Entrevistas
Único algoz de Makhachev, brasileiro aponta caminho para a vitória de Do Bronx
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Neri Fung, em Niterói (RJ)
Pela luta principal do UFC 280, neste sábado (22), Charles ‘Do Bronx’ Oliveira subirá no octógono montado na ‘Etihad Arena’, em Abu Dhabi (EAU), com a missão de se tornar apenas o segundo atleta a derrotar Islam Makhachev no MMA, para, assim, recuperar o cinturão peso-leve (70 kg) da liga. O primeiro, e único, lutador a superar o russo dentro do cage até o momento foi o também brasileiro Adriano Martins, em 2015. E o experiente lutador, de 40 anos, estará atento ao combate deste final de semana e na torcida pelo compatriota.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight (clique aqui) – na qual também abordou outros temas, como a sua batalha contra depressão e o desejo de voltar ao MMA para ter uma despedida digna de sua carreira -, Adriano analisou o confronto entre Makhachev e Do Bronx, e deu sua opinião sobre qual caminho o compatriota deveria seguir para ter seu braço levantado após a disputa do UFC 280. Para o manauara, que nocauteou o russo em pouco menos de dois minutos de luta, quanto mais rápido o atleta da ‘Chute Boxe Diego Lima’ definir o combate, melhor. Na visão do veterano, o passar dos rounds tende a favorecer o colega de time do ex-campeão do Ultimate Khabib Nurmagomedov.
“O primeiro round da luta vai falar muito de como vão se desenrolar os outros rounds. O Makhachev é um cara que tem muito a ser provado, porque não enfrentou nenhum cara top 5 da categoria. Eu acho que o Charles provou o quanto ele evoluiu, o quanto ele merece ser campeão. Mas luta é luta. Ninguém pode menosprezar o cara que está do outro lado. Acho que ele (Charles) tem que continuar focado. Para mim, não pode deixar a luta se estender até o quinto round”, ponderou Adriano, antes de explicar seu raciocínio.
“Acredito que a melhor estratégia é fazer o que ele vem fazendo, que é tentar acabar a luta logo no primeiro ou segundo round, impondo o jogo dele, que é muito bom em cima e embaixo. Não deixar com que o Makhachev tome gosto da luta. Se eu for colocar da luta que eu tive com ele (Islam) até hoje, de umas três lutas para cá, ele mudou bastante fisicamente e mentalmente. É um cara que analisa mais a luta, é um cara mais experiente. Dentro do octógono, ele sabe cadenciar a luta. Querendo ou não, estar do lado de um cara que foi ícone, que está no Hall da Fama do UFC, que é o Khabib, essas coisas pesam. Acho que tem que levar em conta, sim, e entrar com um plano – eu acredito que a equipe do Charles tem -, executá-lo e não ficar esperando muito para ver o que acontece na luta”, afirmou.
Apesar de ter ficado frente a frente com Islam dentro do cage por menos de dois minutos, Adriano ainda acompanha a carreira do seu antigo adversário e, por isso, sabe dos riscos que o russo pode trazer para o brasileiro. Oriundo do sambo, Makhachev construiu sua reputação como um dos melhores lutadores do peso-leve do UFC com um jogo bastante inteligente combinando seus pontos fortes no combate: as quedas, o controle posicional no solo e a pressão incessante. Por isso, o manauara entende que Do Bronx deve evitar cair por baixo caso a disputa vá para o chão, mesmo sendo o recordista de vitórias por finalização na história do Ultimate.
“Acho que sim (Islam pode complicar a vida do Charles se cair por cima), acho que ele tem esse mérito. Ele tem condições. Não estou desmerecendo ninguém, só para deixar bem claro. Eu sei que o Charles é o maior finalizador da história do UFC e é um cara muito duro no jiu-jitsu, melhor jiu-jitsu que tem na atualidade no MMA. Mas os caras são duros, eles treinam para isso. Vamos para o segundo, terceiro e quarto rounds, o cara já vai estar mais suado, mais escorregadio. É luta. A gente tem que colocar esses quesitos. Não que o Charles não possa finalizar o Makhachev. Mas eu acho que o Makhachev também pode fazer esse jogo chato com ele, querer segurar a luta, ficar ali. Porque dá para fazer. Tanto é que a gente tem vários outros caras do jiu-jitsu que não conseguem fazer alguma coisa com os caras do wrestling, do sambo. Os caras são muito duros. Acredito que o Charles não pode pagar para ver”, analisou o ex-lutador do UFC.
Uma saída para evitar esse jogo perigoso de Makhachev, de acordo com o algoz do russo, seria Do Bronx usar as mesmas armas do rival para surpreendê-lo. Para Adriano, que começou sua trajetória no judô, o compatriota pode usar as técnicas conhecidas na arte marcial japonesa como ‘ashi waza’ – técnicas de emprego das pernas e pés para derrubar o adversário – para levar o combate para o chão, mas com a vantagem de cair por cima do oponente, onde o seu jiu-jitsu pode falar mais alto do que o sambo do atleta do Daguestão.
“Acho que seria o ideal para ele, em uma pegada muito colada na grade, ele usar esses golpes de ashi (waza) e derrubar. O Charles por cima, eu tenho certeza que o Makhachev não espera. O jogo vira totalmente para o Charles. Acredito que ele saia até finalizando o Makhachev. Esse seria o jogo”, cravou Adriano Martins.
Desde o revés sofrido para Adriano Martins, por nocaute, no UFC 192, Islam Makhachev engatou uma sequência de dez vitórias no octógono mais famoso do mundo, o que o credenciou para a disputa de cinturão contra Charles Oliveira neste sábado. Ao todo, o russo soma 22 triunfos e apenas uma derrota na carreira.
Por sua vez, Do Bronx também vive ótima fase, e possui a maior marca ativa de vitórias consecutivas do peso-leve, com 11 triunfos. O brasileiro foi o último campeão da divisão, mas perdeu sua cinta por uma polêmica falha na balança antes de sua última luta. No main event do UFC 280, o faixa-preta tentará recuperar seu título diante de Makhachev.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.