Entrevistas
Raush celebra título do PFL, exalta trajetória e revela planos para prêmio de R$ 5,6 milhões
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por
Neri Fung, em Niterói (RJ)
Das dificuldades financeiras encontradas ao se estabelecer nos Estados Unidos ao prêmio de um milhão de dólares (cerca de R$ 5,6 milhões), do hiato de quase três anos sem competir às quatro lutas disputadas neste ano, da vaga como suplente no torneio peso-leve (70 kg) de um dos principais eventos de MMA do mundo ao título da temporada. Este foi o caminho percorrido pelo brasileiro Raush Manfio, que se sagrou campeão de 2021 da divisão até 70 kg do PFL (Professional Fighters League) na última quarta-feira (27), na Flórida (EUA).
Além da consagração esportiva por ter vencido o disputado torneio, tendo superado pelo caminho alguns dos favoritos ao título, como o ex-campeão peso-leve do UFC Anthony Pettis, a conquista do cinturão do PFL – que rendeu ao brasileiro, assim como aos demais vencedores da temporada, uma premiação milionária – traz a Raush a estabilidade financeira que permitirá com que o atleta da equipe ‘American Top Team’ possa tocar sua carreira profissional e consequentemente sua vida pessoal, com tranquilidade, algo que era perseguido pelo gaúcho há tempos.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, Raush comemorou a conquista e exaltou a trajetória percorrida por ele até o cinturão. O lutador gaúcho, que, há cerca de seis anos, optou por morar nos Estados Unidos – onde devido às dificuldades financeiras chegou a ter que conciliar os treinos com trabalhos de segurança e faxineiro -, se emocionou ao relembrar os momentos complicados e destacou as portas que se abrem através de sua conquista, tanto na carreira como na vida pessoal.
“É a realização de um sonho. Primeiro pelo cinturão e depois pelo milhão (de dólares). Cheguei no Rio de Janeiro para ser um profissional aos 19 anos de idade e agora com 29 – uma semana antes de completar 30 anos – Deus me dá essa benção. Eu estou muito feliz, muito honrado. Feliz por poder colocar o nome da American Top Team no topo, eu acho de suma importância agradecer aos meus treinadores. Agora eu estou com dois cinturões. O do PFL é muito mais bonito e pesado (risos)”, celebrou Raush, citando sua conquista anterior em solo norte-americano, no evento ‘Titan FC’, antes de comentar sobre a expectativa para as mudanças que o título proporcionará em sua vida a partir de agora.
“Na minha vida profissional, essa conquista muda tudo. Eu nunca mais vou ter problema para arranjar luta. Fiquei três anos sem lutar porque a galera não queria lutar comigo. Agora todo mundo quer lutar comigo. E, como o salário agora é outro, eu não vou ter mais problema financeiro, tudo melhora. Eu até me emociono ao falar sobre isso, porque eu passei muita coisa nesses seis anos de América que eu não tinha passado no Brasil. Deus foi me preparando, foi moldando meu caráter, para me fazer amadurecer como homem. Me tornei um pai de família, eu provi para minha família antes de ter dinheiro como lutador, tive que trabalhar, fiz faxina. E hoje eu olho para trás e fico orgulhoso. É um processo, ninguém escapa do processo”, recordou Manfio.
Consciente da oportunidade de mudança de vida que o valor acrescido em sua conta bancária como premiação pela conquista pode trazer, o peso-leve já tem traçada uma estratégia para buscar um ganho ainda maior. De acordo com Raush, a ideia é utilizar parte do dinheiro para investir no negócio de sua família, tocado por seu pai no Brasil, fazendo, assim, com que a produção e, consequentemente, o lucro cresçam.
Empolgado, o lutador pretende utilizar a premiação de um milhão de dólares pelo título do PFL de forma consciente, ainda que rechace o perfil de investidor cauteloso. A única extravagância, por assim dizer, que Raush se dará ao luxo, ao menos neste primeiro momento, é a compra de um ‘Kia Stinger’, carro com o qual já sonha há tempos.
