Na última sexta-feira (17), Claudia Gadelha surpreendeu parte da comunidade do MMA. Inicialmente, a brasileira foi retirada do ranking do peso-palha (52 kg) do UFC e, na sequência, a ex-desafiante ao título da categoria anunciou sua aposentadoria do esporte, aos 33 anos. No sábado (18), a veterana utilizou suas redes sociais (veja abaixo ou clique aqui) para explicar sua decisão.
Em um longo posicionamento, no qual dá sua versão em inglês e português, Gadelha revelou que o principal motivo que a levou a se afastar do MMA foi a concussão que sofreu após o revés diante de Yan Xiaonan, em luta realizada em novembro de 2020. Inclusive, essa foi sua última aparição no UFC. A brasileira informou que fez de tudo para voltar a atuar no octógono, porém admitiu que ficou traumatizada com a experiência e frisou que o episódio, aos poucos, a distanciou do esporte.
No entanto, se engana quem pensa que Gadelha está triste pela decisão tomada. Tanto que a brasileira deixa claro que a aposentadoria preservou sua saúde. Agora, a ex-lutadora, que vive nos Estados Unidos, foca em seu trabalho junto ao UFC para auxiliar os atletas do Brasil a se ambientar ao país. Animada com seu futuro nos campos da nutrição e saúde, a profissional garante que, ao contrário de parte dos veteranos que para e volta a lutar, sua decisão é definitiva, já que não depende apenas dos esportes de combate para se sustentar.
“Não quero que ninguém pense que estou triste, porque estou muito feliz com o que está acontecendo na minha vida agora. Em novembro de 2020, depois de uma luta, tive uma concussão muito forte e tive uma síndrome pós-concussão, que são sintomas de uma concussão por um longo período de tempo. Sofri com os sintomas por um tempo. Foi muito frustrante, porque minhas dores de cabeça eram como uma faca apunhalando minha nuca. Eu estava com muita náusea, quase vomitando, me sentia muito mal. Eu não conseguia nem dar uma caminhada, não conseguia treinar, era muito frustrante. Tive que correr duas vezes para o hospital no início da minha concussão. Acabei duas vezes no pronto-socorro, estou aqui em Las Vegas, sozinha, e minha família no Brasil. Foi durante a COVID, então não pude voar para o Brasil para ficar com minha família, porque era no começo da concussão, não pude voar e meus pais não puderam vir por causa da COVID. Tive que passar muito tempo sozinha durante a concussão e isso foi muito frustrante. Com isso dito, comecei a pensar em não lutar mais. Tinha muitos sentimentos de que voltaria a lutar, de que venceria este momento na minha vida, mas, outras vezes, apenas sentia que não deveria lutar mais, porque tive tantas oportunidades na vida. Demorei um pouco, voltei para a academia e tentei treinar, mas comecei a levar pancadas na cabeça, a ter ansiedade e medo de voltar a trabalhar onde estava no início do concussão”, declarou a brasileira, antes de completar.
“Fiz muitos tratamentos cerebrais para ficar saudável, mas estava com muito medo de voltar ao que era. Então, muitas outras oportunidades apareceram em minha vida. Vou continuar a comer como uma atleta, treinar como uma atleta e me sentir como uma atleta porque isso é o que sou. Isso nunca vai mudar em mim. Vocês não vão me ver ganhando peso, parando de treinar ou coisas assim. Vou continuar a treinar e a fazer as coisas que amo. Decidi me aposentar alguns meses atrás. Tive um pequeno flashback há alguns meses, a sensação de que voltaria a lutar, mas simplesmente não estava mais lá. Quantos lutadores realmente continuam a lutar e fazem mais cinco, dez lutas quando sabem que já acabou? Não quero ser um desses lutadores. Eu simplesmente não sinto que pertenço mais a esse lugar. Lutar não é confortável e não me sinto bem no octógono. Não me sinto mais feliz lá. Hoje, o que me deixa mais feliz é ajudar os talentos mais jovens do que eu pisando lá, lutando. Sinto que conquistei muitas coisas na minha vida pela luta. É muito emocionante para mim passar por essa transição. Fui uma atleta por quase 20 anos e agora vou apenas fazer outras coisas. Está tudo bem, é apenas um pouco difícil de processar, porque é isso que fiz durante toda a vida. Não estou triste, estou muito feliz por poder ajudar outras pessoas. Não quero que vocês pensem que estou triste, porque estou me aposentando. Foi um longo processo. Tive que pensar, falar e passar por várias coisas para decidir qual era a melhor decisão para tomar e é isso. Não serei um daqueles lutadores que se aposenta e volta ao esporte. Vocês nunca vão me ver no octógono novamente”, concluiu.
Claudia Gadelha, de 33 anos, iniciou sua trajetória no MMA em 2008, estreou no UFC em 2014 e se aposentou do esporte em 2021. Em sua carreira, a brasileira realizou 23 lutas, venceu 18 e perdeu cinco vezes. A veterana chegou a disputar o título do peso-palha da organização e seus triunfos mais importantes foram sobre Angela Hill, Carla Esparza, Jessica Aguilar, Karolina Kowalkiewicz, Randa Markos e Valérie Létourneau.
