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Thiago ‘Pitbull’ negocia com Bellator e PFL, mas não descarta aposentadoria do MMA
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por
Neri Fung
Sem contrato com o UFC – organização pela qual competiu durante quase 15 anos – desde dezembro de 2019, quando foi derrotado por Tim Means, Thiago ‘Pitbull’ Alves está dividido quanto ao seu futuro. Se por um lado o lutador aguarda uma proposta financeiramente vantajosa de uma das organizações com as quais negocia, por outro ele finaliza os preparativos para realizar seu grande sonho de se tornar policial.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, Thiago revelou que – apesar de ter tido conversas pela renovação contratual com o Ultimate – preferiu testar o mercado e está atualmente em negociações com o Bellator e com o PFL. Com uma meta clara em sua cabeça, no que diz respeito ao aspecto financeiro, ‘Pitbull’ admitiu que contempla a aposentadoria do MMA caso não receba a oferta que deseja. A paixão pela polícia e a proximidade de realizar o desejo de infância de fazer parte da corporação também podem influenciar em sua decisão de seguir na carreira de lutador ou pendurar as luvas.
“Estou em negociação com o PFL e com o Bellator. Estou esperando para ver qual a melhor oferta, e se faz sentido para eu voltar a lutar ou não. Mas se eu não escutar a oferta que eu estou querendo, provavelmente vou me aposentar. Ao mesmo tempo, estou em um processo para ser contratado pela polícia aqui. Então, se eu não escutar o que eu estou querendo, rápido, talvez eu vá focar só nessa parte nova da minha vida. E, quem sabe, daqui a um ano, quando eu ajeitar tudo que eu quero ajeitar agora, eu faço uma luta de novo, ou mais duas. Mas se eu parar hoje em dia de lutar, estou tranquilo também. Não preciso estar lutando, luto porque eu quero. Financeiramente eu estou bem, sou um dos coaches na American Top Team já, estou abrindo minha academia com o Wilson Gouveia, meu conterrâneo de Fortaleza, e estou com planos de entrar na polícia, que foi a minha primeira paixão, até mesmo antes do MMA”, revelou o cearense, antes de completar.
“Estou em uma posição bem confortável, se o dinheiro valer a pena, beleza, eu luto, saio na porrada. Mas se não for o dinheiro que eu estou querendo, eu não preciso lutar. Está 50 a 50 (porcentagem sobre a decisão de continuar lutando). Posso facilmente lutar mais um ano, fazer uma grana boa e ficar bem melhor ainda. Ou eu posso só me focar na polícia, ser um dos melhores coaches da ATT, abrir minha academia, que, querendo ou não, é o processo pelo qual eu estou encaminhado. O fator decisivo é o dinheiro”, explicou o lutador.
O caminho para ser contratado pela polícia já está sendo percorrido por Thiago, que inclusive voltou a estudar de olho em melhores oportunidades na corporação. O lutador tem planos de conseguir seu diploma em ‘Justiça Criminal’ nos próximos anos. Com apenas uma prova restando para poder pleitear sua contratação como policial, o caminho, de acordo com ele, seria sua entrada em uma academia de polícia durante seis meses após ser aprovado. Apesar disso, ‘Pitbull’ garante que, caso receba uma oferta financeira irrecusável, poderia postergar sua entrada na instituição para seguir lutando até o fim deste ano.
“No Brasil você tem a Polícia Militar e a Polícia Civil. A polícia aqui faz o trabalho das duas, a gente prende e acusa o crime. Então eu tenho que fazer três provas (para entrar): uma prova de natação, uma prova física e uma prova escrita. E aí você pode começar a mandar para os departamentos que você quer fazer parte. Tem que ser cidadão americano e se você tiver educação superior é melhor. Eu voltei para o colégio aqui, estou tentando pegar meu diploma em justiça criminal. Já estou há um ano, então acho que mais três anos eu recebo minha graduação. O processo de ser contratado pela polícia demora um pouco. Vou fazer uma prova amanhã, é a última prova que eu tenho que fazer para poder começar a aplicar para as agências da polícia. Depois que você aplica demora uns dois, três meses para ser contratado. Depois de ser contratado, você passa seis meses na academia de polícia”, contou ‘Pitbull’, antes de completar.
“Não vou começar na academia de polícia até o meio do ano, então se aparecer uma luta que me interessa até o meio do ano, eu luto. Se não, estou tranquilo. Se o dinheiro valer a pena eu luto esse ano inteiro, até. Porque depois que você é contratado, você pode atrasar sua entrada na academia de polícia. Fiz tudo que eu tinha que fazer nesse esporte, a única coisa que eu não fiz foi ser campeão, mas eu lutei contra o melhor meio-médio de todos os tempos, Georges St-Pierre. Tenho certeza que eu inspirei uma nova geração, ajudei a construir a American Top Team, fui o lutador do ano em 2008, então eu vivi tudo que tinha para viver, tirando ser campeão, mas eu cheguei bem pertinho, bati na trave”, declarou o atleta.
Além do sonho em se tornar policial, outro fator que pode pesar na balança na hora do lutador decidir sobre sua possível aposentadoria é a família. Ainda que vislumbre uma recompensa financeira vantajosa que o faria continuar lutando, Thiago admitiu que possui estabilidade suficiente neste aspecto para prover para seus familiares. Além disso, o fato de seu filho estar dentro do espectro do autismo, e consequentemente necessitar de uma atenção especial, faz o ex-desafiante ao cinturão meio-médio (77 kg) do UFC considerar passar menos tempo focado na carreira de atleta do MMA.
“Pesa muito (família na decisão). Eu sou pai agora, e meu filho está no espectro de autismo. Então, ele precisa um pouco mais da minha atenção. Eu sei que a luta facilita financeiramente a nossa vida, mas eu não preciso mais lutar pelo dinheiro. Graças a Deus, eu consegui construir uma base boa para a gente. Quando eu comecei a lutar eu não tinha família, era só eu, não tinha que me preocupar com mais ninguém, só comigo e o meu treino, quando você vira pai, principalmente quando seu filho precisa de atenção especial, dificulta um pouco, fica bem mais difícil. Então, tem que fazer sentido financeiramente, senão eu estou tranquilo em focar nessa segunda parte da minha vida”, concluiu Thiago Alves.
Thiago ‘Pitbull’ compete no MMA profissional desde junho de 2001. Ao todo, ele acumula 23 vitórias e 15 derrotas em seu cartel. No UFC, o lutador disputou o cinturão dos meio-médios em julho de 2009, no UFC 100, mas acabou derrotado pelo então campeão Georges St-Pierre.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.