Entrevistas
Recém-contratado, Carlos Leal revela estratégia audaciosa que o levou ao UFC
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Neri Fung, em Niterói (RJ)
Novo membro do plantel de atletas do Ultimate, Carlos Leal estava no lugar certo e na hora certa. Originalmente escalado para atuar no evento ‘UAE Warriors 55’, realizado na última terça-feira (22), em Abu Dhabi (EAU), o meio-médio (77 kg) foi chamado de última hora para encarar Rinat Fakhretdinov no UFC 308, que acontece neste sábado (26), também na capital dos Emirados Árabes Unidos. Mas, ao que parece, a contratação do experiente lutador brasileiro pela principal organização de MMA do mundo não foi uma obra do acaso.
Isso porque, de acordo com o próprio Carlos Leal, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, seu empresário – Lucas Lutkus – havia traçado uma estratégia audaciosa para colocá-lo em condições de assinar contrato com o UFC. O plano, segundo o lutador, contava com a possibilidade de algum imprevisto de última hora pudesse deixar o Ultimate na necessidade de escalar um novo atleta para o card deste sábado.
Sendo assim, o brasileiro – já em reta final de preparação para competir no ‘UAE Warriors’ – já estaria em Abu Dhabi, sede do UFC 308, e à disposição para suprir a demanda da entidade liderada por Dana White. E foi exatamente isso que ocorreu. Com a lesão de Nursulton Ruziboev, a poucos dias do evento, a principal liga de MMA do planeta viu no experiente lutador a solução para manter Fakhretdinov no card.
“A história é um pouco mais longa do que a galera sabe. Quando o meu manager, o Lucas (Lutkus), me colocou nessa luta no UAE Warriors, ele sabia da semana do UFC que ia ter aqui (em Abu Dhabi) também. Então, ele me jogou aqui no evento com essa esperança, essa expectativa: ‘Se cair uma luta de 77 (kg), o Carlão está lá e vai estar pronto’. A gente veio para cá, se preparou para a luta no UAE Warriors, com essa expectativa”, contou Leal.
História de cinema
Porém, para atender ao chamado do UFC, Carlos e sua equipe ainda precisaram encontrar alguém que o substituísse no ‘UAE Warriors’. Assim, entrou em cena o mestre do lutador brasileiro, Rodrigo Cavalheiro, que não só entrou na sua vaga no evento de terça-feira, como desempenhou seu papel à altura da ocasião, conquistando uma vitória por nocaute sobre Erkin Darmenov, no primeiro assalto do combate, e com Leal no seu corner – uma história digna de um filme de cinema, como o novo atleta do Ultimate classificou.
“No sábado, o Lucas ligou para o (Rodrigo) Cavalheiro e falou: ‘Caiu uma luta no UFC e os caras aceitaram o Carlão. Só que o evento precisa achar alguém para substituir ele. Aí ele vai ser liberado para lutar’. Aí o Cavalheiro – brincando, mas ao mesmo tempo sério – falou: ‘Para o Carlão ir para o UFC, eu luto até de graça’. E o Lucas falou: ‘Os caras aceitaram você lutar no lugar dele’. Ele teve dois dias para fazer o corte de peso, tirou 12 kg, me substituiu e eu pude ser liberado para lutar no UFC. Ele foi lá, lutou e meteu um nocautaço no cara. Me deixou muito mais motivado para sábado. Essa história parece de filme, cinema, é inacreditável. Agora, no sábado, eu vou fechar ela com final feliz, com chave de ouro, com mais um nocaute”, destacou o meio-médio.
Plano traçado desde o UFC Rio
O plano do empresário de Carlos Leal já estava traçado há algum tempo, mais precisamente desde o UFC Rio desta temporada, que aconteceu em maio. De acordo com o lutador, Lucas Lutkus havia pensado em colocá-lo para lutar no evento promovido pelo ‘LFA’ na ‘Cidade Maravilhosa’ na mesma época, com um objetivo em mente: conseguir um contrato com o UFC. E contar com uma ausência de última hora de algum atleta não era a única opção para alcançar a meta.
“Ele (empresário) já tinha conversado com o Cavalheiro quando eu saí da PFL, eles traçaram essa estratégia para esse ano, que era fazer o caminho para eu ir para o UFC. A gente ia tentar essa estratégia quando teve o LFA no Rio de Janeiro e teve UFC na mesma semana. Só que a gente acabou não entrando nesse card. E aconteceu agora. Ele é um cara que tem muita visão. E o plano que ele tinha traçado era assim: ou caía uma luta e eu entrava e substituía para lutar no UFC, porque eu estava pronto, ou eu lutava aqui na mesma semana do UFC e todo mundo ia ver, e talvez eu conseguisse um contrato ou chamar a atenção do UFC. As duas estratégias eram muito boas, e veio a melhor de todas, o contrato direto”, recordou.
No topo
Com o sucesso da ambiciosa estratégia traçada pelo empresário, o meio-médio agora digere a nova realidade de ser mais um atleta brasileiro no plantel do maior evento de MMA do planeta – uma noção que o próprio reconhece só ter conseguido entender ao ser contratado pelo UFC. Mesmo experiente, com passagens por grandes organizações internacionais, como PFL e Bellator, o ex-campeão do LFA se mostra impressionado com a estrutura disponibilizada pelo Ultimate.
“Eu tive a experiência de lutar em grandes eventos internacionais, mas quando eu entrei aqui no UFC (eu vi que) é diferenciado mesmo. Hoje eu entendo porque é o maior e melhor evento do mundo, em tudo. Em questão de estrutura, o tratamento com os atletas… Fiquei surpreso. O material que você ganha, de equipamento, o nutricionista faz a sua dieta, médico… A estrutura é gigantesca e a gente se sente muito confortável para poder trabalhar e só se preocupar com isso. Hoje eu sei porque a galera que entra nesse evento sai diferente”, concluiu.
Card repleto de estrelas
O card do UFC 308 contará com a presença de diversas estrelas da companhia. No ‘main event’, por exemplo, Ilia Topuria e Max Holloway duelarão pelo título dos penas (66 kg). Já No ‘co-main event’, Robert Whittaker e Khamzat Chimaev farão um importante combate pela divisão dos médios (84 kg). Também na parcela principal do show, Magomed Ankalaev e Aleksandar Rakic se enfrentarão de olho em uma possível vaga na próxima disputa pelo cinturão meio-pesado (93 kg) do Ultimate, atualmente sob posse do brasileiro Alex Poatan Pereira.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.