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Cristiano Marcello encontra no mountain bike sua nova paixão após deixar o MMA

Cristiano Marcello já participou de duas competições de mountain bike – Arquivo Pessoal

Após flertar com o retorno ao MMA, Cristiano Marcello parece ter encontrado um novo esporte para sentir novamente a adrenalina da competição. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, o ex-UFC revelou que – devido a falta de tempo graças aos compromissos de seus atletas da ‘CM System’ – os planos de abandonar a aposentadoria foram momentaneamente cancelados. Além disso, o veterano aproveitou para contar como iniciou sua história com a nova paixão: o ciclismo mountain bike, modalidade olímpica na qual o faixa-preta já participa de competições.

Os longos anos de competição nas artes marciais contribuíram para que Cristiano precisasse passar por cirurgia nos dois joelhos. De olho em uma atividade que não forçasse tanto suas articulações, o faixa-preta de jiu-jitsu optou pelo ciclismo, uma modalidade que sempre lhe agradou. O que ele não sabia é que uma simples ida à loja para comprar uma bicicleta lhe traria um técnico, Jackson Dobait, e uma nova paixão: o mountain bike. O espírito competitivo presente em toda sua vida se aflorou ao sentir novamente a adrenalina de treinamentos e evolução em um esporte até então desconhecido para ele. A rápida adaptação chamou a atenção de seus companheiros e até mesmo garantiu um patrocínio, tudo em apenas quatro meses de treinos.

“Operei os dois joelhos há um ano e estava procurando alguma coisa para fortalecer a perna e me dar condicionamento físico. Sempre gostei de andar de bike. Um dia, fui à uma loja comprar uma bicicleta e o vendedor, o Jackson Dobait, – que não me reconheceu como lutador, nem nada – falou para mim: ‘Você tem um biótipo de atleta’. Eu falei que queria o melhor custo benefício, porque eu pensava em andar normal de bicicleta. Aí ele disse: ‘Leva essa aqui senão você vai brigar comigo depois. E segunda-feira, se você tiver tempo, encontra comigo em frente à minha casa, que é um dos melhores lugares do Brasil para se andar de mountain bike’. A empatia foi na hora entre os dois, e eu fui. O sentimento que eu tive depois do treino – porque eu não posso falar que eu andei, eu treinei -, eu tomei uma surra, totalmente despreparado para o esporte. E, ainda sem falar nada que eu era atleta profissional, voltei no dia seguinte. Foi uma semana de sofrimento”, detalhou Cristiano Marcello, antes de completar.

“Aí na outra semana, eu fui na loja visitá-lo e chegou um fã de MMA e pediu para tirar uma foto comigo. Foi nesse momento que ele se tocou que eu era atleta profissional. Depois ele me apresentou a mais duas pessoas, o Cleverson Ferrugem e o Edpo Peruci, que são caras que já chegaram em pódios. O Jackson virou meu treinador, esses caras treinam com ele também, e eu comecei a me empolgar. Nisso, eu conheci a Cyntia (Duarte), que é uma ciclista de estrada, embaixadora do esporte aqui no Paraná, e ela me apresentou a Fiets, uma rede de lojas de bike que tem convênio com a Soul Cycles, que decidiu me patrocinar”, contou o líder da ‘CM System’.

Em sua última competição, Cristiano chegou em décimo sexto lugar – Arquivo Pessoal

Para alguém que viveu grande parte da sua vida se testando contra adversários nas artes marciais, a mudança de vida provocada pela aposentadoria pode incomodar. Afastado dos cages de MMA desde 2014, quando se aposentou pouco depois de perder para Joe Proctor no UFC, Cristiano encontrou no novo esporte a chance de voltar a competir. Empolgado, o carioca credita sua rápida evolução ao passado como lutador desde jovem, e projeta chegar ao pódio de algum campeonato em breve na sua categoria, dedicada aos atletas de 40 a 44 anos. Desde que, segundo o próprio, não haja conflito com sua agenda como treinador, como até o momento não houve.

