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Empresário de Demian Maia aposta que ‘Durinho’ vai evitar luta no solo

Demian Maia vem de três vitórias consecutivas no UFC – Leandro Bernardes/PxImages

O combate entre Demian Maia e Gilbert ‘Durinho’ Burns, válido pelo co-main event do UFC Brasília no próximo sábado (14), traz uma enorme expectativa por reunir dois dos principais representantes do jiu-jitsu no MMA mundial. A possibilidade de colocar frente a frente no octógono talvez a dupla de faixas-pretas que melhor conseguiu fazer a transição das técnicas da arte suave para o Ultimate foi inclusive um dos argumentos utilizados pelo próprio ‘Durinho’ ao desafiar o compatriota pelas redes sociais inicialmente. Porém, uma pessoa não está inteiramente convencida de que levar a luta para o chão seja a estratégia do lutador de Niterói (RJ).

Em conversa exclusiva com a reportagem da Ag. Fight, Eduardo Alonso – empresário de Maia – citou a predileção de ‘Durinho’ pela luta em pé em algumas de suas apresentações anteriores para justificar sua crença de que o niteroiense não vá buscar o jogo agarrado no solo, como vem prometendo. Para o agente, a opção pelo jiu-jitsu só aparecerá na estratégia do rival de seu cliente caso ele sinta uma superioridade física por conta de um hipotético cansaço do veterano durante o combate. Apesar disso, o representante de Demian fez questão de elogiar as habilidades de Burns na arte suave e rejeitar a noção de que ele estaria com temor de testá-las contra o paulista, mas revelou que a preparação foi feita para enfrentar um striker.

“A gente tem, lógico, um plano de jogo, como o Durinho com certeza tem o dele. Acho que toda a dinâmica dessa luta, a justificativa pública para essa luta e o anseio dos fãs em relação a essa luta é para um duelo de grappling, já que são dois excelentes grapplers, dos melhores que já lutaram no UFC. Mas, sinceramente, não acredito que é isso que o Durinho vai fazer. Acho que ele vem para fazer um antijogo, vamos dizer assim, de tentar manter a luta em pé. Acho que ele só vai soltar o grappling se ele sentir o Demian cansado e já mais amolecido na mão dele e ele sentir mais facilidade. Acho isso um pouco também fora da minha maneira de pensar a vida, não só a luta. Porque eu acho que se você faz todo um marketing para buscar essa luta, argumentando que é uma luta de grappling, que você quer seguir a bandeira do jiu-jitsu e representar o jiu-jitsu… O Durinho é um atleta completo hoje, vi várias lutas dele no UFC contra strikers que ele mal tentou uma queda durante a luta, então, não vejo por que contra o Demian ele vai estar buscando um grappling se ele não faz isso em luta onde ele tem essa vantagem ainda maior. E eu acho um contrassenso caso isso aconteça. Gostaria muito, (mas) a gente está preparado para enfrentar um striker, com toda a franqueza, mas eu gostaria muito de enfrentar um grappler”, declarou Eduardo Alonso, antes de completar.

“Eu não diria que ele tema o jiu-jitsu do Demian. Eu acho que o Durinho tem, sim, credenciais, qualificação e nível de jiu-jitsu para enfrentar qualquer pessoa. É um cara com um jiu-jitsu excelente. Então, eu não diria que ele teme ou que ele não tem condições de fazer, mas eu não acredito que essa seja a estratégia dele, que esse é o jogo que ele vai implementar. Não acredito que isso seja o plano A dele, nem que ele vá começar a luta dessa forma. (…) Eu acho que ele pode tentar quedas circunstancialmente, mas eu não vejo isso como o plano A dele. Eu estou me baseando em fatos, ele pode ir lá e me provar errado, mas se você observar a carreira dele no UFC, você tem ‘n’ lutas em que ele enfrentou caras piores do que ele no jiu-jitsu e ele praticamente não tentou uma queda na luta inteira. Então, taticamente nada me leva a crer que exatamente contra o melhor adversário de jiu-jitsu que ele enfrentou dentro do UFC ele vá fazer isso. Pode ser que ele me prove o contrário. Volto a frisar, porque eu não quer ser mal interpretado, o recurso para lutar chão com o Demian ele tem, evidentemente. Jamais eu acho que ele vá temer o jiu-jitsu do Demian, mas eu não vejo ele tendo isso como prioridade no jogo dele. E no fim das contas, é uma luta de MMA. Várias vezes o público já teve essa expectativa frustrada. A gente está preparado para lutar com um striker, que é muito bom de jiu-jitsu. O que mais vai acontecer disso, vai depender do quanto a gente vai conseguir impor a nossa tática e qual a tática que ele vai trazer para o jogo, e eu só vou acreditar que essa tática vai realmente levar a bandeira do jiu-jitsu como prioridade na hora que eu ver”, afirmou o empresário de Demian.

