Bethe vem de derrota em maio para Irene Aldana, no Rio de Janeiro – Leandro Bernardes
Entre 2013 e 2014, Bethe Correia empreendeu uma bem-sucedida campanha para disputar o cinturão, à época nas mãos de Ronda Rousey, e se tornou uma das estrelas femininas do UFC. Depois de ser nocauteada por ‘Rowdy’, entretanto, passou a acumular resultados negativos. Assim, ficou à sombra dos holofotes, vivendo a pior parte de ser um atleta famoso: as críticas – tantas vezes exageradas – de parte do público brasileiro conhecida por subvalorizar aqueles que não são campeões.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, ‘Pitbull’ analisou a postura dos fãs e da imprensa de MMA no país. Embora pregue o estilo ‘falem mal, mas falem de mim’, Bethe afirmou que o tratamento aos lutadores que deixam o topo do UFC é majoritariamente injusto.
“Esse tipo de comentário que escuto é muito típico de brasileiro, né? Então, já escuto isso desde o início de minha carreira, então não me atinge muito mais, não. Sou brasileira, conheço o público brasileiro, sei que são assim mesmo. É muito só daquele momento. Veem um fato, não o que vem em torno. Então, é normal. Eu foco mais no meu e nas pessoas que gostam do meu trabalho. Quem não gosta eu acho bacana, que ao menos me dá ibope também, assiste. Tiro de letra isso”, comentou, antes de revelar alguma tristeza com a imprensa especializada em MMA no país, pela mudança no trato com ela quando as derrotas vieram.
“Sempre há mudança. Principalmente na parte do Brasil mesmo, mais do que fora. Bem mais, disparadamente mais. Mas acho que é cultural do brasileiro ser assim. Se você perguntar a pessoas que tiveram falhas em algum momento… Se você fizer essa mesma pergunta para o (José) Aldo, por exemplo, talvez ele lhe dê a mesma resposta. Que sentiu também. Crítica e injustiça. É cultural do brasileiro não olhar os detalhes, o que passa um atleta, a história dele. Olhar mais o momento exato. E ficar naquele momento e pronto, sem ver o que se passou para chegar até ali. É bem complicado”, declarou.
Entre 2017 e 2018, Bethe enfrentou um drama que quase a afastou do esporte. Em agosto do ano passado, quase um ano após uma cirurgia no olho esquerdo, a paraibana mediria forças contra Irene Aldana no UFC 227, mas acabou vetada pela Comissão Atlética do Estado da Califórnia, que não considerou segura sua participação no evento. Sem poder entrar no octógono, a lutadora de 36 anos chegou a cogitar a aposentadoria, conforme revelou à Ag. Fight.
“É bem complicado. Tiveram horas em que eu cambaleei, sim, pensei se deveria parar. Não é fácil você ter lesão na vista. Tem horas que a gente pensa, reflete muito, mas você conversa com uma pessoa aqui, outra ali, vê com o médico, conversa com seu coração mesmo e… Acho que o atleta sabe a hora de parar, né? E não era a minha ainda”, falou.
Os problemas emocionais de lutadores, embora frequentes, normalmente ficam ocultos do grande público. Nesta semana, Ronaldo ‘Jacaré’ rompeu com esta tendência e revelou que passou por um excessivo desgaste mental nos últimos meses e que apenas com ajuda de um psicólogo conseguiu se reerguer – tanto que tentará a sorte entre os meio-pesados (93 kg), encabeçando o UFC São Paulo, no dia 16 de novembro. Bethe, que também sentiu o pior da vida de lutador, disse compreender “completamente, totalmente” o que o colega passou. Segundo ela, apesar do visual forte dos atletas, é necessário percebê-lo como um ser humano normal, que se fragiliza como qualquer outro.
“Quando eles veem a gente, do esporte, eles cobram que a gente esteja todo dia com vontade, todos os dias motivado, todos os dias com disciplina… Acho que cobram que a gente seja meio que um robô, realmente, entendeu? Mas não é. Quem vive isso sabe que é completamente ao contrário. Completamente ao contrário. Não é nada disso”, contou.
“Eu acho até que é mais fácil para quem está começando, porque ele não vai sentir, ainda não está passando por cobranças, julgamentos… Não está vendo a parte feia das pessoas. Talvez esse seja o caso do ‘Jacaré’: é um atleta muito experiente, então às vezes a cobrança que vem em cima dele, talvez no início da carreira ele não tivesse isso e fosse todo dia treinar motivado, com o sorriso na cara. Agora, ele está vendo que não é tão fácil assim: que ele vai fazer isso tudo e ainda vai ter pessoas fazendo dele. Acho que o caso dele eu entendo completamente”, encerrou a paraibana.
Bethe Correia enfrenta Sijara Eubanks na segunda luta do card preliminar do UFC México, marcado para começar às 18h de Brasília. A luta principal do evento será pelo peso-pena (66 kg) masculino, entre Yair Rodríguez, atleta da casa, e Jeremy Stephens.