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Entrevistas

Treinador celebra ‘title shot’ de ‘Do Bronx’ e dispara contra críticos: “Falam muito e apoiam pouco”

Depois de muitos pedidos, rumores e incertezas, Charles ‘Do Bronx’ teve finalmente confirmada sua presença na próxima disputa de título do peso-leve (70 kg) do Ultimate. Dono da maior sequência ativa de vitórias da divisão, o faixa-preta concorria com outros nomes de peso do elenco da companhia, mas depois de algum suspense e da oficialização da aposentadoria do então campeão Khabib Nurmagomedov, o brasileiro foi escalado para enfrentar Michael Chandler no main event do UFC 262, em duelo válido pelo cinturão vago da categoria.

A oportunidade de disputar o título coroa a boa fase vivida pelo paulista, sua melhor desde a estreia no Ultimate há pouco mais de uma década. Depois de passar por altos e baixos no peso-pena (66 kg), Charles retornou à divisão dos leves e, demonstrando enorme evolução, engatou oito vitórias consecutivas, sete delas pela via rápida, chegando ao top-3 da categoria. Com o ‘title shot’ ao alcance das mãos, ‘Do Bronx’ viu a incerteza sobre a continuidade da carreira do campeão Khabib Nurmagomedov e a sombra de grandes estrelas da promoção, como Conor McGregor e Nate Diaz, colocar em xeque seu futuro próximo.

Apesar de ser o nome menos popular entre o grande público, especialmente fora do Brasil, o faixa-preta e sua equipe se mantiveram firmes e deixavam claro que a prioridade era disputar o cinturão em seu próximo compromisso. A postura chegou a ser criticada por fãs, especialistas e, até mesmo, colegas lutadores, que enxergavam na intransigência do brasileiro e de seus representantes um possível equívoco. Passada a incerteza, Diego Lima – treinador principal de Charles -, em entrevista exclusiva à Ag Fight, celebrou a chance conquistada por seu pupilo e não escondeu o incomodo pelas críticas sofridas, especialmente por parte dos torcedores nas redes sociais.

“É um negócio fora do normal. Ontem quando a gente ficou sabendo que tinha fechado, me bateu uma emoção do caramba. Até chorei de emoção. É um sonho realizado. Não tenho nem palavras para descrever. É uma felicidade muito grande. É o reconhecimento de um trabalho bem feito. Eu não consegui dormir ontem, de tanta euforia”, contou Diego Lima, antes de rebater as críticas à postura da equipe do paulista, que aumentaram nos últimos dias após a especulação de que o UFC negociava um duelo entre Michael Chandler e Justin Gaethje, o que deixaria ‘Do Bronx’ potencialmente sem um adversário do top 5, já que Conor McGregor e Dustin Poirier devem acertar em breve os detalhes do terceiro confronto entre eles.

“O pessoal critica demais. Assim que começaram a cogitar Chandler e Gaethje, foi engraçado porque uma galera veio mandar mensagem dizendo: ‘Deveria ter aceitado o Nate Diaz. Agora é geladeira’. A verdade é que o pessoal gosta de entrar nas redes sociais para criticar, falar mal e para achar que eles entendem para caramba. Infelizmente isso é típico do torcedor brasileiro. Ele critica muito, reclama muito, fala muito e apoia pouco. Graças a Deus, mais uma vez, toda a estratégia que nós fizemos, tudo que a gente pensou, tudo que a gente planejou deu certo. Claro, poderia não ter dado certo? Poderia. A gente não sabe. Mas quantos lutadores brasileiros a gente viu chegando perto e não fechando a luta (pelo título)? Mas o pessoal não sabe o que rola internamente, o que rola nas negociações. É triste ver um pessoal criticando. Isso atrapalha o lutador também. Acho que o povo brasileiro tem que aprender a valorizar os nossos atletas, o nosso trabalho, independentemente de resultado, de frustrações. Porque, às vezes, no momento em que a gente mais precisa, o povo brasileiro mais pega no pé. Vide o caso do Aldo. Depois de anos sem perder, o cara perdeu uma e todo mundo entrou no Instagram do cara para escrever: ’30 segundos’. Isso é uma falta de respeito tão grande com o atleta”, lamentou o líder da equipe ‘Chute Boxe São Paulo’.

