Cesalina faz parte da família mais importante da história do jiu-jitsu. No entanto, ao contrário de boa parte dos membros do Clã Gracie, a brasileira não seguiu carreira nos esportes de combate. Mas se engana quem pensa que a arte suave não faz parte da rotina e princípios da jovem faixa marrom. Instrutora de defesa pessoal nos Estados Unidos, onde reside atualmente, a neta de Carlos Gracie usa seus conhecimentos na modalidade para empoderar mulheres.
Em entrevista exclusiva à equipe de reportagem da Ag Fight, Cesalina relembrou que chegou a participar de torneios competitivos enquanto jovem, mas que o lado desportivo do jiu-jitsu nunca fez seus olhos brilharem. Como professora, porém, a brasileira achou seu espaço dentro dos tatames. Ao diagnosticar uma lacuna no mercado voltada para o público feminino, a neta de Carlos Gracie voltou seus ensinamentos exclusivamente para crianças, adolescentes e mulheres adultas.
“A minha escolha de trabalhar particularmente com meninas e mulheres veio através das minhas experiências de vida em que fui vendo: ‘Caramba, pera aí. Ninguém está dando atenção para as mulheres’. A gente precisa muito dessas ferramentas. Ainda muito nova, percebi que mulheres passam por situações que nunca imaginei (…) Quanto mais você sabe (defesa pessoal), menos você precisa usar. Senti que tinha um caminho a ser explorado, porque a maioria das pessoas se preocupava mais com o jiu-jitsu esportivo. Então minha paixão foi mais para esse lado, foquei nesse público que não tinha muita gente focando. Por eu ser mulher, quero que meninas e mulheres tenham uma referência feminina”, destacou.
Jiu-Jitsu e desenvolvimento pessoal
Além da representatividade e empoderamento de suas aulas, Cesalina enxerga, acima de tudo, o jiu-jitsu como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal. E para alcançar tal objetivo, a instrutora recorre a recursos interdisciplinares, como até mesmo a psicologia. Sua principal inspiração para seguir por esse caminho foi sua prima, Kyra Gracie, cinco vezes campeã mundial de jiu-jitsu.
“A Kyra foi minha maior inspiração para seguir essa metodologia mais completa do jiu-jitsu, incluindo psicologia. Porque nós, professores, não estamos passando só técnicas, mas também valores como filosofia de vida. Ao mesmo tempo estamos usando a comunicação, a postura. Tem diversos exercícios da psicologia que casam perfeitamente com o jiu-jitsu. O jiu-jitsu é uma escola para vida, uma ferramenta de desenvolvimento pessoal. Eu me conecto muito mais com esse lado, porque vejo a transformação na minha frente, choro nas aulas, me emociono ao ver as histórias e ensinar as meninas a falar com voz de campeã, com coragem. Postura, espírito de liderança. O lindo do jiu-jitsu é que ele honra a personalidade de cada um”, concluiu.
Além de ajudar suas alunas a superar adversidades através do esporte, Cesalina também desafia seus próprios limites. Em maio de 2023, tornou-se apenas a oitava brasileira a escalar o Monte Everest, empreitada na qual usou os ensinamentos do jiu-jitsu para superar obstáculos, desde questionamentos internos a catástrofes naturais externas.