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Sean Strickland com o dedo em riste ao lado do cinturão na coletiva do UFC 297
O campeão até 84 kg do UFC divide opiniões por suas declarações polêmicas - Matt Davies/Ag Fight

UFC

Abuso infantil, avô supremacista e mais: quem é Strickland, o campeão ‘sem filtro’ do UFC

Sean Strickland é, de forma inegável, um fenômeno de popularidade dentro do UFC atualmente. Ao mesmo tempo, o falastrão americano possui uma das histórias de vida mais delicadas e traumáticas da história do esporte – que explica, em partes, seu sucesso midiático. Com uma trajetória marcada por abuso infantil, adolescência neonazista e uma fase adulta ‘sem filtro’ em suas declarações, o atual dono do cinturão dos pesos-médios (84 kg) vai na contramão da maioria dos campeões, que alcançam os holofotes somente pelos seus méritos esportivos. Mas afinal de contas, quem é Sean Strickland?

Origem humilde e infância traumática

Nascido na Califórnia (EUA) no início dos anos 90, Strickland teve uma origem humilde, marcada por dificuldades financeiras. Mas a questão material foi o menor dos problemas do lutador durante sua infância. Afinal de contas, o americano era frequentemente vítima de seu próprio pai, alcoólatra, que abusava psicologicamente e fisicamente de sua esposa e filhos.

A situação recorrente alimentou uma raiva natural em Sean, que era apenas uma criança à época. Quando chegou em sua adolescência, o atual campeão até 84 kg do UFC passou a revidar as ações de seu pai, com o intuito de – sobretudo – defender sua mãe de agressões. As brigas se tornaram casos policiais em ao menos duas oportunidades naquele período.

Período sombrio influenciado por avô supremacista

Durante a adolescência, Strickland já admitiu ter vivido uma ‘fase’ neonazista. Os pensamentos preconceituosos, porém, vieram da proximidade do lutador com seu avô no período. Irritado com a situação familiar e sem uma figura paterna confiável, Sean buscou em seu avô tal alicerce.

Porém, sob a influência de seu familiar, abertamente racista, o então adolescente absorveu pensamentos e discursos preconceituosos, como o de supremacia racial – atitudes que lhe custaram, inclusive, uma expulsão escolar por conta de crime de ódio. Em entrevista ao ‘The Sun’, o campeão falou abertamente sobre o período nebuloso e, após abandonar tal tipo de postura, detonou seu avô: “um grande pedaço de m***”

Esportes de combate colocaram Sean nos trilhos

Após ver Strickland ser expulso da escola, sua mãe o matriculou em uma academia de esportes de combate. A atitude pode ter salvado a vida de seu filho, que entrou nos trilhos ao enxergar, através dos ensinamentos da luta, que “todos são iguais”. As artes marciais mistas também passaram a ser uma válvula de escape para Sean extravasar sua raiva interna e, de certa forma, se acalmar.

Início como lutador e chegada no UFC

Strickland estreou profissionalmente como lutador de MMA em 2008 e, após acumular 13 vitórias seguidas e despontar com invencibilidade, assinou com o UFC, em 2014. Dentro da principal organização do mundo, quando ainda competia como meio-médio (77 kg), o falastrão americano alternou triunfos e derrotas. A instabilidade ficou para trás quando ‘Tarzan’, como é conhecido, decidiu migrar para a divisão dos médios, onde atualmente reina soberano.

Ascensão esportiva e midiática

A partir de 2020, Strickland começou a se destacar dentro dos octógonos – foram cinco vitórias em seus cinco primeiros compromissos com 84 kg dentro do UFC. O desempenho esportivo se aliou ao ‘personagem’ com declarações e falas polêmicas e tornou, aos poucos, o americano uma figurinha cada vez mais carimbada no noticiário do ramo.

Postura à moda antiga recompensada com cinturão

Um verdadeiro funcionário do Ultimate e com o discurso de enfrentar quem quer que seja em qualquer circunstância, Strickland aumentou sua assiduidade na liga e, aos poucos, ganhou espaço no ranking dos médios. A chance de disputar o título veio após um período de quatro combates em apenas um ano. Franco azarão diante do então campeão Israel Adesanya, o americano chocou o mundo em uma das maiores zebras do MMA e conquistou o cinturão até 84 kg da liga, em setembro de 2023.

Casca grossa e vulnerável: figura popular de fácil conexão

Sem papas na língua, com opiniões polêmicas sobre os mais diversos e espinhosos assuntos, Strickland consegue atrair boa parte do público americano médio, que pensa como o campeão. Aficionado por armas, motocicletas e com falas consideradas conservadoras, Sean cativou rapidamente os fãs de seu país.

Mas ao mesmo tempo em que se mostra majoritariamente do tempo como um verdadeiro ‘casca grossa’, Strickland ‘quebra o personagem’ ao, por exemplo, chorar durante a participação em um podcast ao relembrar os traumas vividos no passado. Tal vulnerabilidade, aliada à personalidade forte do campeão, fizeram com que o falastrão estourasse a bolha e se tornasse um fenômeno mundial e um dos atletas mais populares do UFC.

Neste sábado (20), na luta principal do UFC 297, Strickland tenta realizar sua primeira defesa de título como campeão. O adversário da vez é Dricus du Plessis, com quem trocou farpas e, inclusive, chegou às vias de fato com uma briga antes mesmo do confronto oficial. Caso vença e se mantenha no posto de campeão, Sean tem tudo para ampliar ainda mais sua marca no mundo dos esportes de combate.

Natural do Rio de Janeiro, Gaspar Bruno da Silveira estuda jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fascinado por esportes e com experiência prévia na área do futebol, começou a tomar gosto pelo MMA no final dos anos 2000.

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