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Diego Ribas/PxImages

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Ricardo Lamas confirma aposentadoria e credita decisão a irmão falecido e rosário; entenda

No último dia 29 de agosto, logo após vencer Bill Algeo no card principal do UFC Las Vegas 8, em uma performance que lhe garantiu o bônus de ‘Luta da Noite’, Ricardo Lamas indicou que aquela poderia ter sido sua última apresentação da carreira. Agora, passado pouco mais de uma semana, o veterano, de 38 anos, confirmou a decisão de se aposentar do MMA profissional, em entrevista ao ‘MMA Junkie Radio’.

Convicto, Lamas fez questão de explicar a razão para ter se aposentado, mesmo após ter mostrado que ainda pode competir em alto nível, apesar da idade avançada. De acordo com o veterano, a decisão foi tomada ainda antes de subir no octógono pela última vez, e foi motivada por uma emocionante história envolvendo um rosário e o amor por um irmão falecido em 2009.

“Se você me assiste lutar, você vai saber que eu sempre carrego um rosário comigo para a pesagem e na caminhada para o octógono, e eu o deixo com meu córner ou quem quer que seja. Em 2009, um dos meus irmãos faleceu e ele estava vivendo no Arizona na época. Então, quando nós recebemos a notícia, eu, dois dos meus irmãos e meu pai fomos lá para pegar seus pertences, vê-lo, meio que identificá-lo e trazê-lo de volta. Eu estava nessa pequena loja, meio que uma loja nativa americana, e eles tinha um monte de rosários – pequenos rosários de madeira.

Então, eu escolhi um, um para mim, um para cada um dos meus irmãos, um para o meu pai, e um para o meu irmão que havia acabado de falecer. No seu velório, o padre abençoou todos os rosários, e eu dei um a cada um dos meus irmãos e nós enterramos um com meu irmão. Então, essa foi meio que uma forma de trazê-lo comigo em todas as lutas, porque ele tinha muito orgulho de mim.

Depois da minha última luta (contra Calvin Kattar), por causa da minha internação (Lamas sofreu fraturas no maxilar), eu estava no hospital, guardando todas as minhas porcarias. Eu perdi o rosário. Eu não sabia onde estava, e eu meio que esqueci sobre isso porque eu basicamente só o trago para as lutas. E eu estava me preparando para ir para Miami, porque eu tinha que ir direto para (Las) Vegas de Miami, eu estava arrumando tudo para trazer para a luta, como minha bandeira, e eu estava procurando pelo rosário. Eu estava desmontando a casa e minha esposa me ajudando a procurar, e eu não conseguia encontrar em lugar nenhum e eu estava tipo: ‘M***’.

Então, eu tive que sair sem ele. E a outra coisa maluca é que meu irmão morreu no dia 28 de agosto de 2009. O dia da pesagem era 28 de agosto, e naquela noite, eu tinha batido o peso. Então, eu estava no peso, fui dormir, acordei às 3 da manhã porque estava com muita sede, e eu comecei a olhar o Facebook e um dos meus irmãos tinha postado um comentário na página em memória do meu irmão falecido, e eu comentei lá. E comecei a ver fotos dele e meio que conversar com ele na minha cabeça, dizendo: ‘Eu sei que eu não preciso de um rosário para saber que você está aqui comigo, e por favor apenas olhe por mim só mais uma vez. Eu só quero mais uma vitória e eu vou deixar o esporte’.

Na manhã seguinte, eu estou arrumando minha mochila, a mochila que eu uso todo dia. Eu estou colocando coisas lá, e o bolso principal abriu. Dentro do compartimento principal tem um outro bolso com um zíper. O zíper estava aberto com poucos centímetros, e eu estava sentado na cama, e olhei para a mochila e pelo pequeno buraco eu vi um pedaço do rosário lá dentro. E eu estava tipo: ‘Não é possível’. Então, eu abri, coloquei minha mãe lá dentro e puxei o rosário para fora e comecei a derramar lágrimas.

Mas depois do que aconteceu, eu sabia que alguma coisa grande estava para acontecer naquela luta. Um dos meus córners estava comigo, e eu tentava contar a ele sobre isso e eu não conseguia nem falar. Eu continuar engasgando, eu estava chorando, e depois ele começou a chorar, eu nunca tive nada parecido com isso acontecendo comigo – se isso foi uma coincidência. No mesmo dia que meu irmão faleceu, poucas horas antes, eu estava literalmente conversando com ele na minha cabeça e menciono o rosário. Eu não o tinha comigo. E eu acho que foi apenas seu jeito de me dizer que ele ainda estava ali. Então, ele manteve sua promessa de olhar por mim, então eu tenho que manter minha palavra, e eu vou pendurar as luvas depois daquela performance”, contou Ricardo Lamas.

Ricardo Lamas estreou no MMA profissional em 2008 e acumulou 20 vitórias e oito derrotas em seu cartel. No UFC, onde construiu grande parte de sua carreira, o veterano chegou a disputar o cinturão peso-pena (66 kg) da organização, em fevereiro de 2014, mas acabou derrotado pelo então campeão José Aldo.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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