O interesse por parte de ‘Durinho’ em enfrentar Demian surpreendeu a equipe do paulista, que inicialmente não via sentido em um duelo entre os faixas-pretas de jiu-jitsu. De acordo com Eduardo Alonso, a boa relação entre os lutadores e a idade avançada do veterano, que deve fazer apenas mais duas lutas antes de pendurar as luvas, eram os principais motivos para evitar o confronto contra o niteroiense. No entanto, a campanha feita pelo rival nas redes sociais e a vontade do UFC, além do desejo de Maia em aproveitar a boa fase e não passar um longo período afastado dos octógonos, falaram mais alto nas negociações.

“Na verdade, é um raciocínio muito simples. A gente tem uma relação boa com o Durinho, sempre teve. Até de forma natural, porque ambos são representantes do jiu-jitsu brasileiro. Então a gente tinha uma relação muito bacana com ele e a essa altura da carreira do Demian, muito provavelmente faltando duas lutas para o fim da carreira, para nós não fazia sentido do ponto de vista motivacional e de prosseguimento de carreira enfrentar um amigo, um cara com quem a gente se dá bem e um representante do jiu-jitsu brasileiro. Realmente a gente preferia um desafio de estilos, contra um cara que tivesse um sentido, em termos de desafio, diferente para o Demian. Por exemplo, o ‘Wonderboy’ (Stephen Thompson), que foi um cara que a gente chegou a pedir para o UFC, mas infelizmente não foi possível. Em São Paulo, especificamente, eu bati um papo com o Durinho no café da manhã e, amistosamente, eu brinquei com ele: ‘Pô, Durinho. Parabéns pela vitória sobre o Gunnar Nelson. Deixa eu te falar, tem um zum zum zum aí no Twitter dos fãs falando sobre um show de grappling entre Demian e Durinho. Cara, nem pede essa luta porque eu não vou aceitar. A gente é amigo, temos que lutar com os gringos’. Não só deixei claro, apesar de um tom amistoso, como ele concordou aparentemente. Então eu realmente fiquei surpreso quando essa luta passou a ser ventilada de forma tão forte, e mais surpreso ainda quando eu recebi links de tweet que ele estava fazendo pedindo a luta (contra o Demian) de forma sutil. Isso muito antes da luta do Usman contra o Colby, que é onde supostamente o UFC o procurou e ofereceu essa luta”, contou Eduardo Alonso, que continuou.

“Para ele, do ponto de vista esportivo, representa um crescimento, uma possibilidade concreta de crescimento porque o Demian é melhor ranqueado do que ele. Eu não sei se ele teria talvez a mesma visão se fosse uma situação inversa, se ele fosse o número cinco do mundo e o Demian estivesse beirando o top 10. Mas para mim, a maior surpresa foi pela boa relação e por essa coisa do jiu-jitsu. Eu acho que a comunidade do jiu-jitsu poderia entender o Demian como um exemplo e um aliado, muito mais do que ‘tomar o lugar dele’. É uma coisa meio pessoal, de ponto de vista, não é a maneira como eu encaro a minha profissão, nem o Demian. Agora, é um esporte, o Durinho é um excelente lutador, são dois competidores, ele não está cometendo nenhum crime. A gente aceitou a luta porque (…) a categoria estava embolada, não tinha outra alternativa, o Demian não é mais um garoto, não podemos esperar para sempre porque por enquanto ele está em alta performance, mas a gente não sabe como vai ser daqui a um ano. Então, a necessidade de se manter trabalhando e lutar no Brasil é interessante para a gente. Não só pelo carinho do público, mas também por questões contratuais, de câmbio, de imposto, uma série de fatores. E evidentemente, a gente sabe que temos toda a condição de ganhar a luta. (…) A gente só não lutaria por questões de princípios éticos e de amizade, porque não tem necessidade, tem outros 50 caras na categoria que a gente não tem uma boa relação, como a que a gente tem com ele. Mas, uma vez que foi a vontade do UFC, a vontade do Durinho e da equipe dele, eu não vejo problema porque são competidores e a gente sabe que tem uma chance concreta de vitória”, concluiu o empresário.

Com carreira laureada no jiu-jitsu esportivo e no grappling, os meio-médios (77 kg) fazem o co-main event do UFC Brasília, no próximo sábado. Demian vem de três vitórias consecutivas, enquanto ‘Durinho’ soma quatro triunfos em sequência, sendo dois na categoria até 77 kg. Na luta principal do evento na capital federal do Brasil, Charles ‘Do Bronx’ encara o americano Kevin Lee, em duelo de pesos-leves (70 kg) ranqueados.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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