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Proibições ou novas regras? Especialistas analisam futuro para o jiu-jitsu esportivo brasileiro

Fabrício Werdum e Renzo Gracie analisaram a situação atual do BJJ – Diego Ribas

Em setembro deste ano foi realizada a 13ª edição do ADCC, maior evento de luta agarrada do mundo. O show foi marcado por vitórias surpreendentes e os atletas estrangeiros conseguindo uma superioridade pouco vista, até então, sobre os brasileiros. Mas qual seria o grande motivo da evolução dos ‘gringos’ e por quê eles passaram a lutar em pé de igualdade contra feras do jiu-jitsu brasileiro? Muito dessa nova tendência se deve à base de cada atleta nas artes marciais. Enquanto os brasileiros competem sob as regras do jiu-jitsu espotivo, onde chaves de tornozelo são proibidas e ataques no joelho liberados apenas para faixas-marrons e pretas,a maioria dos americanos crescem esportivamente mesclando competições de wrestling e grappling (modalidade sem kimono onde estes ataques são permitidos). Dessa maneira, a reportagem da Ag.Fight buscou explicações de renomados atletas que já tiveram experiência neste tipo de competição.

Campeão do ADCC em 2007 e 2009, além de ter sido dono do cinturão peso-pesado do Ultimate, Fabrício Werdum sempre foi conhecido por ter um jogo de chão de excelência qualidade, tanto em eventos com ou sem kimono. Desta forma, o veterano, conhecedor dasmais variadas regras e detalhes do esporte, não pensou duas vezes antes aprovar as atuais regras da IBJJF (Federação Internacional de Jiu-Jitsu Brasileiro) e deixar a cargo de cada atleta buscar sua própria evolução e aprendizado de acordo com cada modalidade queira competir.

“O grappling de hoje está bem voltado para chave de pernas e vejo que cada vez mais as pessoas estão sabendo defender. Nosso jiu-jitsu, bem tradicional, no básico, a gente não aprendia muito. No jiu-jistu de competição de quimono não pode chave de calcanhar. Mas eu acho bem importante treinar mesmo sabendo que não vai valer nas competições. Acredito que na de grappling tem que valer sim. Acho muito boa essa regra que vale de tudo quanto é jeito, chave de perna, guilhotina, chave de braço, tem que valer tudo. No quimono, como tem regra tem que manter assim. Acredito que mudou muito por isso, estão especialistas na chave de perna”, disse o peso-pesado gaúcho.

Robert Drysdale também já teve a experiência de chegar ao lugar mais alto do ADCC, no absoluto (categoria sem limites de peso) em 2007, e também no mundial de jiu-jitsu com kimono, em 2005. Com a vivência de ter participado de competições de luta agarrada, tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos, onde mora atualmente, o faixa-preta confia que chegou o momento das academias brasileiras deixarem antigas crenças para trás e colocarem seus lutadores para treinarem tudo que envolve o combate no solo.

“Está na hora do jiu-jitsu brasileiro evoluir. Tem muito preconceito em relação a chave de calcanhar. O que mais machuca é transição e queda. Vão proibir? Machuca muito mais, sempre permiti na aula. Muito disso é baseado em preconceito e falta de conhecimento da posição. Mas o tempo de recuperação de uma chave de calcanhar é mais longo e tem a questão da alavanca ser curta. Tem pouco tempo para o sujeito bater, mas mesmo assim é questão de educação”, disse Drysdale, complementando sobre a legalização deste golpe em campeonatos de quimono.

“É uma análise da regra, nível faixa-preta, marrom, que são praticamente profissionais, e legalizar a chave de calcanhar, que acho que seria um grande avanço. Sempre fui contra a chamada de guarda. Acho que isso tinha que ser punido com uma negativa (ponto a menos). Ele está fugindo de uma luta em pé. A posição de cima é uma posição dominante e acho bom estar sempre lembrando isso. Hoje temos pessoas que vão da branca a preta vencendo tudo e não sabe dar uma queda. Isso é uma falha no jiu-jitsu brasileiro e que acho importante ser consertado”, ponderou.

Campeão em eventos com ou sem quimono, além de torneios de vale-tudo e MMA, Renzo Gracie também seguiu a linha de Drysdale. Dono de uma das principais academias dos Estados Unidos, localizada em Nova York, o faixa-preta tem como experiência reunir atletas de nacionalidades distintas e por vezes praticantes de modalidades diversas. Talvez por isso, ele prega por uma maior troca de experiências, umavez que algumas das principais equipes do Brasil teriam parado no tempo nos quesitos treinamentos e preparação dos seus atletas. Em consequência deste fato, os lutadores brasileiros correm o risco de perder sua hegemonia em campeonatos de luta agarrada.

“Minha vida inteira eu dava chave de pé, chave de perna. A gente estudava, porque os russos usavam o sambô, e eram bons nisso. Eu tive a chance de cedo treinar com europeus que atacavam a chave de perna e chave de pé. Então eu sempre acreditei que um lutador de jiu-jitsu devia saber tudo, devia ter conhecimento de tudo, de qualquer situação que ele poderia se encontrar. Ao mesmo tempo não podia reclamar que isso vale ou isso não vale. Aprendi jj a minha vida inteira acreditando que era feito para qualquer situação. Lembro que a gente falava que se o cara bateu, é jiu-jitsu. Se o cara gritou, é jiu-jitsu. Então acho que é uma evolução do esporte. Ficar limitando regras, dizendo que não pode pegar isso, não pode pegar aquilo, na verdade está despreparando os nossos lutadores de jiu-jitsu. Vai chegar uma hora que você não vai ver mais lutador de jiu-jitsu dentro do UFC, da maneira que está sendo feito”, destacou.

Um dos principais representantes do jiu-jitsu no UFC, Antônio ‘Cara de Sapato’ reconhece que os brasileiros estão cada vez com mais dificuldades de fazer a transição das competições de luta agarrada para o MMA. Além da diferença das regras já citadas, o estilo atual que permite competidores a se dedicarem quase que exclusivamente a um estilo (guardeiro oou passador) os deixam presos a posições que não são eficazes em combates reais. Para ele, é preciso uma adaptação para fazer sucesso na modalidade.

“Acho que o pessoal que se prende muito nesse tipo de guarda – guarda lapela, guarda 50/50 – quando bate de frente no MMA, jiu-jitsu sem quimono, se atrapalha um pouco. Eu mesmo usava muito berimbolo e me atrapalhei um pouquinho, tanto que depois tive que mudar meu jogo, colocar mais pressão, de passagem. Isso pode atrapahar. Acho que se for um jiu-jitsu mais básico é mais fácil quando você migra do jiu-jitsu para o MMA. Eu falo por experiência, tive dificuldade, porque sou guardeiro e no MMA você encontra mais dificuldade de fazer esse jogo por baixo”, resume.

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