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‘Do Bronx’ admite que domínio sobre Ferguson superou expectativas: “Tirei ele para nada”

No último dia 12 de dezembro, Charles ‘Do Bronx’ conquistou a principal vitória de sua carreira até o momento, ao superar, na decisão unânime dos juízes, o americano Tony Ferguson, no co-main event do UFC 256, realizado em Las Vegas (EUA). O triunfo, que alçou o brasileiro à terceira posição no ranking peso-leve (70 kg) e o aproximou definitivamente de uma oportunidade de disputar o título da divisão, foi ainda mais significativo pela forma como o faixa-preta o construiu.

Sem dar chance para qualquer tipo de dúvida sobre sua vitória nas papeletas, o Charles dominou amplamente o adversário durante grande parte dos 15 minutos regulamentares do combate, surpreendendo os fãs e especialistas, que aguardavam um duelo mais equilibrado, tendo em vista o histórico positivo do americano nos últimos anos. E, ao que parece, eles não foram os únicos. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, ‘Do Bronx’ admitiu que, apesar da enorme confiança na vitória, também não esperava demonstrar tamanha superioridade sobre o rival.

O segredo para o amplo domínio sobre Ferguson, no entanto, está bem claro na análise do brasileiro. Ciente da importância do confronto, Charles ressaltou o autocontrole e foco que demonstrou durante a peleja para se manter dentro da estratégia traçada em conjunto com sua equipe, a fim de não correr riscos desnecessários. A tática foi aplicada com louvor e o faixa-preta foi parabenizado, até mesmo, pelo oponente, dentro do octógono, ainda que o mesmo tenha mudado o tom alguns dias depois da batalha.

“Eu sempre fui muito sincero. Eu tinha plena certeza que eu poderia vencer o Ferguson. Eu tinha muita certeza que poderia vencer o Tony Ferguson, mas não com a contundência e da forma que eu venci, tirando ele para nada. Dessa vez, eu lutei com a estratégia completamente embaixo do braço, não perdi o foco em nenhum momento. Todo mundo falou: ‘Ah, no segundo round você poderia ter pegado o braço dele’. Eu vi (a oportunidade de pegar) o braço, mas ele já estava meio fora, a cabeça dele já tinha saído. Na minha visão, eu preferi ficar por cima, porque eu sabia que estava ganhando todos os rounds e eu não quis errar”, revelou ‘Do Bronx’, antes de completar.

“Isso veio para me ensinar que se eu jogar com a estratégia, se eu não errar, não perder o foco, continuar fazendo ela do começo ao fim, eu posso fazer grandes lutas. Às vezes, a gente vai com muita sede ao pote. Se fosse antigamente, eu não teria deixado passar aquele braço (no segundo round). Eu teria ido no braço de qualquer forma, porque eu sei que poderia ter pegado. Mas, como eu fui com a estratégia montada e 100% focado nela, e não queria errar, eu decidi não ir, eu decidi ficar. Eu decidi pontuar porque seria o melhor para mim. Eu acho que isso foi a diferença. Lutar consciente, sem pressa, sem loucura, sabendo que na hora certa ia acontecer. Isso fez toda a diferença e fez com que a luta acontecesse como todo mundo viu, que eu tirei ele para nada. Ele, na hora, até falou comigo, deu os parabéns. Depois ele ficou soltando graça, falando que me frustrou mentalmente por não ter batido (na chave de braço no primeiro round)”, contou o peso-leve.

A mudança de postura do rival, que insinuou ter ‘quebrado mentalmente’ o brasileiro ao não desistir do combate após a justa chave de braço aplicada por ‘Do Bronx’ ainda no primeiro assalto, não incomodou o atleta da ‘Chute Boxe São Paulo’. Nem mesmo as aparentes desculpas utilizadas por fãs, e até mesmo especialistas, para justificar seu domínio no combate parecem tirar o sono de Charles.

“O Ferguson me deu os parabéns quando acabou a luta. Depois ele falou que me frustrou mentalmente por ter saído do armlock. Se todos os caras da categoria saírem do meu armlock e eu fizer o que eu fiz com ele, eu quero ser frustrado todas as vezes. Eu não ligo para o que falam ou deixam de falar. Eu sei que foi uma grande luta. Aquilo que eu propus para a luta, eu conseguiu fazer. Eu consegui bater um cara que era top 3 do mundo. Então, na real, eu não estou nem aí”, afirmou o paulista, antes de comentar sobre a ausência de público na arena, uma das teorias levantadas para desmerecer sua apresentação e justificar a fraca atuação de Ferguson.

“Se ele precisava do público para poder me vencer, infelizmente a gente está em um momento difícil de pandemia. Mas eu também gosto do público, eu também gosto da multidão. Seria uma guerra de qualquer forma porque eu me sinto bem com o público, me sinto bem com as pessoas gritando e vibrando. Não tem muito o que fazer. Hoje o Charles Oliveira é o número três do mundo. Isso incomoda muita gente”, concluiu.

Vindo de oito vitórias consecutivas no octógono mais famoso do mundo, Charles ‘Do Bronx’ ocupa agora a terceira colocação no ranking peso-leve do Ultimate. O faixa-preta, recordista de vitórias por finalização na história do UFC, agora aguarda a definição da entidade sobre o futuro da categoria, que ainda tem como campeão Khabib Nurmagomedov, apesar do russo já ter anunciado sua aposentadoria do esporte.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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