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Mano Santana (à direita) é um renomado treinador com base no caratê.
Mano Santana (à direita) é um renomado treinador com base no caratê - Acervo pessoal

Entrevistas

Treinador de campeões destaca papel do Karate Combat e revela ‘dilema’ com pupilos

Treinador renomado, com vários campeões no currículo, Mano Santana demonstra otimismo com o futuro do caratê no cenário dos esportes de combate. Parte do motivo pelo sentimento positivo em relação à modalidade se deve ao crescimento do Karate Combat, evento voltado para a trocação ‘full-contact’, e, claro, ao trabalho desenvolvido por ele com seus atletas. Dois deles, por sinal, podem colocá-lo em um verdadeiro dilema profissional.

Com trabalhos de destaque com diversos atletas bem-sucedidos no mundo das lutas, como o ex-campeão do UFC Henry Cejudo e o detentor do cinturão peso-pena (66 kg) do Bellator Patrício Pitbull, o experiente treinador entende que a visão geral do público sobre a eficiência do caratê pode mudar no futuro próximo. Depois do ‘boom’ da modalidade com a conquista do título meio-pesado (93 kg) do Ultimate pelo brasileiro Lyoto Machida, em 2009, a arte marcial originária do Japão passou por momentos de desconfiança no MMA.

Vista como exageradamente conservadora e pouco eficaz por boa parte da comunidade das lutas, o caratê perdeu prestígio nos últimos anos, por mais que atletas oriundos da modalidade – ou adeptos de suas técnicas, como o astro irlandês Conor McGregor – tenham triunfado, inclusive no UFC. Mas agora, com uma nova geração de caratecas – muitos treinados por Mano Santana, através do seu sistema ‘MS’ – a tendência é de crescimento, na visão do treinador, e o Karate Combat pode ser um instrumento dessa mudança.

“O caratê teve uma fase mais alta, depois teve uma fase mais baixa. E depois com o Patrício e o Cejudo usando o caratê, a modalidade começou a ficar em evidência novamente. Teve um grande ‘boom’ com o Lyoto, mas depois que ele perdeu o título (do UFC) e teve algumas derrotas, o caratê ficou no esquecimento. O Karate Combat começou a resgatar um pouco a visão do caratê ser uma modalidade de luta como qualquer outra. A diferença é como passar o caratê para lutadores de MMA. E o Karate Combat está mostrando isso agora. Diziam que o caratê era só pontuação, que o lutador bate e corre. Não, não é! Na minha visão, o Karate Combat consegue, aos poucos, se fixar no cenário mundial de eventos de trocação franca e mostrar a eficiência do caratê“, analisou Mano, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight.

Dilema

O fortalecimento do Karate Combat, inclusive, tem o dedo também do treinador brasileiro. Um dos principais astros da companhia, o carateca Luiz Rocha, campeão peso-leve (até 68 kg) da entidade, trabalha com Mano desde a infância. E agora, outro lutador com o selo do sistema ‘MS de Caratê’ chegou fazendo barulho no evento: Weber Almeida, pupilo de Lyoto Machida e treinado também por Santana nos últimos tempos.

Com duas vitórias por nocaute nos seus primeiros compromissos pelo Karate Combat, Weber pode sonhar com uma futura disputa de título em breve – situação que deixaria seu treinador em um verdadeiro ‘saia justa’. Por toda história construída ao lado de Luiz Rocha, Mano Santana admite que seria difícil não estar ao lado do campeão em uma possível disputa entre eles, mas garante que não deixaria o novo pupilo completamente desamparado.

“Vai ser difícil escolher com quem eu vou trabalhar porque ele está indo para onde o meu aluno é campeão. É tenso para mim, porque os dois estão na mesma categoria. O Weber está chegando na organização agora, foi a segunda luta dele, o segundo nocaute. E o Lyoto falou para mim que queria que eu continuasse como treinador dele, queria que eu fizesse parte da equipe dele, porque ele sentiu muita sintonia com o estilo dele”, declarou o treinador, antes de completar.

“Vejo um futuro ‘title shot’ para ele. Eu aposto nisso e vou treiná-lo para isso. Estou começando a trabalhar com ele agora e, em pouco tempo, conseguimos colocar no pit a estratégia que eu montei e trabalhei com ele. É uma ‘saia justa’. O Weber mesmo falou: ‘Mano, eu sei que você vai ficar no corner do Luiz Rocha’. A minha relação com o Luiz é de pai para filho. Mas a preparação até o Weber chegar no título, que seria comigo, isso tornaria a luta dura para o Luiz Rocha“, afirmou.

Experiência similar no passado

Apesar de incômoda, a feliz coincidência de ter dois alunos competindo pelo mesmo título em um evento em franca ascensão não seria a inédita para o experiente treinador. No ano passado, Luiz Rocha – já campeão peso-leve do Karate Combat – colocou seu cinturão em jogo contra o também brasileiro Bruno Souza, que curiosamente é outro pupilo de Lyoto Machida que passou a trabalhar com Mano Santana.

“O Luiz Rocha lutou contra o Bruno Souza, e eu já vinha orientando o Bruno Souza em lutas anteriores, da mesma forma que está acontecendo com o Weber. E da mesma maneira como ele saberia como o Luiz poderia ser orientado, porque ele tinha trabalhado comigo, ele sabe que o Luiz saberia informações minhas porque ele me conhece e sabe como eu preparei o Bruno”, relembrou Mano.

Seja com Luiz Rocha e Weber Almeida no Karate Combat ou com Patrício Pitbull, Henry Cejudo ou Rodolfo Vieira no MMA, o treinador Mano Santana segue sua caminhada para, mais uma vez, provar que o caratê é capaz de ser eficiente – quando bem adaptada – no mundo das lutas. Resta saber se a modalidade voltará a ter o mesmo prestígio que já teve no passado.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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