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Entrevistas

‘Durinho’ destaca amadurecimento e prega disciplina para não repetir erros no UFC 264

Em fevereiro deste ano, Gilbert ‘Durinho’ teve a oportunidade de, após emplacar uma ascensão meteórica na divisão dos meio-médios (77 kg), disputar o cinturão da categoria diante do campeão Kamaru Usman. Sem conseguir conquistar o sonhado título, o faixa-preta retorna ao octógono no próximo sábado (10), diante do americano Stephen Thompson, pelo co-main event do UFC 264, em Las Vegas (EUA), com a certeza de que a derrota para o nigeriano mostrou lições para serem aprendidas e equívocos que não podem ser repetidos.

Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight (veja acima ou clique aqui), ‘Durinho’ analisou as falhas cometidas por ele na disputa contra Usman e destacou o trabalho feito, ao lado de sua psicóloga, Luciana Castelo Branco, para identificar os motivos que o levaram a cometer tais erros e corrigi-los para seu compromisso de sábado.

Se no duelo contra Usman, o ímpeto exagerado após o bom começo, onde o brasileiro chegou a aplicar um knockdown no rival, fez com que ele saísse do plano de jogo e abrisse brechas para que o campeão se recuperasse no combate, até chegar à vitória, no confronto contra Thompson, ‘Durinho’ explica que tentará encontrar um equilíbrio entre a agressividade natural de seu estilo de luta e a tranquilidade e disciplina necessárias para seguir a estratégia à risca, sem se expor desnecessariamente.

“Foi um aprendizado gigantesco. Fazer uma luta de cinturão no UFC. O evento foi gigantesco, (teve) entrevista para caramba, o trabalho foi duro, o treinamento foi muito bom. Mas eu acho que o aprendizado maior foi aprender a me controlar nessa pressão toda. Depois que eu acertei a mão pesada nele (Usman), eu meio que quis acabar com a luta e puxei muito para isso, ao invés de ter continuado na estratégia. Então, uma das maiores lições é o autocontrole. Me controlar mais, lutar um pouco mais disciplinado. Lógico que eu sempre vou ter esse estilo agressivo. Eu quero nocautear, eu quero finalizar. Mas tem que ter um pouquinho mais de equilíbrio”, analisou ‘Durinho’, antes de comentar sobre o trabalho feito com sua psicóloga e o amadurecimento após o combate contra Usman.

“Eu venho fazendo um trabalho de psicologia esportiva há bastante tempo, há três anos e meio. E a gente teve que descobrir o porquê disso tudo. Teve que dar uma cavada bem fundo, procurar bastante, entender o porquê dessa raiva, o porquê de querer acabar com a luta, o porquê de tanta emoção ali. E a gente acabou descobrindo a origem do problema. Não foi tão fácil. Demorou. Tivemos que fazer vários estudos, várias leituras, conversar bastante. Eu tive que me perguntar muita coisa e achar as respostas. Acabou que a gente achou e eu achei que foi muito válido eu ter passado por isso tudo, o aprendizado foi gigantesco. Veio um amadurecimento muito grande depois dessa luta”, contou.

Um dos motivos identificados pelo brasileiro como tendo influência direta na sua performance foi o clima criado antes da disputa. Ex-companheiros de equipe, ‘Durinho’ e Usman trocaram algumas provocações durante os meses que antecederam o combate, mas, no geral, mantiveram o respeito um pelo outro. Porém, já nos últimos dias antes da peleja, o campeão subiu o tom e adotou uma postura mais agressiva, que, de acordo com o faixa-preta, mexeu com seu psicológico.

Diante de Stephen Thompson, o brasileiro não terá que se preocupar com esse tipo de jogo mental. O americano é reconhecido no meio das lutas como um ‘bom moço’, sempre evitando apelar para o ‘trash talk’. Apesar disso, ‘Durinho’ alerta para o lado provocador do rival dentro do octógono. Ciente da característica do adversário, o faixa-preta destacou a necessidade de se manter tranquilo e não se deixar frustrar pelo jogo do striker.

“Acho que influenciou um pouco. Em me deixar um pouquinho mais com raiva, em querer acabar a luta. Acho que ele (Usman) foi bem inteligente fazendo isso. E eu pensei que estava tudo sobre controle, mas na real não estava. Não foi só isso, mas também ajudou”, admitiu ‘Durinho’, antes de comentar sobre a diferença ao enfrentar Thompson, um lutador que não é adepto das provocações fora do octógono.

“Motivação acho que nunca muda. Ele (Thompson) é um cara tranquilo, mas ele tenta fazer um bullying com você ali dentro do octógono. Ele te bate, ele quer cumprimentar. É um cara também que faz um bullying de outro jeito. Ele tenta te deixar frustrado na luta. Ele não fala nada, mas tenta te frustrar na luta. Cada oponente é diferente. Eu não tenho muita preferência. E nessa luta eu vou ter que ter bastante disciplina porque ele é um cara que não vai falar nada, mas vai tentar fazer o bullying na hora da luta: bater e correr, se movimentar, fazer eu errar. Estou bem preparado para isso, mas vou ter que ficar ligado na luta, bem arisco, bem ativado, para não cair nessas armadilhas”, concluiu.

Atual segundo colocado no ranking dos meio-médios, Gilbert ‘Durinho’ encara Stephen Thompson, número quatro na lista, neste sábado, pelo UFC 264, em Las Vegas. O vencedor do confronto se aproxima de uma nova oportunidade de lutar pelo cinturão da categoria.

Assim como o brasileiro, o americano já teve a chance de disputar o título até 77 kg do Ultimate. Na primeira tentativa, Thompson viu o combate contra o então campeão Tyron Woodley terminar em empate majoritário. Já na revanche, ‘Wonderboy’, como é conhecido, acabou superado pelo compatriota por pontos.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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