Kamaru Usman se tornou campeão do UFC no início deste mês ao derrotar Tyron Woodley por decisão unânime. Mas, antes mesmo de conquistar o título, Colby Covington passou a atormentá-lo. No treino aberto para o UFC 235, ‘Chaos’ apareceu com o cinturão interino do qual já foi destituído e tentou provocar o nigeriano usando um megafone para xingá-lo. Mas, apesar do clima tenso criado pelo americano, o agora dono do título linear dos meio-médios (77 kg) afirmou que enfrentá-lo tem uma motivação muito maior: defender os imigrantes dos Estados Unidos.
Covington é um dos mais ferrenhos defensores do presidente daquele país, Donald Trump, nos esportes. Fã do mandatário, Colby se denomina campeão da categoria até hoje, além de frequentemente xingar estrangeiros e lutadores com ascendência não americana de ‘animais imundos’ – expressão que ele já usou para se referir, por exemplo, ao campeão dos leves (70 kg) Khabib Nurmagomedov e ao povo brasileiro. Trump, por sua vez, foi eleito com um discurso fortemente nacionalista e ainda tenta viabilizar, apesar da discordância do Congresso, a finalização de um muro para separar a nação do México. Usman, nigeriano radicado nos EUA, declarou ao podcast ‘Joe Rogan Experience’ que ‘Chaos’ simboliza toda a xenofobia crescente no país.
“Quando esta luta acontecer – ela representa algo para mim, porque sinto que esta é a atitude que esse jovem tem. Ele se gaba: ‘Eu deveria ser o campeão do UFC, você é uma b****, não pode lidar comigo’. Esta é a atitude dele: ‘Você não pode fazer isso, garoto’. Em primeiro lugar, quem é seu garoto? Eu sou um homem crescido. Não fale comigo assim. Esta é a atitude dele. Ele diz: ‘Eu deveria ser o campeão. Sou americano’. Cara, todos nós somos americanos. Esta luta é maior do que um cara que está falando m****. Esta luta significa muito para mim. Então, quando eu tiver a chance de colocar as minhas mãos nesse cara, saiba que é a ira de todos os imigrantes deste país que eu vou colocar nele”, falou.
Usman destacou a importância que os imigrantes têm em um país como os Estados Unidos. O ‘Pesadelo Nigeriano’ enumerou empregos majoritariamente ocupados por estrangeiros, uma vez que grande parte dos americanos, até por sua condição de vida e de educação, não tem interesse em tais postos de trabalho.
“Quando você entra em uma esmalteria para fazer suas mãos e pés, quem são a maioria das pessoas que comandam as esmalterias? Asiáticos. Eu não estou dizendo que são todos no país. Mas a maioria deles é de asiáticos. Mas há um monte de pessoas que olham para eles como: ‘Não vou lavar seus pés. Não vou fazer suas unhas.’ Essas pessoas fazem isso porque se orgulham disso, porque isso os ajuda. Não é um trabalho que as pessoas querem fazer. Quando você vai a hoteis, quem são as camareiras que trabalham na maioria deles? Muitas delas são imigrantes. Temos orgulho disso porque estamos em um lugar melhor e queremos ser provedores das nossas famílias. Esses são trabalhos que muitas pessoas, os tão chamados ‘americanos’ e toda a persona de Colby Covington pensam: ‘Estou acima disso'”, disse.
“Esta é a persona (de Colby). Mas, ao mesmo tempo, as pessoas querem chorar: ‘Eles estão pegando nossos empregos, vamos construir um muro, vamos mantê-los longe, eles estão tomando nossos empregos’. Não, eles estão provendo, estão ajudando este país a chegar ao seu patamar. O fato de que você chega aqui e tem alguém para fazer suas unhas, para limpar sua casa, lavar seu carro, para fazer tudo isso por você, é parte do que faz os Estados Unidos tão grandes. Uma das maiores nações do mundo. O fato de que eles querem construir um muro, de que eles querem manter estas pessoas longe – ‘Você não pode vir aqui, não pode trazer sua cultura – me entristece e me irrita”, completou.
Kamaru chegou aos Estados Unidos com 8 anos e estreou no MMA profissional aos 25. Ele se mantém invicto desde 2013 e foi contratado pelo UFC dois anos depois, ao conquistar o título do ‘TUF 21’. Na maior organização de MMA do mundo, o campeão dos meio-médios tem vitórias sobre Leon Edwards, Demian Maia, Rafael dos Anjos e Tyron Woodley.