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Tito Ortiz acusa Dana White de distorcer documentário sobre rivalidade com Liddell

Tito Ortiz foi campeão meio-pesado (93 kg) do UFC entre 2000 e 2003 – Diego Ribas

Na última terça-feira (15) a emissora americana ‘ESPN’ transmitiu para os Estados Unidos o primeiro ’30 for 30’ (série de documentários esportivos produzida pelo canal) focado no MMA e a história escolhida para ser contada foi a rivalidade entre Tito Ortiz e Chuck Liddell, que fez explodir a popularidade do esporte no início dos anos 2000. No entanto, nem todos os envolvidos gostaram do resultado final da homenagem. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, ‘The Huntington Beach Bad Boy’ deixou claro sua insatisfação com a edição final – segundo ele, manipulada por seu desafeto Dana White – do documentário, apontando que o filme não foi fiel aos acontecimentos passados.

Segundo lutador a conquistar o cinturão peso-meio-pesado (93 kg) na história do UFC, Tito Ortiz demonstrava dentro e fora do octógono o potencial para liderar o projeto de popularizar o esporte pelos Estados Unidos. Carismático e com personalidade forte, além de ser um dos melhores lutadores da época, defendeu seu título em cinco ocasiões, mas nunca contra Chuck Liddell, que derrubava um adversário após o outro na mesma categoria durante este período. O imbróglio com o Ultimate para casar este combate, em especial com Dana White – presidente da organização e seu ex-empresário –, obviamente fez parte do documentário, e deixou Ortiz irritado com a forma como lhe retrataram.

“A história não foi contada (de forma correta) no 30 for 30. Eu era o campeão, tinha defendido meu título duas vezes, Chuck Liddell teve a chance de lutar contra mim pelo meu título mundial, ele enfrentou Jeremy Horn e foi estrangulado até ficar inconsciente. Então isso se soma a questão, ele teve que subir de novo a escada para conseguir uma luta pelo título, e quando ele conseguiu já era muito tarde. Eu já tinha perdido para Randy Couture. (Fiquei irritado com) Dana dizendo que eu estava com medo de enfrentar Chuck. Nunca foi um fato. Então, a história não foi contada da forma certa no 30 for 30 porque o diretor tinha as mãos amarradas muitas vezes, Dana White editou 19 vezes o filme. E isso é muito triste porque você perde a integridade do filme”, declarou o membro do Hall da Fama do UFC.

Outro fator que desagradou Tito no documentário foi a forma como Dana White o retratou como homem de negócios. De acordo com o atleta, à Ag. Fight, seus desentendimentos com o ex-patrão baseavam-se na diferença entre o que era proposto financeiramente pela companhia e o que ele gerava de lucro para eles em suas lutas. Além disso, Ortiz fez questão de mencionar suas empresas e posses para justificar sua estratégia em negociar.

“Eu apenas queria ter certeza que eu e Chuck recebêssemos muito dinheiro por cada uma das nossas lutas. Mas nós estávamos recebendo apenas 4% do total da receita e eles estavam embolsando 96% do rendimento. Isso não faz sentido para mim. Eu e Chuck íamos lutar por 150 mil dólares, enquanto eles faziam 30 milhões. O que eu estava fazendo errado que os boxeadores profissionais não faziam? Aí eu tive uma conversa com Dana, que nem entrou (no 30 for 30), dizendo: ‘Quando eu vou começar a receber o tipo de dinheiro que o Mike Tyson recebe? As dezenas de milhões’.  E ele disse: ‘Quando vocês venderem um milhão de pay-per-views. Bom, na segunda luta contra Chuck Liddell, nós vendemos 1,3 milhões de pay-per-views. E eu vi alguma coisa próxima das dezenas de milhões? Nem perto. Eu tive sorte de ver 2 milhões. E eles tiraram mais de 70 milhões por aquela luta. Eram negócios, apenas negócios”, comentou Ortiz, antes de completar.

