Entrevistas
Agora no time de Deiveson, ‘Pedrita’ promete nova versão no UFC 262: “Renascida”
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por
Neri Fung, em Niterói (RJ)
Renascimento! É assim que Priscila ‘Pedrita’ Cachoeira enxerga sua recente mudança de equipe. Após anos defendendo a bandeira da ‘Paraná Vale Tudo’ (PRVT), a peso-mosca (57 kg) deixou a cidade de Niterói (RJ) e partiu rumo a Belém, no Pará, onde se juntou ao campeão do UFC Deiveson Figueiredo, na academia do ‘Team Figueiredo’. E, apesar do pouco tempo na nova ‘casa’, a lutadora carioca não tem dúvidas ao cravar que tomou a decisão certa para sua carreira.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight (veja acima ou clique aqui), Priscila destacou a felicidade pela forma como foi acolhida pelos novos companheiros de equipe e o quanto a mudança de ambiente influenciou em sua rotina profissional e, consequentemente, na sua evolução como atleta. Por isso, a carioca promete apresentar a nova versão da ‘Pedrita’ – que treina com a mesma vontade de quando começou no esporte e confia no seu potencial em todas as áreas da luta – no confronto diante de Gina Mazany, neste sábado (15), pelo card do UFC 262, em Houston (EUA).
Apesar do sentimento de gratidão por seu antigo time, a lutadora afirmou que já não se sentia motivada na equipe liderada por Gilliard ‘Paraná’ e, por isso, sua saída foi inevitável. A falta de motivação ficou no passado, de acordo com a própria Priscila, que afirmou que voltou a sentir o mesmo prazer nos treinos de quando começou no esporte, além de ressaltar que a mudança de equipe trouxe a confiança em seu potencial que antigamente faltava.
“Sempre que a gente compra uma casa nova é bom, né? Aquela energia gostosa. E foi exatamente esse o motivo. Eu precisava de alegria, felicidade. Eu precisava de novos ares. Eu já não me sentia tão bem na PRVT. Estava em busca de evolução e não estava conseguindo, e estava tudo muito pesado para mim. Não vou entrar em detalhes, mas enfim… Sou muito grata, eternamente grata. Se não fosse o Gilliard Paraná e a Jéssica Andrade, hoje eu não estaria aqui. Mas eu cheguei em um momento em que eu falei: ‘Eu preciso evoluir’. E esse retorno eu não estava tendo na PRVT. Foi quando eu decidi buscar novos ares”, explicou ‘Pedrita’, antes de completar.
“Eu estava em Las Vegas e tive esse direcionamento de Deus. E eu acabei encontrando os meninos da Team Figueiredo, lá no PI, o Deiveson ia fazer sua terceira defesa de cinturão, e eles me conquistaram de uma forma tipo: ‘Aqui é a sua casa nova’. (Estou) muito feliz, muito grata, muito agradecida por Deus ter me encaminhado e hoje pode ter certeza que é uma Pedrita completamente renascida. Uma Pedrita feliz, lá do início, que ia treinar muito feliz, que não faltava um treino. Tá lesionada da mão direita? Vai lá bater com a mão esquerda. E essa Pedrita voltou e pode ter certeza que ela vai apresentar ao mundo essa nova Pedrita renascida”, prometeu.
Se na antiga equipe ‘Pedrita’ era cercada de parceiras mulheres, no ‘Team Figueiredo’ Priscila é a única atleta do feminino. Nada que tenha atrapalhado sua evolução, pelo contrário. De acordo com a peso-mosca, o fato de treinar com homens durante grande parte de seu camp de preparação fez com que ela tivesse melhores resultados, principalmente no aspecto técnico.
