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Companheiro de Anderson relembra rivalidade e dispara contra Belfort: “Tem muita porta fechada”

Promovido à época como a ‘luta do século’, o duelo entre Anderson Silva e Vitor Belfort – atração principal do UFC 126, em Las Vegas (EUA) – completa dez anos nesta sexta-feira (5). Vencida pelo ‘Spider’, a disputa repercute até os dias atuais e é amplamente reconhecida como a divisora de águas no MMA brasileiro, sendo responsável diretamente pelo crescimento do esporte em território nacional no início da década passada. Um dos fatores primordiais que justificam a relevância do combate foi a intensa rivalidade que cercou todo o entorno da disputa entre as lendas.

De acordo com os relatos, especialmente vindos do camp do ‘Spider’, a relação entre os lutadores, ex-parceiros de treino, ‘azedou’ no momento em que Belfort se posicionou como desafiante ao título dos pesos-médios (84 kg) do UFC, à época sob poder do paulista. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, Rafael ‘Feijão’ – companheiro de equipe de longa data de Anderson – reiterou que a atitude do carioca, considerada pelo time do então campeão como uma traição, foi o que motivou o acalorado imbróglio.

Sem papas na língua, demonstrando que a rivalidade com Belfort permanece intacta mesmo depois de uma década, Feijão disparou críticas à postura do carioca, destacando que esse tipo de atitude fez com que o ex-campeão meio-pesado (93 kg) do UFC se tornasse ‘persona non grata’ em outras academias também. O veterano também fez questão de ressaltar que o clima de animosidade foi utilizado pelo ‘Spider’ como arma psicológica, para desestabilizar o rival antes e durante o confronto.

“No momento em que ele foi na academia pedir para treinar, eu estava no dia da reunião. Ele foi com o pai dele e com o filho dele, e pediu para o (Rodrigo) Minotauro. Inclusive eu fui contra na hora. O Rodrigo falou: ‘Não, vou passar em cima da opinião de vocês. Todo mundo tem que trabalhar. O cara tem família’. Aí o Rodrigo falou: ‘Só tem uma coisa. A gente já tem o nosso campeão até 85, que é o Anderson’. E ele (Belfort) falou: ‘Não, não. Eu nunca vou lutar com ele’. Ele falou isso. Aí passou algum tempo e boom. Apareceu ele lá para fazer essa luta. Mas o Anderson estava muito frio. O Anderson trabalha muito com o psicológico. Se você ver na luta, a cabeça do Vitor começa a pirar antes dele ser nocauteado. A estratégia foi: não vamos para cima, deixa ele vir, frustra e assim que ele se frustrar, aperta porque vai dar certo”, revelou Feijão, antes de completar.

“Pela parte do Anderson, (a questão da rivalidade e do clima pesado com o Vitor) ficou quase nada. Porque o Anderson é realmente muito frio. Mas pela academia, né… Porque esse tipo de traição no meio da luta a gente não admite. Tanto que nós vamos para qualquer lugar, a gente consegue entrar, tem porta aberta em qualquer academia que a gente for. E tem cara que po… o Vitor tem porta fechada em metade das academias, por causa desse tipo de atitude. O cara tem muita porta fechada, pisa muito na bola”, criticou o lutador da Team Nogueira.

Se por um lado o fato de Belfort ter desafiado Anderson após terem compartilhado inúmeros treinamentos incomodava a equipe do campeão, por outro a experiência vivida nos tempos de companheiros de time trazia tranquilidade para o corner do paulista. De acordo com Feijão, a clara vantagem do ‘Spider’ nas sessões de sparring contra o carioca mostrava o caminho para a vitória na luta do UFC 126. O veterano ainda revelou que alguns desses treinos tiveram suas imagens registradas em vídeo, mas que acabaram se perdendo com o tempo.

