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Entrevistas

Norma Dumont revela mudanças para descer de categoria no UFC

Com a aposentadoria da agora ex-campeã Amanda Nunes, o peso-pena (66 kg) parece destinado à extinção no UFC. Ciente da situação, Norma Dumont – uma das poucas atletas do plantel a competir com frequência na divisão até 66 kg – decidiu descer definitivamente para o peso-galo (61 kg), onde apesar de pouco atuar ocupa a 11ª posição no ranking. E para ter sucesso na empreitada, a mineira empregou algumas mudanças significativas na sua rotina de atleta profissional.

Dona de uma genética privilegiada, Norma sempre ostentou um físico acima da média para as mulheres, sob o ponto de vista muscular. A grande quantidade de massa magra, ainda que em um corpo com baixo percentual de gordura, fez com que a lutadora tivesse problemas em alguns cortes de peso, principalmente nas suas tentativas de descer para a divisão até 61 kg do Ultimate.

Sendo assim, a brasileira decidiu promover algumas mudanças importantes visando a descida de categoria. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight (clique aqui), Norma revelou que, de olho em um corte de peso saudável, optou por diminuir a carga dos treinamentos de musculação e, com isso, abriu mão de parte da massa magra que possuía, que era considerada excessiva pelos especialistas para uma atleta da divisão dos galos.

“Quando começaram os rumores de que a divisão (até 66 kg) poderia fechar, a gente começou a fazer um trabalho para voltar, descendo a massa magra principalmente. A gordura também, lógico, ainda tem gordura para tirar – a gente vai bater esse peso atualmente só com gordura e água na reta final. Mas 1,5 kg de massa que a gente tinha acima, a gente cortou já nesses últimos três anos de UFC”, explicou Norma, antes de continuar.

“Tanto que nas duas últimas lutas eu bati o peso muito tranquila. Eu desidratei 1,5 kg a 2 kg só. E fiz dieta restrita mesmo basicamente só nas duas últimas semanas. Porque a gente já vem mudando os treinos – evitando treino de força máxima, fazendo treino mais voltado para VO2, mais cardio. Então, eu comecei a ficar mais magra porque a gente já sabia da possibilidade do fechamento da divisão”, contou.

Aprendizado no PI

A tentativa de mudar para o peso-galo, uma categoria com muito mais oportunidades de enfrentamentos, dado à maior quantidade de atletas, vem de longa data, antes mesmo da então campeã das divisões até 61 e 66 kg, Amanda Nunes, se aposentar – o que praticamente decretou a extinção dos penas. Porém, no passado, mesmo com o auxílio de profissionais renomados do UFC PI (Instituto de Performance do Ultimate), Norma encontrou dificuldades no corte de peso.

Da experiência com o PI, no entanto, a lutadora e Johnny Vieira – seu marido e treinador – tiraram boas lições, como o aumento de atividades buscando o volume máximo de oxigênio que o corpo consome durante o exercício físico (VO2), que aumenta o condicionamento do atleta, e a adequação de uma dieta mais restritiva, a fim de diminuir o peso, mesmo em off, da mineira.

“Existe adaptação da dieta e corte de peso. Antes eu cortava muito peso, já era natural meu cortar 6, 7 kg. Quando a gente começou com o PI, a gente tentou os métodos deles, e não foi muito bom para mim, porque até o 66 eu estava batendo com dificuldade usando o método do PI. Não quer dizer que está certo ou errado, quer dizer que para mim não deu muito certo. A própria dieta do PI não foi muito boa para mim. Era muita comida comparado com o que eu como hoje. Hoje eu como bem, mas eu diminui quase pela metade a quantidade de carboidrato que o PI me dava”, recordou Norma, antes de completar.

“Mas a gente trouxe as coisas positivas: o VO2, que me ajudou muito, e alguns conselhos como, por exemplo, mudar o treino de força máxima, evitar. Porque o meu tipo de fibra muscular já é de força, e eu estimulava mais ainda, carregava muitos pesos. A gente viu isso até com o Michel Pereira, carregava muito peso. A tendência é o cara ficar maior, mais forte e começa a ficar difícil o corte de peso. Mudar um pouco esse estímulo me deixou mais rápida, mais leve e, obviamente, na força máxima eu devo ter caído uns 10 a 15%. Mas eu ganhei em velocidade, em recuperação da musculatura e em peso corporal, que ficou mais leve”, afirmou.

As mudanças implementadas na sua rotina, de acordo com a atleta, já fizeram resultado. Mais leve, Norma acredita que terá um processo de corte de peso para a divisão dos galos mais saudável do que na sua primeira tentativa, há cerca de três anos, quando falhou na balança antes do confronto contra Ashlee Evans-Smith.

“Eu estou muito esperançosa de bater o peso saudável, igual eu fiz no 66 (nas últimas lutas). A meta que o Johnny fez é para que a gente corte só 3 kg, que eu não desidrate mais que isso. Estou bem empolgada. Acho que vou chegar bem, seca e forte para a divisão. Estou bem mais leve (no off). Antes eu ficava com 75, 76 se eu relaxasse muito. Hoje, por exemplo, eu voltei de férias com 73, com uma semana e meia treinando meu peso já voltou para 70,5 kg. Nossa meta é tirar mais 1 kg nesse mês de outubro, mais 2 em novembro, mais 2 em dezembro e deixar só o restinho para o final”, comentou Norma.

Mudanças à prova e esperança de mais lutas

A lutadora brasileira terá a oportunidade de colocar à prova as mudanças feitas por ela já no primeiro evento do UFC na temporada 2024. Escalada para subir no octógono no dia 13 de janeiro, diante da russa Yana Santos, esposa de Thiago Marreta, Norma Dumont dará início à sua trajetória no peso-galo definitivamente. Caso seja bem-sucedida, a mineira já vislumbra, inclusive, um aumento na frequência de lutas, tendo em vista que a categoria até 61 kg possui mais opções de rivais.

“Não (me obriga a lutar menos). Vou fazer três lutas (por ano). Eu falei: ‘Estou sofrendo esse tempo todo, esses últimos dois anos vivendo com tudo restrito. Até o off é restrito’. Para fazer o que aconteceu agora, meu peso estabilizar. Meu peso em off estável está em 71 (kg). Já desci porque (antes) ficava em 75 (kg). Essa mudança é exatamente para que eu consiga ter cortes de peso saudáveis. A minha esperança no 61 é que eu consiga definitivamente fazer três lutas por ano. Porque no 66 eu nunca consegui, e nunca foi por falta de pedir luta”, concluiu.

Aos 33 anos de idade, Norma Dumont soma dez vitórias e apenas duas derrotas em sua carreira no MMA profissional. Pelo UFC, a atleta mineira venceu seis de suas oito lutas, os três últimos triunfos de forma consecutiva.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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