No início deste ano chegou ao fim a parceria de longa data entre Johnny Walker e seu treinador Leonardo Gosling. Entretanto, não foi de maneira amigável que eles decidiram não trabalharem mais juntos, e a separação se deu através de polêmicas e acusações. Após o lutador do UFC afirmar que teve problemas financeiros com seu agora ex-técnico, foi a vez de ‘Lorinho’ abrir o jogo e contar como estava a relação com o meio-pesado (93 kg) do Ultimate. Questão financeira, problemas de ego após chegada ao Ultimate e até envolvimento com mulheres em semana da luta foram temas para o desabafo.
Incomodado com a situação, Leonardo não quis se pronunciar quando foi procurado pela reportagem da Ag.Fight em um primeiro momento. De acordo com ele, a ideia era não ‘queimar’ o lutador do UFC e evitar a exposição pública de situações particulares. No entanto, após a repercussão negativa envolvendo seu nome a um suposto calote, o treinador mudou de ideia. De início, o prejuízo financeiro que o atleta teria recebido foi rebatido de prontidão.
“Fomos para Tailândia, arrumei camp de graça na AKA. Eu que fazia essa parte. (…) Gostamos de lá e dei a ideia de ficarmos, arrumar um lugar para dar aula, ele e o irmão gostaram e consegui um lugar. Eu propus: ‘Vamos construir um Dojo na academia do cara, porque só tem muay thai. Você paga metade e eu pago a outra quando começar a fazer dinheiro’. E ele mandou 10 mil dólares (cerca de R$42 mil) e construímos do zero, tenho as fotos todas. Mas ficou obscuro, não ficou legal lidar com contrato com tailandês, a lei lá é bem louca. A gente não se deu bem realmente e entendemos que era melhor sair, aceitar esse prejuízo – não foram 30 mil, não sei de onde surgiu isso. Tomamos um atraso, não foi calote. Estava ruim, não tinha aluno, a academia era escondida, teria que investir em marketing. Combinei que ia tirar da minha porcentagem e iria amortizando aos poucos esses 5 mil”, disse.
Apesar da insatisfação com a repercussão da história e deixar claro que essa não seria a melhor maneira de resolver tais problemas, Leonardo admitiu que a pressão foi tamanha e ele precisou reagir. A questão do possível ‘calote’ o estava assombrado e ele garantiu que tem o recibo da quantia investida na academia, provando que o valor é três vezes menor do que o divulgado pelo atleta. De acordo com o treinador, o fim da parceria pode ter sido planejado para evitar custos com o treinos aproveitando a falta de contrato entre as partes.
“Acho que eu podia ter dado calote no Johnny, poderia ter feito qualquer coisa, mas o Johnny deveria me preservar porque fui treinador dele. Eu não fui o melhor, mas fui o suficiente para ele chegar até lá. Fui treinador de todas as modalidades, eu não sou bom em nenhuma, mas eu fui de todas. Então, ele tinha que preservar nossa história, ele ter morado comigo, ter ficado comigo esse tempo todo. Porque eu estaria sempre agradecendo, postando, elevando o trabalho do meu mentor, se eu fosse o Johnny. E isso nunca aconteceu, esse reconhecimento. Pelo contrário, eu estou vendo agora que eu era ruim, que ele vai procurar uma coisa melhor, que ele quer evoluir, que não quer perder mais. Ele está completamente ‘baratinado’ com essa derrota. Ele está fingindo que está tudo bem, que ele é forte, mas ele vai inseguro para essa luta, com dúvidas. Eu conheço ele mais do que ninguém, sei das dúvidas que ele tem. Então, espero que quem vá ajudar entenda um pouco dele e possa ajudá-lo”, contou.
E essa mudança de comportamento de Johnny Walker já teria sido percebida por Leonardo. Assim que deu seus primeiros passos no UFC, o lutador conquistou o público com seu jeito irreverente e com os nocautes plásticos aplicados. Dessa maneira, ele rapidamente atraiu seguidores e ganhou os holofotes, cenário este que teria pego Walker desprevenido.
