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Entrevistas

Técnico explica início instável de Amanda, cita amadurecimento e prevê longo reinado

Após dar seus primeiros passos no MMA no Brasil, com cinco vitórias e apenas uma derrota, Amanda Nunes almejava voos maiores em sua carreira. E para isso, seu foco era ir para os Estados Unidos e ganhar mais espaço em eventos de maior porte. Em 2011, a brasileira conseguiu a grande oportunidade, quando atuou no extinto Strikeforce e venceu Julia Budd em apenas 14 segundos de confronto. Mas até chegar nesse momento, a atual campeã peso-galo (61 kg) e peso-pena (66 kg) do UFC, que neste sábado (6) defende o título da divisão mais pesada diante de Felicia Spencer, teve uma ajuda fundamental: Edson Carvalho, irmão de Ricardo – quem abriu as portas da atleta para as artes marciais em Salvador (BA).

Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag.Fight, Edson relembrou como foi o processo para Amanda Nunes chegar aos Estados Unidos e ter essa oportunidade no grande evento feminino de MMA da época. Segundo o treinador, a baiana sempre teve interesse em crescer como lutadora e, por isso, eram rotineiros os pedidos para que ele a levasse para o país norte-americano, onde já vivia. Atento ao seu talento, o líder da academia realizou o desejo da jovem, que já mirava o topo da modalidade.

“Eu viajava muito para Salvador e sempre que chegava lá, ela e alguns outros perguntavam quando eu ia levá-los. Porque eu já tinha levado outras pessoas, mas tinha sempre o problema do visto, a dificuldade era grande. Mas até que consegui umas milhas e paguei a passagem para trazê-la. Ela veio disputar um campeonato de jiu-jitsu e colocar o pé aqui mesmo. Chegando aqui, eu tinha muita conexão com promotores de evento de Vale-Tudo e o Strikeforce na época era o único que valorizava as lutas femininas. Sempre via potencial nela, arrasava nos treinos, tinha muita fome. Desde aquela época ela queria lutar com a (Cris) ‘Cyborg’, que era a grande estrela. Coloquei um aluno meu para gerenciar isso, passei as conexões. Daí conseguimos colocá-la no Strikeforce (onde Amanda atuou em 2011, com duas lutas – uma vitória e uma derrota)”, contou.

Mas apesar do talento e da força de vontade, chegar a uma grande organização também gerava mais responsabilidadea, além de exigir cabeça no lugar para se manter em alto rendimento contra as melhores do mundo. Na estreia, Amanda não tomou conhecimento de Julia Budd, mas de acordo com Edson, a maneira como ela venceu teve seu lado positivo e negativo. Com os holofotes da grande mídia ao seu redor, a atual campeã do UFC se perdeu. De olho no rumo em que sua pupila estava caminhando, o treinador fez questão de recorrer ao seu irmão para colocá-la de volta aos trilhos, e com isso, abriu outra porta para a atleta: a equipe ‘MMA Masters’, na qual ficou de 2011 até 2014, antes de migrar para a American Top Team, seu atual time.

“Quando ela finalizou a Julia Budd foi uma coisa boa, mas ruim ao mesmo tempo. Boa porque apareceu na TV e subiu muito e ruim, porque ela explodiu com muita velocidade e esse cara (seu ex-aluno) que estava ajudando, se atrapalhou, subiu a cabeça. Ele botou muita coisa ruim na cabeça dela. Foi uma explosão muito rápida. Depois falei com o Sensei Ricardo, que era como um pai para ela, fez o que fez por ela e botava para treinar duro, e pedi para ele pegá-la de volta. Ela ficou na Bahia um tempo, depois foi procurar o César e o Daniel Valverde, da ‘MMA Masters’. O César foi meu aluno e me ligou, não queria me atrapalhar. Mas falei para ele treinar ela, mas com rédia curta, porque ela tem potencial, mas tem que ser guiada”, explicou Edson.

Após seguir com a ‘MMA Masters’, Amanda sabia que precisava voltar a manter contato com Edson, seu mentor para a chegada ao grande mercado do MMA feminino. Por isso, decidiu procurá-lo passando uma borracha em possíveis desavenças do passado. Com o contato mantido novamente, anos depois, Carvalho viu a lutadora realizar seu antigo sonho, aquele que mencionou ainda no início de sua carreira: enfrentar Cris ‘Cyborg’. Em dezembro de 2018, a baiana nocauteou a até então campeã do peso-pena e conquistou o cinturão. Para o treinador, a conclusão da sua meta era apenas questão de tempo.

“Ela (Cris ‘Cyborg’) era a lutadora mais famosa, assim como deve ter jovens hoje que nem conhecemos e estão começando, que devem olhar a Amanda e querer vencê-la. Assim era ela naquela época. Ela ainda não existia, não tinha tanta oportunidade e a ‘Cyborg’ era famosa, por isso olhava para o topo. O que sempre apreciei nela era a firmeza de querer chegar lá. Ela ainda tinha muito o que percorrer, mas ela queria chegar. Mas ela tinha que ser testada, colocar no fogo. Só assim para ver se aguenta”, disse.

Com o título do peso-pena, Amanda somou esse cinturão ao do peso-galo, conquistado em 2016, e se tornou a primeira mulher a ter dois cintos, simultanemanete, no UFC. Dessa maneira, a baiana já começava a ser apontada como a ‘GOAT’ (sigla em inglês de melhor de todos os tempos) do MMA feminino.

“Os fatos provam isso. Se ela vai se manter, não posso dizer, mas espero que sim. Desejo que ela continue assim, porque tem muito potencial e ainda é nova. Ela tem a malícia, aquela capacidade de ver a luta. Na luta com a ‘Cyborg’ eu percebi que ela ia ganhar no início, quando abaixou a cabeça, quietinha e falei: ‘Ih rapaz, ali tem fome’. A mesma coisa com a Ronda. Na época a gente se falou e eu mandei ela ir para cima, que a outra estava sem confiança e bater no início. E ela já estava pensando nisso. Essa experiência é algo que o lutador precisa ter vivência para chegar, desde que mantenha a humildade”, completou.

Amanda Nunes não sabe o que é derrota desde 2014 e acumula dez vitórias seguidas no Ultimate. A última delas aconteceu em dezembro de 2019, quando derrotou Germaine De Randamie, por decisão dos jurados, e manteve o título dos galos. Agora nos penas, a brasileira não atua desde 2018, quando superou Cris ‘Cyborg’. Caso mantenha sua coroa, a baiana será a primeira lutadora da história a defender dois títulos na organização.

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