As recentes dispensas de veteranos astros do UFC que viviam momentos difíceis na organização, como Anderson Silva e Yoel Romero, ligou o sinal de alerta para atletas em situações similares. As palavras de Dana White, presidente da entidade, sobre uma provável demissão em massa, que envolveria o corte de cerca de 60 lutadores, também não serviram para amenizar o clima. Em meio a este momento conturbado, o ex-campeão peso-pesado Júnior ‘Cigano’ sobe novamente no octógono mais famoso do mundo neste sábado (12), diante de Ciryl Gane, na edição 256, em Las Vegas (EUA), visando interromper a sequência de derrotas e afastar qualquer possibilidade de encerramento de ciclo no Ultimate.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, ‘Cigano’, que renovou recentemente seu compromisso com o UFC, se mostrou ciente da importância de um bom desempenho dentro do octógono, atrelado aos resultados positivos, para se manter na principal liga de MMA do mundo. No entanto, os questionamentos sobre aposentadoria – seja da mídia, dos fãs ou, em alguns casos, até mesmo do dirigente máximo do Ultimate – com os quais atletas mais experientes são frequentemente abordados não é visto com bons olhos pelo catarinense.
Recentemente, o UFC ‘aposentou’ um dos maiores nomes de sua história, o ex-campeão peso-médio (84 kg) Anderson Silva, contra a vontade do próprio lutador, que, assim que liberado de seu contrato com a entidade, revelou seu desejo de continuar lutando. Outro astro do MMA brasileiro, Maurício ‘Shogun’, antigo soberano da divisão dos meio-pesados (93 kg), foi aconselhado por Dana White a pendurar as luvas após sua última apresentação, na qual foi superado por Paul Craig, em novembro deste ano. Apesar de entender o ponto de vista do cartola, ‘Cigano’ destacou que a decisão de encerrar a carreira deveria ser única e exclusivamente de responsabilidade do atleta.
“Acho que tenho mais umas cinco ou seis (lutas no contrato). Mas a gente sabe que no UFC não tem muito isso. Eles podem finalizar o contrato no momento em que eles acharem oportuno. Então, é por isso que é sempre importante você dar o seu melhor e buscar bons resultados. Eu não posso dizer que não tenho feito o meu melhor dentro do que eu me propus a fazer. Não foi o suficiente, óbvio, mas eu continuo com essa mesma mentalidade, de performar da melhor forma possível, em busca da vitória. O Dana White, o próprio UFC, eles têm a política deles. É um negócio. Mas eu acho que essa coisa de aposentar é muito pessoal. O atleta é quem tem que saber o momento certo de parar. Eu acho um absurdo alguém interferir nisso. Alguém querer te impor a aposentadoria”, comentou ‘Cigano’, antes de continuar.
“E que vem de pessoas leigas. Leigas no sentido de viver na pele o que o atleta vive. Eu vou me usar de exemplo: se eu fosse ouvir as opiniões de pessoas até do meio, ou seja lá de quem for, eu não tinha nem começado nesse esporte. Na questão do Dana White, tudo bem. Ele está lá para dar a opinião dele, para tentar fazer a coisa acontecer da melhor forma para o evento e para os atletas. Mas os jornalistas em geral, eles deviam se ater às informações, passar informação para as pessoas, não dar a opinião deles, principalmente sobre aposentadoria. A gente sempre ouve coisas que agradam, coisas que desagradam, mas isso tem que importar pouco, principalmente quando você tem algo definido na sua vida. É mais no pessoal. Na questão do Shogun, eu vi o Dana White falando que gostaria de vê-lo se aposentando. Mas isso é uma opinião do Dana White e é a vida do Shogun. Então, é o Shogun que tem que decidir isso, não o Dana White”, afirmou o peso-pesado.
O desejo de se manter na ativa e o interesse por parte do UFC em continuar a empregar determinado lutador, por mais história que ele possa ter na organização, nem sempre andam lado a lado, como no caso de Anderson Silva e tantos outros expoentes que contribuíram para o passado glorioso da entidade. Muitos nomes importantes na construção do Ultimate como maior potência do esporte, vários deles ex-campeões, tiveram que buscar refúgio em outras ligas para continuar a lutar.
Questionado se conseguia se enxergar no futuro competindo sob outra bandeira que não a do UFC, onde construiu grande parte de sua trajetória no esporte, ‘Cigano’ revelou que ainda não imaginou essa hipótese e reforçou seu desejo de chegar ao lugar mais alto do pódio novamente pela organização, mas admitiu que esta seria uma possibilidade a ser estudada.
“Eu nunca pensei nisso. Eu sou um cara positivo, acho que tudo vai sempre funcionar. Não parei para pensar nisso ainda. A minha intenção é permanecer no UFC, é brigar pelo cinturão, conquistar o cinturão novamente. Não tenho dúvidas de que eu posso fazer isso e de que eu vou fazer isso. Mas, com certeza (lutaria em outra organização), o esporte tem crescido a cada dia. E, no caso do Anderson mesmo, quem não gostaria de continuar vendo o Anderson lutar. É como o próprio (Mike) Tyson, que lutou agora. O Anderson é muito mais recente, é um cara que acho que tem 44 anos, e ainda está performando de forma ótima, dando shows. O resultado não veio, mas eu duvido que não tenham no mundo pessoas que ainda querem a lenda Anderson Silva lutando. Então, independente de qual seja o caminho que você vai seguir sempre há opções, novos caminhos para seguir”, concluiu.
No MMA profissional desde 2006, Júnior ‘Cigano’ acumula 21 vitórias e oito derrotas em sua carreira. Pelo Ultimate, o catarinense ostentou o cinturão peso-pesado entre novembro de 2011 e dezembro de 2012. Neste sábado, o ex-campeão mede forças com o invicto Ciryl Gane, na abertura do card principal do UFC 256, que acontece em Las Vegas, de olho em retomar o caminho das vitórias após sofrer três reveses consecutivos.