O controle da Federação de Jiu-Jitsu do Rio de Janeiro (FJJRJ) tem gerado um ‘racha’ na família mais tradicional da modalidade. Com o intuito de se candidatar à presidência da entidade, Kyra Gracie entrou em rota de colisão – inclusive judicial – com sua tia, Kenya Gracie, que atualmente ocupa o cargo. E, nesta sexta-feira (25), a oito vezes campeã mundial de jiu-jitsu sofreu uma derrota na Justiça que pode abalar suas pretensões.
De acordo com o portal ‘O Globo’, a Justiça cassou a liminar que concedia a Kyra o direito de ter acesso a documentos da Federação, como a lista de filiados aptos a votar na eleição de janeiro de 2024 e os comprovantes de pagamentos das mensalidades desde janeiro de 2019, quando começou a gestão de Kenya, sua tia. Como candidata à presidência, a faixa-preta critica com frequência justamente uma suposta falta de transparência da atual administração da FJJRJ.
A decisão, que pode ser encarada como uma derrota para Kyra, foi apresentada pela desembargadora Maria da Glória de Brandão Mello, da 13ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em seu parecer, a representante do Tribunal afirmou que, apesar de haver uma ata notarial que diz que Kyra é filiada à FJJRJ, no site da Federação consta que ela é professora diplomada, o que são coisas diferentes. Além disso, frisou que não há “perigo de a demora da decisão causar dano irreparável” ou “necessidade de decisão imediata”.
Através de sua defesa, Kenya Gracie alegou que a ata notarial anexada ao processo, que afirma que sua sobrinha é filiada à Federação é inverídica. Por sua vez, o advogado de Kyra, Marcos Aurélio Asseff destacou, através de uma nota oficial, que confia no julgamento inicial do colegiado da 13ª Câmara e que espera que a liminar em primeiro grau seja mantida, para que a FJJRJ seja forçada a “publicar os balancetes mensais e anuais em cumprimento às boas práticas de governança”.
Entenda o caso que culminou no ‘racha’ da Família Gracie
Por muitos anos, a Federação de Jiu-Jitsu do Rio de Janeiro foi presidida por Robson Gracie, pai de Kenya e avô de Kyra. Em 2019, porém, a filha de um dos bastiões da família Gracie assumiu o cargo. Em abril deste ano, o então mais experiente membro do clã faleceu aos 88 anos. Após lamentar a morte do avô, Kyra manifestou seu desejo de competir pela presidência da entidade.
Através de diversas publicações em suas redes sociais, ela fez uma série de acusações à atual gestão da FJJRJ (veja abaixo ou clique aqui e aqui), sobretudo sobre uma possível ocultação de documentos da entidade. Após seu posicionamento, Kyra contou com o apoio de parte de sua família, como seu tio, Renzo Gracie, que, inclusive, pretende ser vice em sua chapa. Por outro lado, outros membros da família não aprovaram as movimentações da faixa-preta.
Em determinado momento, Kyra foi bloqueada nas redes sociais pela FJJRJ e denunciou a atitude, alegando estar sofrendo um boicote. Sua prima, Cora, filha de Renzo, ironizou sua candidatura à presidência da Federação e chegou a afirmar que Kyra estaria agindo motivada pela ganância, ultrapassando limites e “indo contra a própria família”.
Na atual conjuntura, de acordo com o advogado Breno Hoyos, Kyra não poderá participar da eleição porque não é considerada afiliada à FJJRJ. O estatuto cobra um tempo mínimo de filiação e que o candidato tenha uma participação ativa na entidade, requisitos que, na teoria, Kyra não cumpre.
Por sua vez, a faixa-preta acusa a Federação de minar a possível candidatura de novos concorrentes com omissão de informações, mudanças no site e até mesmo alteração do estatuto, a fim de supostamente preservar a continuidade da atual gestão. Agora resta saber se Kyra conseguirá vencer a batalha judicial para se tornar apta a disputar a presidência da entidade.