Depois de toda a polêmica envolvendo o passado dos dois como companheiros de equipe na ‘Factory MMA’, Francis Ngannou e Ciryl Gane finalmente subiram no octógono para resolver suas desavenças pessoais e unificar o título dos pesos-pesados do Ultimate. Na luta principal do UFC 270, realizado neste sábado (22), em Anaheim (EUA), o camaronês – campeão linear da categoria – superou o francês – que chegou para a disputa com o cinturão interino da divisão – e garantiu a continuidade do seu reinado.
Se as previsões apontavam o caminho da vitória para Ngannou na luta em pé, especialmente nos primeiros rounds, por conta de seu devastador poder de nocaute, o campeão surpreendeu ao utilizar seu jogo de quedas e o controle posicional na luta de solo para superar Gane. Ao final dos cinco assaltos da peleja, o camaronês levou a melhor na decisão unânime dos juízes.
Na entrevista pós-luta, ainda no octógono, Ngannou destacou sua evolução desde a chegada na nova equipe, a ‘Xtreme Couture’, o que pode ser visto como uma cutucada no antigo time, liderado por Fernand Lopez, treinador de Ciryl e líder da ‘Factory MMA’. O campeão também revelou ter rompido os ligamentos do joelho durante a preparação, mas que fez questão de lutar e evitar o adiamento da disputa.
O camaronês ainda voltou a mencionar o interesse por se testar no boxe profissional antes de encerrar sua carreira e deixou seu futuro em aberto. Vale lembrar que esta foi a última luta no contrato de Ngannou com o UFC e o lutador vinha, nos últimos tempos, em uma batalha com a organização visando uma valorização salarial. Resta saber agora quais serão os próximos passos do campeão peso-pesado do principal evento do mundo.
A luta
O combate começou exatamente como era esperado, com Gane apostando na movimentação pelo octógono, a fim de evitar a mão pesada do rival, e Ngannou dominando o centro e andando para frente. A diferença de estilos foi vista durante todo o período, com o francês mostrando sua versatilidade nos golpes, enquanto o camaronês buscava os ataques mais potentes, de olho no nocaute.
Mais confiante no duelo e já com o controle da distância, o francês foi melhor na segunda etapa. Sem a mesma mobilidade do rival, Ngannou teve problemas para conectar seus potentes socos e viu Gane acertá-lo mais vezes, ainda que sem muita contundência.
O terceiro assalto viu o panorama da luta mudar. Com mais ímpeto em seus movimentos, Ngannou conseguiu se aproximar do oponente e aplicou uma plástica queda, já caindo de guarda passada. Porém, a pouca habilidade do camaronês no solo beneficiou o francês, que, mesmo levando alguns golpes na cabeça, conseguiu se levantar. O bom momento parece ter servido como combustível para o campeão, que garantiu mais uma queda antes do final do round.
Após um início de quarto round morno, o camaronês, mais uma vez, apostou no jogo de quedas para pontuar. No chão, novamente Ngannou se mostrou muito cru para aproveitar as posições de vantagem, mas conseguiu, na base da força bruta, manter o domínio posicional sobre o francês.
Com a desvantagem nos rounds anteriores, Gane foi para cima no quinto round e surpreendeu ao usar a mesma tática do camaronês e levar o jogo para o chão. O francês tentou uma chave de calcanhar, mas acabou perdendo a posição e cedendo a meia-guarda para o ex-companheiro de equipe. Um erro estratégico que pode ter custado a vitória do lutador europeu.
Confira os resultados do UFC 270:
Francis Ngannou venceu Ciryl Gane por decisão unânime dos juízes;
Deiveson Figueiredo venceu Brandon Moreno por decisão unânime dos juízes;
Michel Pereira venceu André Fialho por decisão unânime dos juízes;
Said Nurmagomedov venceu Cody Stamann por finalização;
Michael Morales venceu Trevin Giles por nocaute técnico;
Victor Henry venceu Raoni Barcelos por decisão unânime dos juízes;
Jack Della Maddalena venceu Pete Rodriguez por nocaute técnico;
Tony Gravely venceu Saimon Oliveira por decisão unânime dos juízes;
Matt Frevola vence Genaro Valdéz por nocaute técnico;
Vanessa Demopoulos venceu Silvana Gomez Juarez por finalização;
Jasmine Jasudavicius venceu Kay Hansen por decisão unânime dos juízes.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.