“Na semana da luta ele marcou com uma mulher para ficar com ele no hotel. Eu combinei com uma colega lutadora para ela ir, falei com o Johnny para ver se ele tinha ingresso. Pedi pra ele e ele disse ok. Chegamos lá ele disse que ficaria com ela no quarto, aí eu disse: ‘Pô, Johnny, não vai transar na semana da luta, não é legal, vamos focar na luta’. E ele: “Eu vou destruir ele, relaxa, confia em mim’. Calei minha boca e fui embora, nunca discuti com ele. Na segunda vez que encontrei com ele, pedi o ingresso, ele disse que já tinha dado para outra pessoa. Fiquei bem chateado, mas consegui arrumar um ingresso para ela. Foi isso que ele chamou de estresse”, explicou.
A preparação para o UFC Nova York também foi um tema a ser levantado pelo técnico – o camp do brasileiro aconteceu na Rússia, foi programado por Gosling e realizado de graça. No entanto, o comportamento do atleta já não estava com antes. Sem foco e nem intensidade para treinar, ele lidou com críticas de treinadores por não comparecer nas atividades. Dessa maneira, Leonardo destacou que já sentia que o resultado no octógono não seria positivo e revelou que o lutador ainda descontou mais do que o combinado na sua bolsa final.
“Antes dele perder a luta eu já tinha comentado com algumas pessoas que ele estava muito prepotente, que ia tomar um nocaute. Treinador sente. Aconteceu, tomou ponto no rosto e apertou minha mão. Fez uma contabilidade e descontou minhas passagens do Brasil para Tailândia, da Tailândia para Rússia, sendo que eu estava acompanhando ele para o camp, mas ele descontou porque a bolsa foi pequena. Acabou que ele me depositou menos de mil dólares na minha conta, ou mil dólares exatos. Eu tava com filhos na Rússia, passando aperto, contando com a grana para comprar passagem e levar eles para o Brasil”, lamentou.
Atualmente Leonardo Gosling está em Lisboa (POR) onde está no processo da criação de sua equipe, Invictus. Ele destacou que pretende revelar uma série de lutadores para a nova geração do esporte e mostrar seu valor no mercado novamente, repetindo sua história de sucesso com Walker. Apesar de trabalhar para virar a chave com a polêmica sobre Johnny, o técnico não deixou de mostrar sua tristeza por saber do fim da parceria somente através da imprensa. Porém, ele ainda confia que o atleta do UFC vai se redimir com ele.
“Fiquei sabendo tudo pela mídia, que ele trocou de treinador. Não teve coragem de falar comigo: ‘É assim daqui pra frente, vou continuar pagando seus 10% que foi o combinado”. Ouvia sempre as conversas pelo irmão dele, o Walter. Ele me falava porque ele ficava desesperado, não por fofoca. (…) Ele começou a lidar com treinadores famosos, com empresários que estão oferecendo dinheiro para ele. Ele sabe que meu sonho era ser treinador e manager no UFC, ele sabe da minha origem, o quanto que eu sonhei. Ouvir as declarações dele de que eu não sabia segurar manopla, foram bem pesadas. Acho que eu podia ter dado calote, poderia ter roubado, qualquer coisa, mas ele deveria me preservar. Porque eu fui treinador dele. Não fui o melhor, mas fui o suficiente para ele chegar lá. Fui treinador de todas as modalidades. Não sou bom em nenhuma, mas fui de todas. Tinha que preservar nossa história”, desabafou.
Atualmente Johnny Walker está no Canadá na equipe Tristar Gym em preparação para seu compromisso no dia 14 de março, diante de Nikita Krylov no UFC Brasília. Essa será a primeira luta do brasileiro sem Leonardo Gosling e também sua estreia em solo nacional pelo maior torneio de lutas do mundo.