Entrevistas
Narrador da superluta compara Anderson Silva vs Vitor Belfort a clássico do futebol
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por
Rodrigo Tannuri, em Niterói (RJ)
Há exatos 10 anos, o cenário do MMA no Brasil mudou. No dia 5 de fevereiro de 2011, os fãs foram brindados com a realização do encontro entre Anderson Silva e Vitor Belfort, em Las Vegas (EUA), que consolidou o esporte no país tamanha a sua repercussão. O duelo entre os ícones, e também rivais, ficou conhecido como ‘Luta do Século’ e, ao mesmo tempo em que se tornou inesquecível para os amantes da modalidade, também não saiu da memória dos jornalistas que realizaram a cobertura do evento.
Para comemorar o aniversário de dez anos da luta mais importante da história do MMA no Brasil, a equipe da Ag. Fight entrou em contato com o jornalista Eduardo Ferreira, que atuou na Tatame, no Esporte Interativo e no SporTV, e com João Guilherme, narrador e apresentador dos canais ESPN e Fox Sports. A dupla de profissionais acompanhou de perto tudo que envolveu Anderson Silva e Vitor Belfort e relembrou momentos emblemáticos tanto dentro como fora do octógono.
Considerado por parte dos fãs como um dos melhores narradores de futebol do país, João Guilherme também tinha espaço na sua agenda para o MMA. O profissional foi escalado para ser a voz oficial da superluta entre os campeões e ajudou a imortalizar a disputa. Como não poderia ser diferente, a experiência, ao mesmo tempo que foi inusitada, também foi marcante para a carreira dnarrador que, inclusive, fez uma comparação curiosa.
“Narrar MMA foi uma experiência muito importante na minha carreira. Dá para comparar com uma grande partida de futebol sim. As grandes lutas de MMA correspondiam à narração de um clássico do futebol. Todos se envolviam e queriam saber. Essa luta entre o Anderson e o Vitor, sem dúvida, foi a mais badalada que eu narrei por tudo que envolvia. Foi muito especial e uma responsabilidade grande. Me senti narrando um evento de ponta. A repercussão e audiência foram monstruosas e para mim foi uma honra ter narrado. Foi uma luta que como, costumo dizer, ‘Para tudo!'”, declarou João Guilherme.
Um dos jornalistas de maior experiência na cobertura do MMA no Brasil, Eduardo Ferreira compareceu ao aguardado evento em Las Vegasm (EUA) e admitiu que ficou surpreso com a quantidade de colegas da imprensa presentes. Por isso, uma das principais consequências da grandeza do encontro entre Anderson e Vitor foi a alteração imediata da cobertura das artes marciais mistas no país. Tanto que dez anos depois, ela permanece relevante mesmo com um menor número de campeões do país..
“O que mais se destacou foi a quantidade de jornalistas e de veículos da imprensa que estavam na cobertura. Eu já tinha uma boa estrada cobrindo eventos, tinha dez anos na Tatame, com MMA, jiu-jitsu, e nenhuma luta tinha chamado tanta atenção, mesmo com o PRIDE no auge. Muitos jornalistas não sabiam nem distinguir o que era o UFC e o que era o MMA. Foi um evento que mudou o cenário do esporte no Brasil. Depois da superluta, mudou. A cobertura não está do tamanho que era, esfriou. Mas muitos veículos continuam cobrindo o esporte até hoje. Ainda dá um retorno grande”, contou Eduardo.
Não foi apenas a ação no octógono que chamou a atenção. Um dia antes do aguardado encontro entre os ícones do MMA, na pesagem, Anderson e Vitor também deram o que falar. De acordo com Eduardo, a tensão pessoalmente era ainda maior do que se imaginava e a encarada ilustrou bem o clima entre a dupla. Na ocasião, o campeão do peso-médio (84 kg) do UFC surgiu com uma máscara, debochando da postura adotada pelo desafiante. O duelo foi batizado de ‘Luta do Século’, mas o momento em que os desafetos ficaram frente a frente também se tornou um dos mais emblemáticos da história do esporte.
“A expectativa para a pesagem era enorme, tinha muita troca de farpas. A gente sabia que ele estava chateado por enfrentar o Vitor, porque eles tinham sido amigos e parceiros de treino. Também tinha aquela coisa de ser brasileiro contra brasileiro. O Vitor queria lutar pelo cinturão, mas o Anderson levou para outro lado e se criou uma rivalidade enorme, uma tensão. Foi uma surpresa gigante aquela máscara, o Anderson falou vários palavrões. Ele sempre foi bom de encarada. Os atletas dizem que a luta começa na pesagem. Se você entra na mente do adversário, ganha ali mesmo. O Anderson sempre foi especialista nisso. Talvez, tenha sido uma das maiores encaradas da historia ou a maior”, relatou Eduardo.
Conhecidos pela qualidade e precisão que possuem na trocação, os atletas iniciaram o duelo de forma cautelosa, se estudando. Quando o público começava a ensaiar vaias, com pouco mais de três minutos de luta, o MMA proporcionou aos amantes do esporte um momento histórico. Anderson parou na frente de Vitor e, com a guarda baixa, aplicou uma ponteira no queixo do desafiante, que não resistiu. João Guilherme confessou que ficou tão surpreso com o que presenciou que não escondeu esse sentimento durante a narração. Com o triunfo sobre o rival, o campeão dos médios defendeu o cinturão pela oitava vez na carreira e seguiu marcando época na modalidade.
“A minha reação, acho que consegui passar isso na narração, foi de surpresa. Não imaginava algo tão rápido, tão demolidor. É aí que você vê a diferença de um cara que é acima da média. Ele precisou de um frame, um espaço mínimo. O Anderson teve raciocínio rápido, genialidade e acertou aquele chute que nem o Vitor esperava, que ninguém esperava, muito menos o narrador. Levei um susto e falei ‘Ih, olha o chutasso! Espetacular! Anderson Silva!’. Foi algo surpreendente e passei isso na narração, o meu espanto, o susto com o que aconteceu. Foi incrível. A graça do MMA é que tudo pode mudar em um segundo. O roteiro foi imprevisível”, concluiu João Guilherme.
Jornalista formado, especializado em MMA. Também acompanho boxe, boxe sem luvas, boxe de celebridades e WWE.