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‘Pedrita’ admite psicológico abalado após derrotas, mas promete melhor versão no UFC

Priscila ‘Pedrita’ busca sua primeira vitória no UFC neste sábado (22) – Fábio Oberlaender

Neste sábado (22), Priscila ‘Pedrita’ encara Shana Dobson no UFC Nova Zelândia em busca de sua primeira vitória pela organização. Com três derrotas consecutivas – as primeiras de sua carreira -, a brasileira admitiu, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, que seu psicológico foi abalado, especialmente pelo revés sofrido no debute nos octógonos, diante de Valentina Shevchenko. Apesar disso, a lutadora, que procurou ajuda profissional para superar o momento difícil, prometeu mostrar ao mundo a sua melhor e verdadeira versão na próxima apresentação.

Após construir uma trajetória invicta, com oito vitórias, no Brasil, Priscila realizou o sonho de assinar com o UFC.  Confiante, a lutadora peso-mosca (57 kg) teve pela frente em sua estreia Valentina Shevchenko, mas uma lesão no joelho sofrida logo no início do combate atrapalhou seus planos de debutar com o pé direito. Ainda que admita a superioridade técnica da atual campeão da divisão, ‘Pedrita’ –  embalada pelo ótimo momento vivido até então em sua carreira – apostava que um golpe poderia derrubar a adversária. O massacre, nas próprias palavras da brasileira, aplicado pela quirguistanesa durante o duelo teve ressonância física e psicologicamente na novata.

Obrigada a passar por cirurgia devido à lesão no joelho, Priscila viu amigos se afastarem e a inatividade de mais de um ano assombrar seus pensamentos. Recuperada, ‘Pedrita’ retornou do período afastada em março do ano passado, contra Molly McCann, mas ainda abalada, a lutadora novamente não conseguiu ter um desempenho que lhe garantisse o triunfo. Com média de quatro lutas por ano em sua carreira antes de assinar com o Ultimate, a brasileira aceitou uma nova luta menos de dois meses depois, mas outra vez foi superada na decisão dos juízes, desta vez por Luana ‘Dread’. Agora, entretanto, a atleta da ‘PRVT’ garante estar bem psicologicamente para provar seu valor ao Ultimate e aos fãs do esporte. Com a ajuda de profissionais especializados, além da família e de amigos, a carioca promete ter superado o momento ruim e estar pronta para iniciar uma sequência positiva na organização.

“Quando meu mestre me apresentou essa luta, ele disse: ‘Pedrita, pode ser que contra essa a gente consiga se apresentar melhor, porque você ainda não conseguiu mostrar a minha Pedrita do Brasil, que fez oito a zero no Brasil e entrou para o UFC. Ela ainda não apareceu no octógono do UFC’. Passei por muitos problemas psicológicos depois da luta da Valentina, e eu acredito que para essa luta o meu psicológico esteja bom, e com certeza eu vou conseguir apresentar a verdadeira Pedrita. Eu vinha em uma sequência de lutas, uma atrás da outra. No Brasil eu lutava já com outra luta marcada. Eu não parava, era treino, era intensidade, luta atrás de luta, vitória atrás de vitória. Aí entrei para o UFC e realizei um sonho. Aceitei logo a luta com a Valentina de cara, foi onde eu lesionei o joelho e tomei aquele massacre. Isso mexeu muito com a minha cabeça porque eu fui muito confiante. Eu sabia do risco, da responsabilidade, eu sabia que a Valentina tecnicamente é muito superior a mim, e a chance de vencer aquela luta seria uma mão entrar. Mas eu estava muito confiante, com auto estima lá no alto e achei que ia entrar uma mão e ela iria cair. Não foi o que aconteceu, logo nos 30 primeiros segundos de luta, meu joelho estourou e eu não consegui fazer nada. No dia seguinte quando eu acordei, eu vi as redes sociais: ‘Surra, massacre’. Todos os que diziam ser amigos se afastaram, então isso mexeu muito com a minha cabeça”, revelou ‘Pedrita’, antes de completar.

“Eu vinha em uma sequência de lutas e vitórias, e do nada me vi em uma cama, com a perna esticada um mês, sem poder levantar. Isso mexeu muito com a minha cabeça. A luta de Londres eu ainda tentei voltar, mas ainda estava muito abalada. A primeira queda que eu tomei da Molly no primeiro round me fez lembrar a Valentina, e eu não consegui fazer o que eu treino para fazer. Depois quando eu aceitei a luta muito em cima contra a Luana ‘Dread’, eu também ainda não estava com a cabeça 100%. Mas eu garanto que para essa luta (de sábado) minha cabeça está ótima. Eu consegui voltar, meus treinos estão a todo vapor e dessa vez a Pedrita vai se soltar dentro do octógono, vocês vão conhecer a verdadeira Pedrita. Recebo ajuda psicológica do Clube de Regatas Vasco da Gama, eles me patrocinam e me dão todo o apoio. E também tem o Allan Magalhães, hipnólogo, que é um cara incrível e que me ajuda muito nesse processo de recuperar mentalmente. Ele não só trabalha a minha mente, como ele senta e conversa, ele é um amigo que me ajuda muito. Eu quero chegar lá e mostrar quem eu sou de verdade. Se eu conseguir isso, com certeza essa vitória vai vir como consequência. Só preciso chegar lá e mostrar a Pedrita que sabe lutar de forma inteligente. Não uma Pedrita louca dentro do octógono, que é como eu estava me apresentando. Preciso mostrar uma Pedrita que é agressiva sim, mas que sabe o que está fazendo. E essa Pedrita vai lutar e dessa vez ela vai vencer”, prometeu a brasileira.

Além do abalo psicológico com as derrotas e o período lesionada, ‘Pedrita’ ainda passou por outra situação desagradável recentemente. Escalada para encarar Ariane Lipski no último UFC São Paulo, realizado em novembro do ano passado, a carioca foi retirada do card em cima da hora por ter sido flagrada em um exame antidoping fora de competição. A substância hidroclorotiazida, proibida pela USADA (agência antidoping americana), entrou em seu organismo através de um remédio para pressão alta ministrado por sua mãe, que é enfermeira, durante um pico de hipertensão da lutadora. A justificativa apresentada foi aceita pela entidade, que aplicou uma pena de apenas quatro meses na atleta. A punição, considerada branda mesmo em casos onde não há intenção clara de se beneficiar, pegou até mesmo Priscila de surpresa.

“Confesso que eu nem esperava uma suspensão tão curta, mas eu acredito que eles entenderam que não foi proposital porque quem iria tomar um diurético faltando um mês para lutar. Não houve má intenção, foi realmente um acidente. Eu estava passando mal, resolvendo problemas financeiros, quando eu cheguei na minha mãe eu falei que não estava passando bem. Estava com uma dor na nuca e minha cabeça parecia que ia explodir. Ela verificou minha pressão, minha mãe é enfermeira, e mãe não vai pensar, ela só botou o remédio na minha língua para eu ficar bem. Expliquei toda a situação e graças a Deus eles entenderam que não foi má intenção. Normalmente os lutadores tomam diurético faltando poucos dias para ajudar no corte de peso, mas porque eu tomaria um diurético faltando um mês para a minha luta? Não tem sentido, não foi algo proposital. Mas graças a Deus, eles reconheceram e não me deram um gancho tão grande”, finalizou a carioca.

No MMA profissional desde 2016, Priscila ‘Pedrita’ acumula oito vitórias, sendo quatro por nocaute, e três derrotas em seu cartel. Menos experiente, Shana Dobson, sua rival no UFC Nova Zelândia, possui três triunfos e o mesmo número de reveses na carreira.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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