“Já estou com uma bike top, de competição. Disputei a primeira competição em Santa Catarina, eu fiquei em décimo segundo entre 50 competidores, e 70 no geral. E a de ontem (domingo), a ‘Circuito Estações’, eu estava entre os dez primeiros, acabei tomando uma queda em uma curva, me ralei inteiro, levantei, caí mais uma vez, quando eu vi o pneu estava torto, eu fui e desentortei muito rápido, e acabei em décimo sexto na minha categoria. Então, eu estou vendo que o mosquito da competição me picou. Segundo o meu técnico e os atletas que andam comigo, eu estou fazendo coisas que demoraria alguns anos para aprender, além dos tempos alcançados. Então, eu acho que ainda esse ano eu consigo pegar um pódio. E está me suprindo, porque não é um esporte que está me atrapalhando, pelo contrário, está me deixando no físico, com aquele lance da competição na cabeça e eu consigo conciliar porque eu pratico antes do meu treino das dez da manhã. Lógico, não atrapalhando a minha agenda com o MMA, que é a minha paixão eterna, e com o meu trabalho, eu vou estar nas competições”, revelou Cristiano, antes de continuar.

“É um esporte que eu estou levando a sério, apesar de estar apenas a quatro meses nele. A categoria que eu estou é de 40 a 44 anos, que é a ‘esporte’. Em média dá de 28 a 35 quilômetros. Tem a ‘pró’, que quem sabe futuramente eu vá para ela, mas eu estou engatinhando, estou respeitando o esporte. Mas o que eu estou fazendo em tão pouco tempo de treinos é para se prestar atenção. Minha meta agora é chegar no pódio. Depois eu vou ver, quem sabe um Pan Americano. O legal é que eu estou usando toda a minha tarimba de competidor desde criança para o mountain bike, por isso que talvez minha evolução tenha sido tão rápida. Ainda caí nas mãos de uns caras que são cobra dentro do esporte, de ter um técnico bom como o Jackson, isso está me direcionando muito bem”, ressaltou.

Com o adicional da nova paixão às suas responsabilidades como líder da academia ‘CM System’, Cristiano se viu obrigado a cancelar os planos de abandonar a aposentadoria do MMA. Com contrato de três lutas assinado com o Brave FC, o ex-UFC não descarta uma possível volta no futuro, mas, aos 42 anos e consolidado financeiramente, admite que seria egoísmo de sua parte focar neste projeto e deixar de lado seus atletas. Com diversos lutadores em eventos importantes, nacionais e internacionais, e alguns deles campeões em suas respectivas categorias, o carioca pretende seguir dando prioridade ao direcionamento da carreira de seus pupilos, como, por exemplo, Elizeu Capoeira, meio-médio do Ultimate.

“Não estou tendo tempo para me dedicar a voltar a lutar. Eu me mantenho sempre treinando, sou atleta desde que me entendo por gente, mas eu não estou tendo tempo para me dedicar de verdade. E seria muito egoísmo meu, eu voltar a treinar porque teria que me dedicar a mim. Então eu iria parar toda a CM System para isso, seria egoísmo deixar isso acontecer. Não está descartada uma volta. Eu tenho três lutas assinadas no Brave. É um evento que eu me sinto em casa, tenho muitos atletas dentro, é um evento que eu gosto muito e que sabe tratar bem os atletas. Então, se tiver que voltar, com certeza será lá porque eu tenho essas três lutas no contrato. Graças a Deus não é pela questão financeira, vontade eu tenho, mas me falta o tempo devido a minha seriedade como técnico e o meu comprometimento com a CM System”, concluiu Cristiano Marcello.

Durante sua carreira no MMA profissional, que começou em 1998, Cristiano somou 13 vitórias e seis reveses. Além de sua passagem pelo UFC, precedida por sua participação no reality show ‘The Ultimate Fighter’, o faixa-preta também competiu no extinto Pride, evento japonês de enorme popularidade entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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