Rogério ‘Minotouro’ pretende se aposentar após enfrentar Maurício ‘Shogun – Gaspar Bruno
Com o terceiro combate da trilogia contra Maurício ‘Shogun’ agendado para o dia 9 de maio, no UFC 250, em São Paulo (SP), Rogério ‘Minotouro’ vive, assim como seus colegas de card, a incerteza sobre a realização do evento na data e local programados. A batalha travada contra a pandemia do novo coronavírus obrigou autoridades de todo o globo a adotar medidas drásticas visando o controle da propagação da doença, como: fechamento de fronteiras, quarentena e isolamento social, proibição de aglomeração de pessoas, entre outras determinações, que contribuíram para o cancelamento de três edições do Ultimate e colocam um ponto de interrogação sobre os próximos shows marcados.
Tanto com lutador quanto como homem de negócios, Rogério vive na pele as dificuldades consequentes dessa crise mundial de saúde, que também começa a impactar a economia. Se dividindo entre os treinos adaptados à nova realidade e os compromissos administrativos da ‘Team Nogueira’, além de suas obrigações familiares – com dois filhos pequenos em casa -, o veterano admitiu, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, que não gostaria de ser o responsável por tomar a difícil decisão final sobre a realização ou não do UFC 250. Entusiasmado por ter conseguido a chance de derrotar seu rival de longa data pela primeira vez no que deve ser o último combate de sua carreira, o baiano refutou qualquer chance de se aposentar sem este confronto final contra ‘Shogun’, mesmo que o mesmo seja adiado.
“Ainda não tive nenhuma posição, perguntei para o Joinha, andei questionando, porque Brasília, por exemplo, já disseram que vai ficar tudo fechado até dia 31 de maio. Então, não sei se teria o evento se fosse em Brasília, mas como vai ter evento em São Paulo? Eu prefiro não ser a pessoa a tomar essa decisão. Por mim, eu volto a trabalhar, como eu estou tentando manter de algum jeito. Eu vou na academia, filmo as aulas, então de alguma forma eu estou trabalhando, prestando meus serviços. Mas não quero ser o cara da decisão. Pelo Dana White, eu sei que ele voltaria, pelos atletas acredito que a maioria voltaria também. Eu quero lutar, voltaria a lutar amanhã, mas a gente depende da lei, de quem vai dar a canetada. Em qual país a gente vai lutar? Como a gente vai chegar lá? Tudo isso vai envolver uma série de fatores. Se (for realocado para os Estados Unidos) o governo americano vai dar o visto (de trabalho para os lutadores estrangeiros), se na Flórida vai poder ter o evento, mesmo que seja fechado (ao público). Com tudo isso, eu me arriscaria a viajar para lutar com o Shogun, mas tem que saber se vai ter as condições e se o evento vai ser mantido. Eu estou treinando, gostaria de lutar, esse é o meu desejo. Mas dizer que a gente está treinando nas melhores condições possíveis seria mentira, porque eu estou sem fazer sparring, o treino não é o mesmo, então está longe de ser com as condições perfeitas”, relatou ‘Minotouro’, antes de descartar uma aposentadoria antes de “resolver suas pendências” com o compatriota dentro do octógono.
“Eu quero muito fazer essa luta. Acho que eu faço essa luta até com 50 anos (risos). Eu estava até pensando em ligar para o Shogun para a gente fazer um fight na rua, gravar, transmitir ao vivo na internet (risos). Uma vez eu vi um documentário do Muhammad Ali, ele encontrou com o Joe Frazier, os dois jantaram e combinaram de fazer uma última luta para ganhar dinheiro. Foi muito maneiro porque no final os dois acabaram virando amigos. É aquele negócio, a gente é profissional, só fizemos lutão, as duas lutas foram consideradas lutas da noite. A primeira luta nossa foi considerada como a luta da década. Dez anos depois a gente voltou a se enfrentar, já em outras condições e não tão jovens, mas conseguimos fazer uma grande luta novamente. Então a expectativa é que a gente esteja treinado, em boas condições, e consiga fazer uma luta para não decepcionar o público. Eu só vejo a possibilidade de me aposentar (sem essa luta) se o Dana White ficar dois anos sem conseguir promover um evento (risos)”, brincou o veterano.
Com as restrições impostas pelas autoridades para combater a propagação do COVID-19, muitos lutadores têm tido dificuldade para manter uma rotina de treinamentos adequada, e ‘Minotouro’ não foge à regra. Para amenizar esse contratempo, o baiano adaptou alguns de seus treinos e aproveitou as aulas à distância que grava na academia da ‘Team Nogueira’ para manter-se em bom ritmo na preparação. Além do aspecto esportivo, Rogério também precisou se acostumar com as mudanças na vida pessoal, principalmente relacionadas aos seus filhos.
“Agora é ter paciência, esperar, ver se vai ter o evento. Se remarcar, treinar de novo e se manter treinando. Hoje eu já dei um treininho. Fiz um pouco de jiu-jitsu, boxe sozinho, estou adaptando, batendo saco. Faço umas lives e, no meio da aula, eu acabo treinando também. Quando eu vejo, já tem três horas de treino e estou todo suado, treinando com eles, me empolgo (risos). Abrimos uma plataforma EAD também, estou filmando os vídeos de treinos”, contou o meio-pesado (93 kg) do UFC, antes de comentar sobre as mudanças na rotina em sua vida pessoal.
“Eu estou tendo que me adaptar muito. Estou com duas crianças de três anos em casa. Tenho uma filha de dez anos que mora em Jacarepaguá e eu não estou podendo ver, porque eu sou separado da mãe dela e ela mora com a avó, de 84 anos. Então, eu não quero ter contato porque às vezes eu tenho que sair na rua para ir ao supermercado ou na farmácia e posso ter contato com alguém (infectado), aí ao visitar minha filha eu posso terminar passando para a avó. Então temos que respeitar a quarentena, ainda mais quando tem alguém de mais idade em casa. Estou com as duas crianças de três anos em casa, cheios de energia, tem que brincar com eles o tempo todo, a rotina mudou”, revelou.
Apesar das incertezas sobre o futuro do UFC 250, Rogério fez questão de dar um voto de confiança à organização. Ainda que Dana White – presidente do Ultimate – tenha recebido muitas críticas por explicitar seu interesse em retomar a realização de eventos o mais breve possível, mesmo com a pandemia de COVID-19 ainda longe de estar controlada, ‘Minotouro’ afirmou que confia no bom senso da entidade na hora de tomar a decisão.
“O UFC vai fazer o que for melhor para os lutadores, não vai colocar ninguém em risco. Qualquer providência que eles tomarem vai ser a melhor possível. Se tiver que fazer dentro de um local fechado, só em um estúdio, como se fosse uma academia do UFC. Dá para fazer o evento em um local pequeno, só para a televisão. Mas tem que ser uma coisa que seja segura. O mais difícil é o deslocamento, com os aeroportos fechados, todas essas coisas influenciam, mas o UFC tem uma responsabilidade muito grande, não vai fazer besteira”, concluiu.
Aos 43 anos de idade, Rogério ‘Minotouro’ já anunciou que o combate diante de Maurício ‘Shogun’ será o último de sua longa e expressiva carreira. O meio-pesado – que já enfrentou o curitibano em outras duas ocasiões, em 2005, ainda pelo extinto Pride, e em 2015, já pelo UFC – busca vencer o rival pela primeira vez. Ao todo, o baiano soma 23 triunfos e nove reveses em seu cartel no MMA profissional, além de uma medalha bronze nos Jogos Pan Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, no boxe amador.