Siga-nos

Notícias

Rani Yahya comemora presença no UFC Brasília e minimiza inconvenientes de se lutar em casa

Rani Yahya vem de sete triunfos em suas últimas dez lutas no UFC – Jon Roberts/ Ag Fight

No dia 14 de março, Rani Yahya volta a competir em sua cidade natal após mais de três anos. O peso-galo (61 kg) encara o peruano Enrique Barzola, no UFC Brasília, visando reverter o resultado de sua última luta, na qual saiu derrotado por Ricky Simon. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, o faixa-preta – nascido e criado na capital federal – celebrou o fato de lutar novamente ‘em casa’, e minimizou os pontos negativos que a pressão de se apresentar diante de amigos e familiares traz.

Como tudo na vida, lutar em sua cidade natal traz prós e contras para um atleta. Ao mesmo tempo em que a torcida a favor pode ajudar durante o combate, os inúmeros pedidos de membros da família e amigos próximos por ingressos, por exemplo, podem desconcentrar um lutador na semana pré-evento. À Ag. Fight, Rani afirmou que aprendeu a lidar com essas situações ao longo de sua carreira, e contou até mesmo com a ajuda de um livro para focar mais em si mesmo e menos em agradar a todos.

“É uma luta muito importante para mim, é um retorno, uma luta em casa, que acrescenta muita coisa. A expectativa é a melhor possível, a última vez (em Brasília) foi em 2016, e sempre foi muito bom lutar em casa. O fato de eu ter sido nascido e criado em Brasília, ter vivido minha vida toda ali, acho que favorece muito. Eu até vejo outros lutadores falando que em casa você tem agilizar questão de ingresso (para amigos e familiares), e realmente isso é uma coisa que acontece, mas lutar no quintal de casa para mim é bom demais. Eu lido de uma forma tranquila, é uma coisa que faz parte do jogo. Temos que saber lidar com coisas externas, que podem tirar um pouco seu foco da luta. A gente vai atingindo uma certa idade, até mesmo o próprio desenvolvimento pessoal, que a gente procura não ter que agradar a todos”, declarou Rani, antes de se aprofundar no assunto.

“Faço acompanhamento psicológico, dentro dessa área esportiva, e já tenho experiência de lidar com isso, muitas lutas. Ano passado eu li um livro que me ajudou muito nessa parte, chamado ‘A incrível arte de tocar o f***-se’. É muito interessante, quando conseguimos focar em nós mesmos, a gente acaba influenciando mais pessoas do que quando tentamos agradar todo mundo”, contou o lutador.

Atualmente fora do ranking top 15 do peso-galo, mesmo com apenas duas derrotas em seus últimos dez confrontos, Rani tem consciência da importância crescente no papel do lutador fora de competição. Porém, o ‘trash talking’ e a bravata normalmente não fazem parte de sua personalidade. Comedido em sua postura e nas declarações, o brasileiro sente dificuldade neste aspecto do negócio, apesar de admitir que tem tentado modificar aos poucos suas atitudes, especialmente ao pegar o microfone do UFC no pós-luta. Ainda assim, segundo ele, o processo tem sido lento e natural, até mesmo para que não soe como algo forçado.

“Pensei (em mudar a postura). Na verdade, eu comecei a forçar um pouco a barra no ano passado, mas eu acabei ficando na minha porque eu acho que é melhor a gente fazer as coisas que queremos fazer. Mas no ponto que eu estou na minha carreira, e como a empresa (UFC) está funcionando, para você se manter e crescer, você tem que estar o tempo todo botando as cartas na mesa. Por exemplo, quando você tem a oportunidade de pegar o microfone em cima do octógono, na verdade ali é uma oportunidade boa de você crescer, desafiar alguém. O esporte cresceu de uma maneira que a gente tem que entender como podemos entreter as pessoas, que são quem mantém a gente lá. Então, eu estou deixando isso acontecer de uma forma natural. Eu entendo como funciona o esporte, mas sem forçar muito a barra, de ter que falar de alguém, criticar. Existe um respeito entre todos os lutadores, mas ao mesmo tempo existe algo pessoal entre todos eles porque todo mundo quer a mesma coisa”, contou Yahya.

Como um lutador que não vê a autopromoção como algo natural, Rani não concorda com a provável próxima disputa de título de sua divisão. Ao que tudo indica, José Aldo – ex-campeão peso-pena (66 kg) do Ultimate – será o próximo desafiante ao cinturão dos galos, atualmente em poder do falastrão Henry Cejudo. Ambos vêm trocando provocações nas redes sociais, e através da imprensa, no sentido de promover o possível duelo. Ainda que demonstre respeito pelo passado do manauara, Yahya demonstrou incômodo com o fato do ‘Campeão do Povo’ estar próximo de um ‘title shot’, mesmo tendo estreado com derrota na nova categoria.

“Acharia justo (Aldo receber o title shot) se ele tivesse vencido a luta com o Marlon. Se tivessem levantado a mão dele naquele dia, aí seria justo. Inclusive a luta foi muito parelha, eu achei que o Marlon venceu a luta, mas foi equilibrada. Poderiam ter dado pro Aldo e do mesmo jeito que argumentaram do lado do Aldo, iriam argumentar para o lado do Marlon. Agora, eu acho que tem gente que está na fila que merece mais que o Aldo. Não é que eu não queira ver o Aldo lutando pelo título, eu gosto dele, da história dele, é um brasileiro, querer vê-lo lutando pelo cinturão, eu quero. Inclusive eu acho que ele teria boas chances contra o Cejudo na luta em pé, mas em questão de merecimento tem outras pessoas que merecem mais. O Sterling, que ficou um pouco apagado porque operou e ficou afastado, o Petr Yan está sendo o nome mais falado agora porque nocauteou, e ele realmente é muito bom. E até mesmo o Dominick Cruz, pelo que ele fez, pelo tempo em que foi campeão, ficou afastado, acho que ele também mereceria e faria uma boa luta com o Cejudo”, concluiu o brasiliense.

No MMA profissional desde 2002, Rani Yahya acumula 26 vitórias, dez derrotas e um no contest (luta sem resultado). O peso-galo, que compete pelo UFC desde 2011, participou do card nos dois eventos realizados pela organização em Brasília, e fará sua terceira luta na sua cidade natal na carreira.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

Mais em Notícias