No MMA moderno, cada vez mais os atletas se tornam mais completos e se tornam capazes de não apenas aprender como a fazer uso de fundamentos de variadas artes marciais. No entanto, mesmo nos dias de hoje, há quem se destaque e consiga manter o alto rendimento sendo especialista em apenas uma modalidade. Demian Maia, com seu jiu-jitsu refinado, é um bom exemplo disso. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o brasileiro explicou que não basta, apenas, ser craque em uma arte. Em entrevista exclusiva à equipe de reportagem da Ag Fight, o veterano fez uma profunda análise técnica sobre o tema e revelou que o que realmente importa, em termos de competição, são as transições.
Na contramão do que prega o conceito de MMA, Demian minimizou a importância de afiar todas as áreas da luta. Em sua análise, o mais importante para o sucesso de um atleta é aprimorar a tática de jogo que permita com que ele execute o seu ‘carro-chefe’ durante cada combate. Portanto, por mais que você seja especialista em uma arte, isso não necessariamente significa que você conseguirá tirar proveito dela em uma luta, a menos que você trabalhe os meios para isso.
A visão de Maia pode ser claramente exemplificada em seus confrontos no Ultimate. Um dos maiores representantes do jiu-jitsu dentro do MMA, o brasileiro se especializou em formas que o permitem explorar sua arte suave ao máximo – majoritariamente com táticas de aproximação e ganchos aplicados nas pernas de seus rivais, que desequilibram e os levam ao solo. Esse, inclusive, é o maior conselho que Demian, aos 41 anos, deixa para os jovens prospectos da modalidade, como Kron Gracie e Rodolfo Vieira, que recentemente assinaram com o UFC.
“(Meu conselho seria) Para acreditar no jiu-jitsu, desenvolver treinos que eles possam usar o que eles fazem de melhor. Porque é muito fácil, como nosso esporte é muito novo e não tem treinadores especializados, você vai pegar a maioria dos treinadores que vão pelo caminho mais comum, que é: ‘Você tem que ficar bom disso, nisso e nisso’. Quando, na verdade, o grande segredo não é você ficar bom em cada coisa, e sim ficar bom nas transições para aplicar o que você faz bem. Se você é striker, a grande transição é como você caminha, como se coloca para bater sem tomar queda e ficar tomando clinch toda hora. Se você é um lutador mais de chão, como você caminha e usa sua movimentação em pé para clinchar o oponente e, eventualmente derrubar ou puxar para a guarda, depende do estilo de cada um. Ainda não existem treinadores com essa qualidade – muitos poucos. O próprio lutador tem que fazer esse exercício mental e criar exercícios para ele usar o que ele tem de melhor. Sem perder muito tempo em querer ficar completo, e usando esse tempo para alavancar o que você faz de melhor”, detalhou o brasileiro.
Aos todos, já são 12 anos dedicados ao Ultimate, período em que realizou 30 combates no octógono. Curiosamente, após tanto tempo é que o brasileiro terá, de fato, o verdadeiro ‘teste de fogo’ ao seu estilo e visão de do MMA. Afinal de contas, o brasileiro encara, na luta principal do UFC Cingapura, neste sábado (26), outro especialista na luta agarrada, o wrestler Ben Askren. Mas apesar de, teoricamente, representarem artes marciais distintas, Maia garante que ele e seu adversário são oriundos do mesmo modelo de competição.
“Concordo, acho que sim (somos os maiores representantes da luta agarrada). Porque eu e ele somos os que mais jogam o grappling puro mesmo, buscando mesmo a luta agarrada. Tem muitos lutadores excelentes de luta agarrada, mas quando eles atuam, não buscam somente a luta agarrada, são mais híbridos, mais lutadores de MMA mesmo. E a gente, tanto eu quanto ele, somos bem característicos de luta agarrada, de grappling. Então acredito que hoje em dia a gente é o que mais representa essa área da luta no MMA”, opinou Maia, antes de comparar seu jogo com o de Askren.
“Acredito que o jiu-jitsu, independentemente do que acontecer na luta, ainda é a principal arte marcial do MMA. Porque ela busca o que o MMA busca, que é finalizar a luta. Mas a gente tem que lembrar que tanto eu treino bastante wrestling quanto ele treina bastante jiu-jitsu. Então acho que mais do que um confronto de jiu-jitsu vs wrestling, é um confronto de grapplers. Grapplers que são mais puros mesmo, que não são lutadores que buscam a trocação. Se pegar as minhas lutas e as dele, vai ver que buscamos a luta agarrada o tempo inteiro”, concluiu o meio-médio (77 kg), em conversa com a Ag Fight.
Além do confronto diante de ‘Funky’, Maia possui mais dois combates previstos em contrato com o Ultimate. A previsão é de que o brasileiro pendure as luvas na temporada de 2020, uma vez que o mesmo já deixou claro que não pretende renovar seu vínculo com a liga de MMA mais famosa do planeta.