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Miesha Tate venceu Julia Avila no UFC
Mãe de dois filhos, a americana destrinchou os desafios de conciliar as duas rotinas simultaneamente - Louis Grasse/PxImages

Entrevistas

Maternidade, ciclo hormonal e mais! Ex-campeã do UFC explica desafios das mulheres no MMA

Historicamente, as mulheres precisaram lutar pelos seus direitos e buscar igualdade. E no mundo dos esportes não é diferente. Nas artes marciais mistas, por exemplo, uma modalidade inicialmente atrelada aos homens, a presença feminina só passou a se fazer valer de forma significativa no início dos anos 2000. No UFC, principal liga do mundo, as lutadoras só foram liberadas para competirem em 2013. O direito e acesso restrito, porém, foi apenas o primeiro desafio a ser superado pela classe. Uma vez inseridas no ramo do MMA como estão atualmente, as mulheres ainda precisam lidar com inúmeros problemas e responsabilidades extras que atletas masculinos não possuem na rotina. E quem garante isso é Miesha Tate, ex-campeã peso-galo (61 kg) do Ultimate e uma das pioneiras desta bandeira.

Em entrevista exclusiva à equipe de reportagem da Ag Fight, a americana de 38 anos destrinchou a maneira que fatores como maternidade e ciclo hormonal impactam diretamente na carreira esportiva das mulheres mundo afora. Mãe de dois filhos, Tate, inclusive, não compete no UFC desde dezembro de 2023. Neste sábado (3), no card de Des Moines, ‘Cupacke’, como é conhecida, volta à ação contra Yana Santos. E um dos motivos que Miesha citou para justificar o longo hiato dos octógonos foi justamente suas responsabilidades no lar.

“Acho que foi apenas a vida agindo (que me afastou por tanto tempo). As coisas não saíram da forma que esperava. Queria muito lutar rápido após a minha luta em Austin. Tentei voltar aos treinos e tive que lidar com algumas lesões. Também sou mãe de dois filhos, que em breve farão 5 e 7 anos. Então toda vez que faço um camp de treinos, a família toda tem que se sacrificar. Não passo o tempo que gostaria com meu noivo e meus filhos. Então essas coisas atrasaram um pouco a data do meu retorno”, admitiu Miesha.

Exemplo para os filhos

Apesar de definir sua família e, sobretudo, seus filhos como prioridade, Tate ainda possui a paixão pelos esportes de combate acesa em si, mesmo já em reta final de carreira. Para ela, inclusive, competir no UFC em meio a tantas adversidades e desafios é um exemplo de vida para seus filhos. Nas redes sociais (veja abaixo ou clique aqui), a veterana frequentemente satiriza essa dualidade de rotinas com as quais lida diariamente: a calmaria do lar e a agressividade de uma lutadora do mais alto rendimento.

É muito desafiador (conciliar rotina de lutadora de mãe). E, em partes, explica o hiato mais longo do que eu gostaria. Porque eu nunca tive um emprego tão importante como ser mãe, levo isso muito a sério. Amo muito meus filhos, então sempre tento priorizar eles. Mas ainda amo muito lutar. E acho que para mim, me priorizar algumas vezes é incrível, porque mostra para os meus filhos que está tudo bem perseguir seus sonhos, suas paixões. Ir atrás das coisas pelas quais você é ambicioso, coisas que te fazem sentir vivo”, ponderou a americana.

Treinar como uma mulher

Profissional desde 2007 e prestes a disputar sua trigésima luta no MMA, Tate implementou uma mudança drástica em sua carreira nos últimos anos: treinar como uma mulher. A frase, mesmo que simples e aparentemente óbvia, pode representar um divisor de águas para a forma como se enxerga o MMA feminino. Na visão da ex-campeã, o simples fato das lutadoras terem demandas biológicas distintas dos homens – como os ciclos hormonais -, já tornam explícita a necessidade de uma preparação de treinos personalizada para a classe.

“Essa é mais uma chance de eu mostrar que sou melhor do que já fui, que a Miesha de 38 anos é melhor que a Miesha de 28. Minha mente é minha arma mais afiada. E o corpo segue a mente. Aprendo muito com essa longevidade. E uma das principais conclusões é não treinar mais como um homem, porque não sou um. Homens têm um ciclo hormonal de 24 horas, eu tenho um ciclo hormonal de 28 dias. Então tenho que treinar de acordo com a minha biologia e pensando na minha performance”, opinou Tate.

Evolução como atleta

Até por terem sido ‘aceitas’ posteriormente neste ramo, Miesha admite que existe uma lacuna de nível entre o MMA masculino e feminino. Mas tal diferença, segundo ela, poderia ser amenizada caso as mulheres passassem a treinar seguindo a dinâmica de seus próprios corpos, e não medindo forças contra homens – maioria em quase todas as equipes do mundo – diariamente. Essa ‘virada de chave’ tem trazido bons frutos ao nível técnico da grappler americana, mesmo em seus últimos anos de carreira.

“Tenho melhorado tanto na academia recentemente. Tem sido incrível ver a diferença que faz treinar como uma mulher e as melhores performances que tenho apresentado falam por si só. É um divisor de águas quando você começa a entender como competir como mulher, nós elevamos nosso jogo. Acho que nos afastamos do nosso real potencial ao ignorar o fato de que somos mulheres e passamos a imitar os homens. Isso cria uma diferença maior (de nível entre as modalidades) e as pessoas acabam criticando o MMA feminino. Ainda vamos treinar duro, apenas ouvindo um pouco mais nossos corpos, entendendo quando e como pressionar mais”, concluiu a ex-campeã do UFC.

Mesmo tendo que conciliar duas rotinas e superar diariamente obstáculos para dar continuidade à carreira, Miesha Tate voltará a competir neste sábado, no UFC Des Moines. Escalada para o card preliminar do show, a americana mede forças contra a russa Yana Santos, três anos mais jovem. Após ficar a temporada de 2024 fora de atividade, ‘Cupcake’ que mostrar mais uma vez que ainda tem o que é necessário para figurar na elite da categoria até 61 kg da companhia.

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Natural do Rio de Janeiro, Gaspar Bruno da Silveira estuda jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fascinado por esportes e com experiência prévia na área do futebol, começou a tomar gosto pelo MMA no final dos anos 2000.

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