Entrevistas
Treinador de Do Bronx afasta luta contra Makhachev em Abu Dhabi: “Charles não quer”
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Neri Fung, em Niterói (RJ)
Com vaga garantida na próxima disputa de título peso-leve (70 kg) do UFC, Charles Oliveira ainda não sabe quando, contra quem e onde será seu combate. Mas uma coisa é certa: seu oponente dificilmente terá a oportunidade de atuar em casa. Ainda inconformada com a confusão na pesagem do UFC 274, que custou a ‘Do Bronx’ o cinturão da categoria, a equipe do brasileiro promete fazer jogo duro nas negociações relacionadas à sede da próxima luta do faixa-preta.
Em maio deste ano, Charles estava escalado para defender o título dos leves contra Justin Gaethje no UFC 274, sediado no Arizona (EUA), casa do desafiante. Porém, uma confusão causada por terceiros no processo de corte de peso e o rigor, visto como exagerado por alguns, do profissional da Comissão Atlética local responsável pela balança na pesagem oficial do evento levaram o brasileiro a exceder o limite de peso exigido para a disputa e, consequentemente, perder o cinturão sem sequer ter subido no octógono.
Apesar de todo drama vivido por ele, ‘Do Bronx’ conseguiu se recuperar emocionalmente e, no dia seguinte, venceu Gaethje por finalização, garantindo sua presença na disputa pelo cinturão, agora vago, dos pesos-leves do UFC. O ocorrido, no entanto, serviu de alerta para a equipe do paulista. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight (clique aqui), Diego Lima – treinador do brasileiro – afirmou que Charles e seus representantes tentarão impor a vontade do último campeão na escolha do local de sua próxima luta, especialmente caso o Ultimate ofereça o confronto contra Islam Makhachev em outubro, na edição que será sediada em Abu Dhabi (EAU), um rumor que vem ganhando força nos bastidores nos últimos tempos.
“Por que na ‘casa’ do Makhachev? Olha tudo o que o Charles fez, olha a história dele. Por que não deixar o Charles poder lutar onde ele quer? Por que não nos dar a chance de (lutar no) Brasil? ‘Ah mas tem que ser um lugar neutro’. Tá bom, vamos para Nova York. Se fosse com o McGregor, a gente luta na Irlanda. Porque o McGregor também fez história. Agora, a troco de que ir para Abu Dhabi em outubro? Muito antes do que a gente está acostumado a lutar, dois meses antes. Em outro timing, que não é o timing do Charles. O Charles não quer (lutar em Abu Dhabi). E eu, como head coach do Charles, sou totalmente a favor dele e concordo plenamente com ele”, ponderou Diego Lima, líder da equipe ‘Chute Boxe Diego Lima’, citando também a preferência de seu pupilo por voltar a atuar apenas no final do ano, como tem sido comum nos últimos anos.
Apesar de não ser o local de nascimento de Makhachev, Abu Dhabi se tornou uma espécie de segunda casa para os lutadores russos, especialmente os provenientes do Daguestão, como é o caso do parceiro de treinos de Khabib Nurmagomedov. Além da torcida contra, Lima se preocupa com um possível favorecimento dos profissionais envolvidos no evento a Makhachev, seja novamente na hora da pesagem, ou em uma hipotética decisão dos juízes após o combate.
O treinador recorda que, em uma escala menor, já passou por uma situação complicada em Abu Dhabi, quando viu um de seus pupilos, o peso-mosca (57 kg) Allan ‘Puro Osso’ Nascimento, ser derrotado, de forma controversa, pelo russo Tagir Ulanbekov, parceiro de treinos de Makhachev e de Khabib. Na sua estreia pelo Ultimate, o atleta da ‘Chute Boxe Diego Lima’ mostrou mais volume e contundência nos ataques diante de um rival que optava pela luta agarrada e pelo domínio posicional como principais armas. Ao final dos três rounds previstos, o lutador do Daguestão foi declarado vencedor na decisão dividida dos juízes, resultado contestado pela equipe brasileira.
“O Allan Puro Osso estreou no UFC contra o primo do Khabib, esqueci o nome dele (Ulanbekov). Primo, amigo, não sei. Lá em Abu Dhabi. O cara não fez nada. O cara ficou por cima e o Allan atacou o tempo todo por baixo, tentou encaixar umas cinco posições, bateu em cima, bateu por baixo, acabou com as panturrilhas do cara. E o cara não fez nada, só travou a luta. Pessoas da organização, nos bastidores, comentaristas do UFC, ex-lutadores, lá dentro do vestiário falaram que tinham achado que o Allan ganhou. Na minha opinião, o Allan ganhou a luta. Se fosse em qualquer outro país do mundo ele teria ganhado a luta. Da mesma maneira que se o Charles tivesse pesado em qualquer outra Comissão (Atlética) ele teria batido o peso”, recordou Diego Lima.
Por enquanto, não há definição oficial por parte do UFC sobre a próxima disputa de título do peso-leve. A única certeza é que Charles ‘Do Bronx’ será um dos lutadores que batalharão pelo cinturão vago da categoria. Além de Islam Makhachev, outro favorito – inclusive contando com o apoio do próprio brasileiro e de sua equipe – para conseguir a vaga na disputa é o ex-campeão Conor McGregor.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.