Recentemente, um debate adentrou o universo das lutas e llevantou o questionamento se processos estéticos poderiam ou não afetar a performance de atletas de alto rendimento. Entre as mulheres, um dos procedimentos cirúrgicos que ganha mais força é o de implante de próteses de silicone nos seios – realizado recentemente pelas lutadoras do UFC Paige VanZant, Claudia Gadelha e Joanna Jedrzejczyk. Fora do mundo do MMA, quem também implantou próteses neste ano foi Patricia Fontes, tricampeã mundial de jiu-jitsu sem kimono, que durante entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight revelou de que forma a cirurgia pode afetar a carreira de uma profissional.
Especialista na arte suave, Patricia compete no peso-pluma (53,5 kg). No entanto, após ter realizado o procedimento estético no corpo, a brasileira de 29 anos admitiu que talvez tenha que subir de categoria – e competir nos pesos-penas (58,5 kg) -, a fim de se adaptar melhor em seu retorno aos tatames. Mas apesar da provável mudança na divisão de peso, a tricampeã mundial de jiu-jitsu garantiu que a cirurgia não deve afetar as suas performances em si.
“Não acredito que a cirurgia vá mudar algo na minha performance, talvez no peso. Exatamente (a cirurgia aumenta o peso). Não estou decidida se quero continuar lutando no pluma mais, ainda estou vendo como meu corpo vai se ajustar, voltar à rotina, metabolismo. Depois disso vou decidir se vou lutar no pluma ou subir para o pena. Mas queria lutar o mundial no pluma de kimono, porque acho que consigo bater o peso uma vez por ano, duas.. Não quero mais forçar meu corpo”, ressaltou Patricia.
Mas a decisão de colocar prótese nos seios, de acordo com a brasileira, veio a calhar. Porque antes mesmo de realizar a cirurgia, Fontes já tinha o desejo de competir na categoria de cima para fugir dos rígidos cortes de peso e dietas intensas ao longo da temporada. Então, segundo a própria, foi como ‘unir o útil ao agradável’.
“No meu caso, quando fiz a cirurgia, já tinha a intenção de mudar de peso, porque acho que é o mais saudável para mim, lutar no pena. Pela minha altura e peso. Então quando fiz a cirurgia, foi uma forma de me forçar a bater o peso mais pesado e não ficar me sacrificando tanto, foi uma estratégia. Se eu precisar mesmo bater no pluma eu bato, mas é mais saudável para mim ser uma peso-pena, não bater peso tantas vezes, não machucar, não ter lesão. Então foi uma forma de me auto sabotar de uma maneira positiva que eu encontrei (risos). Para eu começar a lutar mais pesada, que era algo que já queria”, destacou Fontes, antes de relembrar como passou a competir no peso-pluma.
“Então, tem a (categoria) galo antes da minha, acho que 48 kg. 53,5 kg é a minha de kimono. Sem kimono acho que é 114 pounds (51,7 kg). Sim (sofro para bater o peso), porque eu peso 125, 127 pounds (57 kg), então sempre tive que fazer muita dieta para bater o peso. Comecei a bater o peso na faixa-marrom. Porque treinava com a minha amiga Karen que era peso-pena e não consegui baixar. A gente ia lutar um campeonato e não queria se enfrentar, pegar dois primeiros lugares. Então comecei a baixar para o peso-pluma e os resultados deram certo. Ganhei mundial de marrom na pluma, ganhei a preta e continuei nos plumas durante todos esses anos”, completou a lutadora.
Outro fator que pesou na decisão de realizar a cirurgia estética foram lesões que incomodavam cada vez mais a brasileira. De acordo com Patricia, problemas nos joelhos a impediam de competir e treinar em alto nível. Sendo assim, a especialista na luta agarrada aproveitou o hiato na carreira para se conceder um desejo pessoal – mudar seu corpo.
Mas o implante de silicone, somada a recuperação nos joelhos, estão tomando mais tempo da vida de Patricia do que ela esperava. A cirurgia plástica foi realizada em agosto e, três meses depois, a brasileira ainda não se sente 100% confiante para exercer sua função nos tatames. A faixa-preta admitiu que período afastada do jiu-jitsu de alto nível tem sido delicado para ela.
“Eu esperava (voltar antes), achei que ia ser uma coisa assim de seis semanas (risos). Eu não tinha ideia. É difícil voltar uns passos para trás quando não está acostumada. Também não queria fazer nada de errado, então procurei respeitar meu corpo, se eu estava me sentindo mal, não fazia. Tentei voltar algumas vezes e não me senti bem e parei totalmente, por umas duas ou três vezes”, destacou Patricia, antes de falar sobre o período afastada de sua função de atleta.
“Faz muita falta, não tem com o que esvaziar a cabeça, sinto muita falta de confiança de voltar a competir pelo fato das lesões. Faz falta na rotina, mas por outro lado é bom sair um pouco. Foi a primeira vez em muitos anos que pude sair da dieta. Tinha que ficar batendo peso toda hora, naturalmente peso de 10 a 15 pounds (entre 4 kg e 8 kg) mais pesada do que luto, era muito desgastante, meu corpo sentiu, era um momento que ele precisava de descanso. Mas na minha cabeça sinto falta, porque é o que eu gosto de fazer, é como se não estivesse fazendo o que eu quero, mas é um processo”, completou a atleta de 29 anos.
Enquanto não retorna a velha forma, Patricia vai, aos poucos, se reaproximando dos tatames em treinos mais leves com alunos em sua academia na Califórnia (EUA). A fim de voltar à elite do jiu-jitsu mundial e virar a página da temporada turbulenta de 2019, a brasileira já tem um plano de ação para o ano de 2020.
“Não tenho muita ambição de lutar o mundial esse ano, como me machuquei muito ano passado, acho que prefiro voltar forte para 2020. Não sei, final de janeiro ou fevereiro, estava pensando (em voltar) no europeu, mas não acho que vou, não sei ainda. Assim que virar o ano já quero voltar para as competições, pelo menos o que tiver aqui perto de mim, uns ‘opens’”, declarou, antes de vislumbrar como pretende tocar sua próxima temporada.
“Devo lutar nos penas, os ‘opens’ no início do ano, até para fazer pontuação, porque estou há um tempo sem competir. E o mundial requer pontuação. Tentar lutar o Pan Americano de pena também, voltar tudo ao normal. Prevejo bastante luta em 2020, bem mais que em 2019, porque foi um ano em que estava machucada, tentava e não conseguia”, concluiu Fontes, em conversa com a Ag Fight.
Apesar da dominância demonstrada dentro dos tatames, principalmente na modalidade sem kimono, Patricia afirmou que não pretende migrar para o MMA. A brasileira admitiu que já teve essa intenção no passado. No entanto, o momento, de acordo com o própria, é de focar em sua recuperação e voltar à rotina de outrora apenas no jiu-jitsu profissional.