Retornar ao MMA após mais de três anos e já conseguir um triunfo, com um nocaute impressionante, é um roteiro perfeito para qualquer lutador que busque acabar com a inatividade. No último sábado (19), no Future MMA 9, Jonas Bilharinho foi responsável por efetuar todas as situações mencionadas com sucesso – o peso-pena (66 kg) derrotou Junior ‘Robocop’ com uma joelhada voadora no primeiro round. Mas engana-se quem pensa que o atleta estava planejando este golpe.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag.Fight, o lutador afirmou que não lembra o momento que decidiu atacar seu adversário utilizando este golpe. Apesar de possuir um estilo agressivo de combate, agora somando seis vitórias por nocaute, o peso-pena nunca tinha conseguido um triunfo dessa maneira. Segundo ele, ainda é impossível explicar como ele pôde realizar este fato com tanta precisão.
“Eu não treinei aquela (risos). Não sei como eu consegui voar tão alto, com tanta potência e ser tão certeiro. Foi uma surpresa para mim. No momento do nocaute o (Rafael) Feijão colocou as mãos na cabeça. Eu demorei para assimilar aquele momento, porque não lembro de ter comandado aquele movimento. Porque se você perceber, quando ele está caindo eu dou um empurrão, achando que ele fosse me quedar, nem sabia que tinha pego tão forte”, disse o lutador, que já ficou conhecido como ‘McGregor brasileiro’ por ter ajudado José Aldo no período antes da luta dele contra o irlandês, em 2015.
A sensação de voltar a pisar num cage após tanto tempo poderia mexer com a cabeça de Bilharinho, que na última vez que esteve em ação foi em 2016 e em um revés para Valdines Silva. Entretanto, esse período sabático do lutador só lhe trouxe benefícios, principalmente na parte psicológica. Para Jonas, agora ele é um atleta que sabe de seu potencial e não possui mais o grande receio que o assombrava quando estava em ação no passado.
Jonas Bilharinho agora tem oito vitórias na carreira – Marcos Santos/Divulgação/Future FC
“Agora tenho uma percepção mais sutil das coisas, do que precisa ser apreciado. Antes o que eu não gostava, agora tenho prazer. Esse retorno mudou tudo por dentro e por fora. Pude perceber o quanto de medo eu sentia lá dentro e nessa agora vi o quanto foi diferente. Eu lutava numa espécie de medo. Todo mundo falava da minha frieza e calculismo, mas na verdade era medo de tomar uma mão, ser nocauteado. Agora eu lutei muito mais tranquilo, leve, tomei a iniciativa logo no início, o que não era um costume meu. Foi um autoconhecimento mesmo”, disse.
Se o tempo fora das competições foi saudável para Bilharinho, o seu único revés na carreira foi fundamental. Se o bordão “nas derrotas que se aprende e evolui” é muito usado pelos lutadores, o brasileiro não deixou concordar com ele. Dessa maneira, o peso-pena fez de agradecer seu único algoz por fazê-lo crescer como artista marcial.
“Aquela minha derrota me colocou em reflexão. Eu precisava muito dela e agradeço demais ao Valdines por ter me batido quando eu precisava. Eu estava treinando tão pouco que se não tivesse acontecido isso, desculpe expressão, mas eu teria permanecido um arrombado. Ele me deu a oportunidade de voltar a lutar por prazer agora”, contou, complementando que também se surpreendeu com sua boa atuação.
“Essas coisas eu não esperava. Eu esperava que seria um lutador melhor que o anterior. Não sabia se ia ganhar, porque isso depende muito do meu oponente também. Às vezes estamos numa melhor fase e perdemos, isso é normal. Mas eu só tinha certeza: minha nova versão arrebentaria o antigo Jonas ‘Speed'”.
Com a boa fase de volta, os holofotes sobre o lutador também estão voltados a ele. Dessa maneira, uma oportunidade de atuar no Ultimate é sempre uma possibilidade. O atleta, que é treinado pelo ex-UFC Rafael Feijão, mantém os pés no chão sobre essa chance, mas admite que não descarta um dia pisar no octógono.
“Talvez (já pense numa oportunidade UFC). Não sei exatamente onde eu estaria posicionado. Uma chance talvez seja válida. Mas não tenho a menor pretensão de dizer que estou mirando ou ansioso para isso”, completou.
Jonas Bilharinho fez sua estreia no MMA em 2011, quando seu confronto diante de Carlos Peixoto acabou empatado. Depois dessa luta, engatou sete vitórias seguidas, até ser superado por Valdines Silva, em 2016. Com o último triunfo no Future MMA 9, o peso-pena aumentou seu cartel positivo na carreira.