Paulo ‘Borrachinha’ sofreu este ano uma punição da USADA (agência antidoping americana) após ter sido revelado um vídeo em que fazia uso de soro intravenoso às vésperas de uma luta. Embora a suspensão retroativa de seis meses já tenha sido aplicada e não o tenha impedido de marcar nenhum combate, a situação gerou um tenso rompimento dentro da equipe do peso-médio (84 kg). O mineiro afirmou, em entrevista exclusiva à Ag. Fight, que o responsável pelas imagens — e pelo vazamento delas — foi um ex-treinador, que, inclusive, teria tentado praticar extorsão contra ele.
Em nota oficial da USADA, a entidade afirma que a sanção, além de multa de cerca de nove mil dólares (cerca de R$ 37 mil) foi referente a duas utilizações de soro intravenoso distintas, cuja aplicação permitida era de no máximo 50 ml em 2017, quando os combates do UFC 212 e do UFC 217 aconteceram.
Conforme relatou ‘Borrachinha’ à Ag. Fight, em um dos eventos citados, um treinador de boxe que dividia o quarto com sua equipe filmou o momento no qual foi usado o soro e, posteriormente, exigiu dinheiro para que as imagens não fossem divulgadas. O número 8 do ranking peso-médio garantiu que jamais tentou negociar com o treinador e que a partir desse momento o desligou do time, do qual fez parte por cerca de cinco anos.
“Com certeza isso aí foi um delator, um X-9, com certeza. Já foi identificado, cortado e retirado da equipe. Essa pessoa tentou mandar para várias pessoas, é uma situação tragicômica. Na verdade, ela se prejudicou bastante, porque ela foi cortada, ela fazia parte da equipe e traiu a confiança não só minha como de todos os lutadores, acredito. É um treinador, então não sei como um treinador pode obter a confiança de qualquer atleta ou dono de academia, porque, se faz isso com um atleta, fará com outro. Então, esse cara tem que ser banido do esporte. Eu fui prejudicado, mas ele com certeza foi muito mais prejudicado pela própria atitude dele”, declarou.
“Quando fiz o uso do soro, ainda podia fazer o uso de 50 ou 100 ml, se não me engano (nota da edição: a quantidade permitida era de 50 ml). Não lembro ao certo. Então, fiz o uso porque precisava, passei mal e precisei fazer o uso do soro junto com a medicação. Então, ele tentou usar esse curto momento para tentar me prejudicar e me extorquir com esse vídeo. Falou: ‘Se você não me der tanto de dinheiro…’ Aí quebrou totalmente a confiança e eu obviamente não aceitei negociar, porque tinha convicção do que eu estava fazendo e acabou dando nisso aí”, acrescentou.
‘Borrachinha’ disse ainda à Ag. Fight que o ex-técnico citado pediu “uma quantia alta” para não divulgar o vídeo, que acabou vindo a público posteriormente. Paulo no entanto, relatou que antes daquele momento nunca havia percebido nada de desabonador por parte da conduta do integrante da equipe.
“Ele estava no ciclo mais íntimo. Você vê que onde foi feito o vídeo, ele ficava ali junto, dormia no mesmo quarto, então é uma pessoa que eu errei de confiar porque ela não merecia confiança. (…) No UFC, eu tive esse treinador em uma luta e na segunda luta ele já fez isso. Eu acredito que ele tenha pensado: ‘Ele está no UFC, está ganhando bastante dinheiro, vou extorquir’. Trabalhava com ele havia uns quatro, cinco anos antes do UFC. Mas não tinha extorsão porque não ganhava dinheiro (risos)”, falou.
Enquanto o imbróglio era travado com a USADA e comissões atléticas deforma sigilosa até a elucidação do caso, Borrachinha passou a ser alvo também de Yoel Romero, seu futuro rival no octógono, que levantou publicamente o rumor de que o atleta havia sido flagrado em um teste antidoping. Tal postura incomodou o brasileiro, que revelou que usou a provocação como forma de motivação para o confronto.
“Isso serviu como motivação, uma vontade, uma raiva”, declarou o atleta. “Me deu uma raiva de ver isso e essa raiva me deu um pouco de motivação, se transformou em motivação. Do tipo: ‘Vou quebrar ele, vou arregaçar ele’. Para punir ele pelo o que ele falou. Ele é um cara muito notável, o que ele fala repercute bastante, e ele falou que viu que eu caí no doping. No início foi muito ruim, porque até que você prove que não tem nada a ver com doping, você é manchado e depois tem que limpar a imagem. Então, fiquei com raiva de ele ter sido tão fofoqueiro. Porque era uma fofoca. Ele falou uma coisa sobre a qual ele não sabia. Era só ‘eu acho’ e tal. Então, eu levei para o lado pessoal e estou com isso guardado para soltar isso lá no momento da luta”.
Sem lutar desde julho de 2018, quando nocauteou Uriah Hall, Paulo ‘Borrachinha’ volta ao octógono no dia 17 de agosto, no esperado embate contra Yoel Romero, atual número 2 do ranking da categoria. O mesmo evento marca o retorno de Nate Diaz ao UFC, após três anos de inatividade, diante de Anthony Pettis. O show será encabeçado pela revanche entre Daniel Cormier e Stipe Miocic.