes de combate. A atitude pode ter salvado a vida de seu filho, que entrou nos trilhos ao enxergar, através dos ensinamentos da luta, que “todos são iguais”. As artes marciais mistas também passaram a ser uma válvula de escape para Sean extravasar sua raiva interna e, de certa forma, se acalmar.
Início como lutador e chegada no UFC
Strickland estreou profissionalmente como lutador de MMA em 2008 e, após acumular 13 vitórias seguidas e despontar com invencibilidade, assinou com o UFC, em 2014. Dentro da principal organização do mundo, quando ainda competia como meio-médio (77 kg), o falastrão americano alternou triunfos e derrotas. A instabilidade ficou para trás quando ‘Tarzan’, como é conhecido, decidiu migrar para a divisão dos médios, onde atualmente reina soberano.
Ascensão esportiva e midiática
A partir de 2020, Strickland começou a se destacar dentro dos octógonos – foram cinco vitórias em seus cinco primeiros compromissos com 84 kg dentro do UFC. O desempenho esportivo se aliou ao ‘personagem’ com declarações e falas polêmicas e tornou, aos poucos, o americano uma figurinha cada vez mais carimbada no noticiário do ramo.
Postura à moda antiga recompensada com cinturão
Um verdadeiro funcionário do Ultimate e com o discurso de enfrentar quem quer que seja em qualquer circunstância, Strickland aumentou sua assiduidade na liga e, aos poucos, ganhou espaço no ranking dos médios. A chance de disputar o título veio após um período de quatro combates em apenas um ano. Franco azarão diante do então campeão Israel Adesanya, o americano chocou o mundo em uma das maiores zebras do MMA e conquistou o cinturão até 84 kg da liga, em setembro de 2023.
Casca grossa e vulnerável: figura popular de fácil conexão
Sem papas na língua, com opiniões polêmicas sobre os mais diversos e espinhosos assuntos, Strickland consegue atrair boa parte do público americano médio, que pensa como o campeão. Aficionado por armas, motocicletas e com falas consideradas conservadoras, Sean cativou rapidamente os fãs de seu país.
Mas ao mesmo tempo em que se mostra majoritariamente do tempo como um verdadeiro ‘casca grossa’, Strickland ‘quebra o personagem’ ao, por exemplo, chorar durante a participação em um podcast ao relembrar os traumas vividos no passado. Tal vulnerabilidade, aliada à personalidade forte do campeão, fizeram com que o falastrão estourasse a bolha e se tornasse um fenômeno mundial e um dos atletas mais populares do UFC.
Neste sábado (20), na luta principal do UFC 297, Strickland tenta realizar sua primeira defesa de título como campeão. O adversário da vez é Dricus du Plessis, com quem trocou farpas e, inclusive, chegou às vias de fato com uma briga antes mesmo do confronto oficial. Caso vença e se mantenha no posto de campeão, Sean tem tudo para ampliar ainda mais sua marca no mundo dos esportes de combate.