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Kayla Harrison participa de coletiva para promover o UFC 300
A bicampeã olímpica foi alvo de uma pergunta de cunho sexual de um fã do UFC - Louis Grasse/Ag Fight

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Vítima de abuso, Kayla Harrison repreende pergunta inapropriada de fã no UFC; entenda

Uma situação bastante delicada foi presenciada na última sexta-feira (8) nas dependências do Ultimate, em Miami (EUA). Em uma dinâmica com os fãs, a fim de promover a edição centenária do UFC 300, Kayla Harrison, Alex Poatan e Arman Tsarukyan usaram o palco montado na pesagem do UFC 299 para interagirem com os torcedores presentes na arena. Um deles, porém, ultrapassou os limites ao usar o microfone da organização para realizar uma pergunta de cunho sexual envolvendo a bicampeã olímpica de judô – que posteriormente lamentou e repreendeu a atitude.

Recém-contratada pelo UFC, Kayla ficou de mãos atadas e não pôde reagir ao comentário inapropriado, uma vez que a pergunta foi feita em russo e direcionada a Tsarukyan, que é fluente na língua. O wrestler – que inclusive é companheiro de equipe da judoca na ‘American Top Team’ – foi questionado quantas vezes teria relação sexual com a americana (em tradução livre baseada em alguns sites especializados russos). Visivelmente incomodado, Arman titubeou, mas acabou respondendo à pergunta com um simples: “Algumas” (veja abaixo ou clique aqui).

A resposta arrancou risadas do fã em questão e atiçou a curiosidade da jornalista que mediava a dinâmica entre atletas e fãs. Ao questionar Arman sobre qual seria a tradução para a pergunta que acabara de receber, a apresentadora viu o lutador desconversar ao dizer: ‘É uma pergunta estúpida’. A resposta de Tsarukyan despertou uma gargalhada nos presentes no palco, inclusive em Kayla, que não fazia ideia de que havia acabado de ser alvo de um comentário, no mínimo inapropriado.

A bicampeã olímpica foi entender a situação no dia seguinte, quando inúmeros veículos de imprensa russos escreveram sobre o ocorrido, com traduções da pergunta na língua inglesa. Ao ter discernimento sobre o que ocorreu, Kayla, em recente participação no programa ‘The MMA Hour’, repreendeu veementemente a postura do fã e comparou o tratamento recebido nos esportes de combate entre competidores homens e mulheres.

Ele fez uma pergunta muito inapropriada sobre mim (…) É desanimador, é desrespeitoso. Sou bicampeã olímpica, campeã mundial, sou mãe, luto contra o abuso sexual, escrevi um livro, tenho uma fundação. Pensando nisso, foi desrespeitoso alguém sequer fazer essa pergunta. Mas mais do que isso, você nunca ouviria uma (lutadora) mulher ser questionada: ‘Quantas vezes você faria sexo com o Alex Pereira?’ Nós não sexualizamos homens assim. Foi bem desanimador, fiquei bem envergonhada e em choque no início”, relembrou a judoca.

Vítima de abuso infantil

Antes de se consagrar no judô como bicampeã olímpica em Londres, 2012, e Rio, 2016, Kayla passou por maus bocados na sua iniciação no esporte. Quando tinha apenas 13 anos de idade, a atleta foi molestada pelo seu primeiro técnico, Daniel Doyle, que foi preso. Atualmente, Harrison tem uma fundação que ajuda crianças e adolescentes e seus pais a lidarem com situações de abuso.

Confira o relato de Kayla na íntegra

“Houve uma sessão de perguntas e respostas com os fãs. Em determinado momento veio um fã falar com o Arman em russo. Arman estava sendo vaiado o tempo inteiro. Nós já conversamos sobre, estamos bem. Mas o cara basicamente perguntou a ele quantas vezes ele… Fez uma pergunta muito inapropriada sobre mim. E o Arman respondeu. E eu parecia uma idiota, estava lá no palco sorrindo. Aí a Megan perguntou: ‘Pode traduzir?’. Aí ele: ‘Não, é uma pergunta estúpida’. E no dia seguinte fui marcada em vários sites russos com a tradução do que ele perguntou. É desanimador, é desrespeitoso. Sou bicampeã olímpica, campeã mundial, sou mãe, luto contra o abuso sexual, escrevi um livro, tenho uma fundação. Pensando nisso, foi desrespeitoso alguém sequer fazer essa pergunta. Mas mais do que isso, você nunca ouviria uma (lutadora) mulher ser questionada: ‘Quantas vezes você faria sexo com o Alex Pereira?’ Nós não sexualizamos homens assim. Foi bem desanimador, fiquei bem envergonhada e em choque no início. Mas depois pensei: ‘Quer saber? F***. Vou continuar sendo eu e falar sobre isso quando chegar a hora porque acho errado’. Quero mudar a dinâmica do esporte não só por mim, mas pelas futuras lutadoras mulheres. Ainda por cima foi no Dia Internacional das Mulheres. Tipo, o que você está falando?”, relatou Kayla.

 

Natural do Rio de Janeiro, Gaspar Bruno da Silveira estuda jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fascinado por esportes e com experiência prévia na área do futebol, começou a tomar gosto pelo MMA no final dos anos 2000.

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