“Eu fui criada na PRVT assim: ‘Você lutar com mulher, você tem que treinar com mulher’. Hoje a minha concepção mudou em questão a isso. Por que eu não posso treinar com homem? Um homem do mesmo peso, do mesmo nível. Ou então até um pouco mais pesado. E quando pegar uma mais leve… Então, tive sim momentos de treinar com meninas, porque os coaches fizeram isso acontecer, os sparrings com meninas. Mas a maioria dos meus treinos foram com os meninos. E tecnicamente dizendo, eu evolui muito com os meninos. Hoje eu não penso mais da forma que eu fui criada, que implantaram em mim. Foi (treinando) com meninos que eu estou vendo tamanha evolução no meu jogo e vocês vão ver isso no sábado. Se a luta não acabar muito cedo, né (risos)”, brincou Priscila, antes de continuar a análise.
“A (maior evolução foi na) parte técnica. Quem está de fora sempre me diz e eu posso sentir. Hoje, se ela quiser chão, ela vai ter, porque eu tenho confiança para isso. Se ela quiser luta agarrada, ela vai ter. Eu tenho confiança para isso. Coisa que eu não tinha. Coisa que: ‘Não, isso nunca pode acontecer contigo porque senão você vai perder. Você é só trocadora’. Hoje não. Quer me agarrar, me agarra, eu vou te dar o que você quer. Você quer me levar para o chão? Toma aí. Porque eu acredito que evolui o suficiente para poder confiar na luta onde quer que ela esteja. Tanto no alto, que é o meu forte, claro, mas eu agora também sou forte na luta agarrada, como no chão, nas quedas, no que ela quiser”, afirmou.
Cada vez mais consolidado como um estado revelador de grandes talentos para o MMA brasileiro, o Pará tem despertado a curiosidade da comunidade das lutas, especialmente interessada em saber qual seria o segredo do local. E a resposta, de acordo com ‘Pedrita’, é muito simples e pode ser resumida em dois aspectos fundamentais: disposição para treinar e para ensinar.
“Me falaram assim: ‘Quando alguém te perguntar isso na entrevista, fala que é o açaí’. Sacanagem. Vou te dizer. As pessoas ali são leões de treino. Coisa que nos lugares onde eu já treinei, eu não vi isso. Eles amam treinar, eles são fanáticos por treino. E com isso você acaba se tornando uma pessoa assim. Hoje (quarta-feira) eu não fiz o treino da manhã por causa desse processo (de entrevistas) do UFC e eu já estou agoniada, já quero treinar. Isso contagia de uma forma a gente, que a gente busca evoluir cada vez mais”, contou a peso-mosca, antes de continuar.
“A gente vê: ‘Opa, aquela posição eu nunca fiz. Me ensina aí’. E eles estão ali para te ensinar. Não tem: ‘Ah, não. Eu não vou contar esse segredo aqui porque senão ela vai evoluir muito’. Isso não existe no Pará. Eles estão ali para te fazer crescer de verdade. A equipe, a estrutura da Team Figueiredo eles têm os melhores coaches de cada modalidade. E eles dão tudo que eles têm para te transformar em uma pessoa evoluída. Isso é um diferencial muito grande. Hoje em dia eu tenho uma visão de luta, tecnicamente falando, que eu… Tudo é tão novo que eu digo: ‘Obrigado, Senhor’. Porque se eu estivesse onde eu estava, eu nunca ia ter essa visão que eu tenho hoje”, concluiu.
Após chegar no Ultimate com o cartel invicto após oito combates profissionais disputados, Priscila ‘Pedrita’ sofreu para se adaptar à organização e perdeu os três primeiros compromissos no octógono mais famoso do mundo. Ameaçada de demissão, a peso-mosca, de 32 anos, conseguiu ganhar sobrevida em sua última luta, ao nocautear Shana Dobson em fevereiro do ano passado.
Agora a lutadora carioca busca confirmar a boa fase e conquistar sua segunda vitória pelo Ultimate. Neste sábado, ‘Pedrita’ mede forças com Gina Mazany, pelo card preliminar do UFC 262, que acontece na cidade de Houston, no Texas (EUA).
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.