“Eu sempre fui pouco apreciado porque eu era sincero. E Dana se certificou disso, até mesmo no 30 for 30, quando ele disse o quão burro eu era. Para um homem tão burro é estranho eu ter sido capaz de comprar as casas que eu comprei, os carros que eu comprei, e ainda ter essas coisas até hoje. E assinar com o Combate Americas um contrato de múltiplas lutas por uma grande quantia de dinheiro, eu acho que eu sou um homem bem inteligente. Construí a Punishment Athletics (linha de roupas e equipamentos), também a minha companhia de gestão (de carreiras de lutadores), eu fui capaz de diversificar meus negócios e um homem burro não conseguiria isso. Eu sou um homem inteligente, trabalhei para caramba, e um outro cara, que se sente ameaçado por mim, decide que o melhor jeito de lidar com isso é assassinando meu caráter. E é isso que Dana estava tentando fazer”, afirmou.

A briga de lutadores com o UFC por melhores recompensas financeiras continua até os dias atuais. Recentemente, Colby Covington e Kamaru Usman não conseguiram chegar a um acordo com a organização por uma disputa entre eles pelo cinturão meio-médio (77 kg) exatamente por discordância de valores oferecidos aos atletas. O duelo perdeu a ‘vaga’ de luta principal do UFC Nova York, e só foi acertado após mais uma rodada de negociações, sendo finalmente acordado para acontecer no evento do dia 14 de dezembro. Questionado sobre as mesmas reclamações serem vistas entre os competidores atuais, Tito foi direto e aconselhou os mesmos a se unirem em prol de um objetivo em comum. No entanto, ‘The Huntington Beach Bad Boy’ não se mostrou confiante nesta possibilidade.

“É claro que isso vai acontecer até os dias de hoje porque eles não querem pagar (aos lutadores). Eles querem fazer o dinheiro deles, querem encher o bolso deles. Os lutadores têm que se unir, todos eles, e conseguir uma greve, e talvez eles consigam um pouco de força. Mas eles têm tantos lutadores que aceitam receber menos, que os lutadores não vão fazer isso. Eles querem ser estrelas, querem ser famosos, não ligam para o dinheiro, eles só querem lutar. Isso é algo que eu nunca entendi, porque isso é um negócio, você tem que tratar isso como um negócio. Se você não tratar isso como um negócio, você vai ser apenas outro lutador”, aconselhou Tito, antes de completar.

“Entendi isso desde o primeiro dia, e construí um personagem: Tito Ortiz ‘The Huntington Beach Bad Boy’, com chamas nos meus shorts e cabelo descolorido. E eu dizia o que pensava, nunca guardei nada, foi o jeito como eu construí o personagem. Da mesma forma que Muhammad Ali construiu o dele, ou Hulk Hogan, da WWE, construiu o dele. Essas são as coisas que transformaram estes caras em multimilionários. Eu tentei fazer a mesma coisa e se não fosse pelos meus fãs, eu seria apenas outro lutador. Sou muito grato pelos meus fãs porque eles me apoiam, acreditam em mim, eles veem o trabalho duro que eu coloco nos treinamentos, e isso é mostrado nas minhas lutas pelo que eu faço”, apontou.

Apesar de manter o posicionamento forte contra Dana White, Tito admitiu que, se pudesse, mudaria uma atitude específica em seu passado com o desafeto: a utilização de uma camisa com dizeres provocativos ao ex-patrão. De acordo com ele, nada de bom foi retirado desta atitude. Além disso, Ortiz também lamentou a falta de um maior diálogo com Liddell, mas creditou as emoções afloradas no período para justificar esta falha.

“A única coisa que eu faria diferente seria não usar uma camisa que dizia: ‘Dana é minha v***’. Acho que foi um pouco demais, eu tiraria isso porque isso não ajudou em nada, tanto para mim quanto para ele. Mas todo o resto, como eu disse, eu fiz com integridade. Fiz o que eu acreditava ser certo. Talvez eu tivesse conversado com Chuck para atrasar a luta por mais dinheiro, mas é uma daquelas coisas, quando você está no calor do momento, as coisas acontecem por uma razão”, concluiu ‘The Huntington Beach Bad Boy’.

Ortiz e Liddell se enfrentaram duas vezes pelo UFC, com ambas as lutas terminando em vitória para ‘The Iceman’, via nocaute técnico. O terceiro encontro entre as lendas do Ultimate ocorreu em novembro de 2018, em evento promovido pela Golden Boy Promotions (capitaneada pelo ex-campeão mundial de boxe Oscar De La Hoya), que marcou o primeiro triunfo de Tito sobre o rival. O vetarano, inclusive, já tem nova luta marcada para o dia sete de dezembro, contra Alberto Rodriguez, pelo Combate Americas.

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