Além da confiança na superioridade técnica do ‘Spider’, a vantagem mental é apontada por Feijão como fundamental na vitória de dez anos atrás. Como exemplo, o veterano recordou do episódio mais marcante da semana pré-luta entre as lendas: o momento em que ambos ficaram frente a frente na pesagem cerimonial. Chamado de mascarado por Belfort, o campeão surgiu com uma máscara em seu rosto para confrontar o rival, no que se tornou uma das encaradas mais intensas e memoráveis da história do esporte.

“A gente já sabia qual seria o resultado. Porque todos os sparrings – há anos dessa luta, sei lá, oito, sete anos antes – eles já faziam sparring direto na XGYM, e a gente já tinha até gravado esses vídeos do Anderson batendo nele. O Anderson sempre levou (vantagem). Então, ia ser uma repetição, não subestimando, lógico, porque o Vitor é um cara muito perigoso. Mas tecnicamente o jogo do Vitor não casa com o Anderson”, contou o ex-campeão meio-pesado do Strikeforce.

“A história que mais me impressionou foi aquele negócio da máscara. Muita gente fala: ‘Pô, o cara botou aquela máscara’. E aquilo lá não foi nada a ver. Não foi o Anderson. A gente tinha ido assistir um show, acho que um dia ou dois antes, e o filho dele, o Kalyl, também foi. E a gente ganhou aquelas máscaras no show. E aí saiu uma entrevista do Vitor falando que o Anderson era mascarado, alguma coisa assim. O Vitor Belfort falando que o Anderson era mascarado. É um pouco estranho, né (risos). Aí o Kalyl pegou a máscara e falou: ‘Pai, se ele falou que você é mascarado, bota a máscara’. Aí o Anderson, mais louco ainda, pegou e botou. E ficou um negócio legal para caramba. Não foi nada combinado. Foi ali realmente na hora da pesagem. Colocou a máscara e fez a encarada. E tudo isso faz parte da luta. A desestabilização psicológica do seu adversário é 90% da sua vitória. E o Anderson sempre fez isso muito bem. E acho que fez mais uma vez ali e deu certo”, relembrou.

Outra curiosidade que gerou enorme repercussão na época foi a suposta ajuda do ator Steven Seagal no triunfo de Anderson sobre Vitor. O chute frontal no queixo do oponente, que levou o carioca à lona ainda no primeiro round, ainda era um golpe raro no MMA naquele momento e sua execução foi atribuída às dicas passadas pelo astro de Hollywood, faixa-preta de aikido e conhecido por seus filmes com temática de artes marciais, ao campeão antes do duelo contra Belfort.

Apesar de ter sido tratada como uma história folclórica por muitos, Rafael Feijão ressaltou que o ator teve sim participação no golpe, ao aconselhar o campeão a aplicá-lo de uma forma diferente do que estava acostumado. No entanto, o companheiro de equipe do ‘Spider’ descartou que tenha sido Seagel o responsável por ensinar o chute ao lutador paulista.

“Ele sempre treinou esses chutes, tanto no corpo, como no rosto. E tiveram ajustes, com certeza. Eu lembro que eu estava junto quando o Steven Seagal mostrou um detalhe: ‘Não, quando eu faço esse chute, eu gosto de estender mais a perna, jogar um ângulo um pouquinho maior’. Então, isso realmente teve. Mas o Anderson já treinava isso”, contou Feijão, antes de continuar.

“É igual me perguntar: ‘Você treina o Anderson?’. Eu não treino o Anderson, eu ajusto alguns detalhes que ele deixa passar. Porque é um cara muito habilidoso, muito inteligente, então ele varia muita coisa na cabeça dele, não tem medo de tentar e arriscar. Então, eu acho que foi isso que levou àquele chute. A vontade dele de arriscar uma coisa diferente. Essa sempre foi a diferença do Anderson. Ele se tornou um lutador desse patamar porque ele sempre tentou tudo, de todas as formas, sem medo de perder”, concluiu.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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