Sem o domínio da língua inglesa, Charles leva clara desvantagem na hora de se autopromover para o público internacional em relação à grande parte de seus pares. Por isso, a tática escolhida foi a repetição de uma espécie de mantra, insistentemente lembrando das conquistas recentes do brasileiro e pedindo por uma disputa de título. Por mais que tenha sido menosprezada por alguns, a estratégia alcançou a meta estabelecida e, para Diego Lima, até as críticas fizeram parte do sucesso do processo, tendo em vista a visibilidade ganha pelo paulista.

“A gente sempre tentou negociar com o UFC e fazer um trabalho para convencer o UFC que essa é a luta a ser feita. Porque não adianta só a gente achar, o UFC tem que achar. E o UFC é uma empresa, e uma empresa quer o melhor para ela. E o que seria o melhor para ela? Uma luta que traga todo tipo de benefício, principalmente financeiro. Então, nós sabíamos que se todo mundo quisesse uma luta do Charles pelo cinturão, isso tornaria essa luta importante, seja financeiramente ou em relação ao marketing”, explicou o treinador, antes de continuar.

“Foi isso que a gente fez. Pelas bordas, a gente foi deixando essa luta importante. Deixando o nome do Charles nas cabeças, justamente para o UFC pensar: ‘Nossa, o Charles está na boca de todo mundo’. Nos podcasts, nos sites, nas entrevistas. Até o Chael Sonnen, que não tem nada a ver, está criticando a postura do Charles pelo fato dele não falar palavrão. E agora chega e o cara fecha pelo cinturão. Nós conseguimos entrar na cabeça de todo mundo”, contou Diego Lima, recordando a ‘cornetada’ do ex-lutador – e especialista em trash talk – Chael Sonnen.

A felicidade pela confirmação do ‘title shot’ do pupilo minimiza a irritação pelas críticas sofridas, assim como a preocupação pelo pouco tempo de preparação. Com menos de dois meses para a realização do UFC 262, Diego Lima admite que o período não é o ideal, mas se mostra confiante de que será o suficiente para que Charles tenha uma boa performance na principal luta de sua carreira. A confiança é tamanha que o treinador já visualiza Bruce Buffer anunciando ‘Do Bronx’ como novo campeão dos leves.

“Claro que se pudesse escolher, a gente escolheria pelo menos dois meses e meio, três meses (de preparação) para a luta. O Charles sempre se mantém treinando, mas, claro, quando você marca a luta, o foco muda. Porque aí o foco é no adversário. Então, na verdade, nós vamos ter menos de dois meses para se preparar para a luta mais importante da vida dele. Se pudesse escolher um tempo maior, com certeza. Mas foi como na luta do Ferguson. Nós pedimos ele, toda hora pedíamos ele. De repente o UFC ofereceu com 20 dias para a luta e nós aceitamos. Não tem como pedir incessantemente e quando é oferecido você falar: ‘Ah, me dá dois meses’. Então, a gente teve 20 dias para se preparara para o Ferguson. A mesma coisa agora. A gente quer o cinturão e agora que o UFC ofereceu, não tem como falar não ou pedir mais tempo. É agora. Se fosse amanhã a gente lutava também”, declarou o treinador, antes de apostar na conquista do pupilo.

“Todo mundo pode esperar o Charles de sempre. Humildade em primeiro lugar, coração na ponta da luva e guerra o tempo todo. Como ele mesmo diz: ‘A favela venceu’. Ele veio de baixo. Ele é a prova que todo mundo tem que acreditar nos seus sonhos. Pode ter certeza que daqui a menos de dois meses, o (Bruce) Buffer vai anunciar o Charles como novo dono do cinturão. Tenho certeza disso”, finalizou.

No UFC desde 2010, Charles ‘Do Bronx’ Oliveira chegou à organização sendo apontado como uma das grandes promessas do MMA mundial. Entre momentos de brilhantismo e alguns de menor sucesso, o brasileiro chegou ao ápice da maturidade física, técnica e mental nos últimos anos, evoluindo dentro e fora do octógono até se consolidar como um dos principais nomes da divisão dos leves e agora parte da próxima disputa pelo cinturão.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

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