Entrevistas
Primeira algoz de Amanda Nunes no MMA revela discurso profético de campeã do UFC
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por
Diego Ribas
Com mais de 12 anos de MMA profissional, Amanda Nunes é dominante no Ultimate e apontada como a maior lutadora do mundo, com dois cinturões, do peso-pena (66 kg) e do peso-galo (61 kg). Desde 2014, última vez em que foi derrotada, a baiana enfileirou dez adversárias em sequência. No entanto, a brasileira, que neste sábado (6) busca defender o título da divisão mais pesada, no UFC 250, contra Felicia Spencer, conheceu uma derrota logo em sua estreia na modalidade. A algoz da ‘Leoa’ foi Ana Maria ‘Índia’ e esse confronto aconteceu no Prime MMA 2, um evento realizado em Salvador (BA), no dia 8 de março de 2008.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag.Fight, Ana Maria recordou esse combate e admitiu que quando soube da Amanda, já imaginava que fosse uma lutadora como muita vontade, já que naquela época poucas mulheres se aventuravam no MMA. Ao ter seu duelo casado, ‘Índia’ confessou que buscou informações de sua adversária e, dentro do cage, pôde observar gana e força de vontade grande da atual campeã do UFC. Inclusive, ela revelou o discurso profético que Nunes disse após ser derrotada.
“Eu também não era experiente, o que tinha mais era nome por fazer parte da BTT e chamava a atenção por ser uma única mulher nesse meio. Mas acho que era minha terceira luta mesmo. Tinha um amigo em Salvador, que me falou dela (Amanda), que treinava na mesma academia. Falaram que ela era muito dura e como naquela época não tinha muitas meninas que treinavam, quando aparecia uma, já sabíamos que era doida (risos). Ela sabia o que queria. Quando terminou nossa luta ela falou: ‘Tudo bem, não vou falar que não treinei, porque eu treinei muito, dormi e acordei na academia. Só que não deu. Mas não acaba aqui não, tem muito mais’, contou, antes de revelar que não se incomoda em ser lembrada como a “algoz” de Amanda e relembrou situações inusitadas na semana do embate.
“Cada uma veio com um objetivo e foi uma luta que ganhei. É só uma história da minha história. Mas eu não me incomodo de falar. Acho legal que sempre que alguém pergunta de uma luta vem um filme na minha cabeça. Lembro que para essa luta o dono do Prime me usou tanto para a parte de mídia, que teve uma entrevista no dia da pesagem, eu tirando peso, não aguentando ficar em pé e eu dormi na entrevista ao vivo (risos). Fechava o olho e dava aquele teto preto. Lembro de tudo que aconteceu. São 20 anos de dedicação. São tantas histórias”, completou a lutadora, que agora foca suas atenções em competições de jiu-jitsu.
Após derrotar Amanda e ver todo o seu potencial durante o combate, Ana Maria fez questão de falar com Luiz Dórea, treinador principal de boxe da academia Champion, também na Bahia. A ideia era trazer a atleta para integrar o time da nobre arte e também instigar sua evolução na parte em pé, já que no chão estava bem servida na academia Edson Carvalho. Com uma maior convivência, ‘Índia’ pôde observar mais a perseverança da jovem lutadora e no seu desejo de ser a melhor do mundo.
“Passou por um tempo eu falei com Dória para ela treinar na Champion com a gente, acho que ela ainda foi para uns dois Brasileiros com a equipe. Ela lutou no 81 kg por que os outros pesos já estavam preenchidos. A Amanda sempre foi muito determinada, sempre dizia que seria campeã do mundo. Ela perguntava porque eu tinha voltado dos Estados Unidos e dizia que só voltaria depois que fosse campeã. Ela era de colocar o computador ao lado do tatame para ficar vendo. Mas a gente se dava bem, mas não treinava muito junto. Não tinha escola de combate. A gente não era sparring uma da outra, Como eu tinha carro e era caminho, dava carona para ela e íamos juntos”, contou a lutadora que se aposentou do MMA em 2014.
Mais de 12 anos do confronto e agora com Amanda Nunes como a principal lutadora do UFC, com dois títulos, muitas questões são levantadas sobre quem é a melhor de todos os tempos. Para Ana Maria ‘Índia’, mesmo com todas essas conquistas, outra brasileira ocupa esse posto: Cris ‘Cyborg’. Apesar da atleta da American Top Team ter vencido a curitibana, em 2018, a faixa-preta de jiu-jitsu destacou o fator histórico e a importância que a ex-atleta da Chute Boxe teve no MMA feminino.
“Acho Cris (Cyborg) a melhor. Mas acho Amanda sabia o que queria. Ela trabalhou duro. Mas a melhor de todos os tempos é a Cris que se manteve por duas gerações, quem fez o MMA feminino foi a Gina Carano e a Cris. A Cris abriu caminho para MMA e se manteve firme Acho que a Cris errou na luta contra Amanda da mesma forma que Amanda errou contra mim, no ímpeto. Quando a gente perde a cabeça e deixa a raiva dominar e aumenta a chance de dar errado. Era controlar da meia para longa distância ela se perdeu querendo terminar a luta, a mesma coisa se Amanda tivesse feito comigo. Eu não ganhei por que era melhor que Amanda, ganhei por que ela se perdeu no ímpeto”, afirmou, antes de dar um palpite sobre o duelo entre Amanda e Felicia Spencer e apostar todas suas fichas na compatriota.
“Acho que Amanda não vai ser surpreendida. Spencer não tem jogo para ela. Nem pegada. Vai ser nocaute técnico. Essa menina que vai lutar com a Amanda é ruim, se você olhar o acabamento dela, não é muito bom. Ela pode ter um bom cartel, mas com quem que ela lutou e como foram as lutas?”, completou.
Amanda fará a primeira defesa de título na categoria até 66 kg. A baiana conquistou o cinturão da divisão ao nocautear a compatriota Cris ‘Cyborg’, então soberana da classe de peso do UFC, em dezembro de 2018. Nas suas últimas duas apresentações, ‘A Leoa’ enfrentou e superou desafiantes ao seu reinado no peso-galo.
Editor da Ag Fight e colunista do UOL, Diego Ribas cobre MMA desde 2010 e atualmente mora em Las Vegas