“Eu vou investir para fazer esse dinheiro trabalhar para mim. Graças a Deus, a minha família já tem negócios no Brasil. Meu pai trabalha com cutelaria. Então, eu quero comprar algumas máquinas, algo para aumentar a produção lá. Nada mirabolante, tampouco conservador demais, como deixar o dinheiro render. Não é o meu perfil. Eu sou mais ativo com essa questão financeira. Mas eu estou muito bem assessorado. Creio que nossa família tem um negócio que pode crescer muito. Então, eu vou deixar as coisas em família. E comprar um carro novo para mim. Isso eu não abro mão (risos)”, contou o novo milionário do MMA.
Além da questão financeira, a conquista do título da temporada 2021 do torneio de leves do PFL, especialmente tendo acumulado vitórias sobre rivais renomados como Anthony Pettis, colocou definitivamente o nome de Raush Manfio no mapa do MMA mundial. Em alta, o brasileiro poderia ser alvo de propostas de outras grandes organizações do esporte, como o UFC, amplamente visto como o maior evento de artes marciais mistas do planeta na atualidade. Mas, ao que tudo indica, o futuro do gaúcho deve ser no PFL.
Segundo o membro da ‘ATT’, como campeão do torneio dos leves, seu contrato com o PFL é de exclusividade com a liga e, portanto, não o permitiria se transferir para outra organização. O acordo, inclusive, já teria sido atualizado em termos salariais, fato comemorado pelo gaúcho. Além disso, Raush ressaltou que existem outros diferenciais que o fazem optar pela sua continuidade na companhia, ainda que estivesse livre para negociar com outras entidades, como a liberdade que os lutadores possuem em relação aos patrocínios pessoais e o calendário divulgado com antecedência, que permite que os atletas se programem de forma mais adequada.
“Penso em continuar no PFL. Primeiro porque eu tenho exclusividade como campeão do evento e, ainda que eu não tivesse essa exclusividade, eu gostaria de continuar com eles. Mesmo que mandassem propostas para o próximo ano, eu não poderia aceitar. Em compensação, eles me deram um reajuste salarial excelente, não tenho nada a reclamar (risos). Estou muito feliz no PFL. Eu acho que o PFL é o show do futuro. Eu sei exatamente os dias que faltam para eu lutar no ano que vem, se a temporada for começar em abril, como eles falaram. Então, eu tenho tempo para tirar férias, tenho tempo para voltar a treinar, para tratar as pequenas lesões e voltar um atleta muito melhor em 2022. Isso que eu estava procurando. E nenhum outro show no mundo te dá isso. Você tem que estar sempre pronto. E você nunca descansa direito. No PFL eu posso”, explicou Raush, antes de continuar a listar os benefícios de ser um atleta do PFL.
“A permissão que eles me dão de ter patrocinadores abre um leque de trabalho enorme fora das lutas. Por exemplo, agora eu posso palestrar na empresa que está me patrocinando, para motivar os vendedores da empresa, contar a minha história. Isso para mim é muito importante. Eu tenho noção que a carreira de lutador é muito curta. Eu vou fazer 30 anos. A minha carreira vai durar mais quanto? Cinco, seis, sete, oito, nove anos? Não sei. Deus sabe. Mas palestrar eu posso até os 80, né? (risos) Então eu tenho essa noção. Quero aprender a me expressar melhor, poder dividir com as pessoas essa experiência que a luta nos dá, experiência de ser um vitorioso e acho isso muito importante. O PFL possibilita isso”, concluiu.
Após deixar o ‘Titan FC’, em 2018, Raush Manfio teve dificuldades para encontrar oponentes dispostos a enfrentá-lo e oportunidades para lutar, passando, assim, um longo período sem competir, no qual precisou trabalhar em outras profissões para sustentar sua família nos Estados Unidos. Neste ano, quando, inclusive, já pensava em abandonar a carreira, encontrou um lar no PFL, onde chegou como suplente e terminou a temporada como campeão do torneio peso-leve, levando para casa, além do cinturão, um milhão de dólares.
Para chegar ao título do PFL, o gaúcho precisou superar quatro adversários em pouco mais de seis meses. Nos dois primeiros combates, válidos pela fase de classificação, Raush passou por Joilton Lutterbach e Anthony Pettis, respectivamente, ambos na decisão dos juízes. Já nos playoffs, o atleta da ‘American Top Team’ despachou, por pontos novamente, Clay Collard na semifinal e Loik Radzhabov na grande final do torneio, esta disputada na última quarta-feira, na Flórida.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.