Entrevistas

20 anos! Cristiano Marcello relembra briga histórica com Krazy Horse no PRIDE

No próximo dia 31 de dezembro, uma das histórias mais marcantes dos esportes de combate completa 20 anos: a famosa briga entre Cristiano Marcello e Charles Bennett, o ‘Krazy Horse’, no ‘PRIDE FC Shockwave 2005’, no Japão. E talvez o que mais impressione neste caso é que ele segue vivo na memória das pessoas depois de tanto tempo, mesmo não tendo ocorrido dentro de um ringue ou cage de competição, mas, sim, nos bastidores de um evento. Neste aniversário de duas décadas, a equipe de reportagem da Ag Fight decidiu relembrar o acontecido, que marcou uma geração de fãs do mundo das lutas.

E para isso, nada melhor do que conversar com o principal protagonista do episódio. Em entrevista exclusiva à Ag Fight, o carioca Cristiano Marcello recordou com orgulho a sua participação na história. E não é para menos. Afinal de contas, o faixa-preta de jiu-jitsu saiu como o vencedor da briga que deu origem a um dos primeiros registros em vídeo a viralizar na comunidade do MMA, em uma época na qual as redes sociais ainda davam seus primeiros passos.

Marcou história, né. No auge do PRIDE e da maneira que foi. O ‘boom’ da internet veio depois e, ainda assim, marcou daquela maneira. Acho que também foi a magnitude das estrelas que estavam naquele vestiário ali. Isso ajudou muito a potencializar, até hoje, esse vídeo. Marcou algumas gerações. Esse vídeo vem transcendendo gerações”, afirmou Cristiano.

À época, o carioca – então com 28 anos – ocupava a função de treinador de jiu-jitsu na tradicional equipe curitibana ‘Chute Boxe’ e fazia parte do corner de Wanderlei Silva, que estava escalado para defender seu cinturão peso-médio diante de Ricardo Arona no ‘co-main event’ do show. No vestiário do ‘Saitama Super Arena’, entretanto, Cristiano Marcello roubou a cena ao colocar Charles ‘Krazy Horse’ Bennett para dormir com um triângulo durante uma briga. Mas o que levou à altercação entre os dois?

Origem da briga

O principal motivo, conforme lembrou o atual líder da equipe ‘CM System’, foi a coincidência de ambas equipes dividirem o mesmo vestiário, já que houve uma discussão prévia envolvendo Cristiano e Charles, logo após a luta do americano, ainda no ringue. Com os ânimos ainda alterados, os desafetos acabaram chegando às vias de fato nos bastidores do show – sem que chegasse a ‘turma do deixa disso’, como costumeiramente acontece hoje em dia em situações assim.

“O Ken Kaneco, que era um ator japonês veio (para a Chute Boxe) com o (Kazushi) Sakuraba em um dos camps, e ele estava convocado para lutar contra o Charles Bennett, o ‘Krazy Horse’, e eu estava no corner dele e do Wanderlei (Silva). Eu estava no vestiário e ficou acordado que eu iria desafiá-lo. A gente sabia que a probabilidade do Ken Kaneco ganhar era mínima. E, dito e feito, ele foi finalizado pelo Krazy Horse, que era um cara do striking, tinha zero chão praticamente. Eu o desafiei, logo depois, como estava acordado. Houve aquela animosidade em cima (do ringue), só que todos nós esquecemos – inclusive o próprio Charles Bennett – que o time dele e o nosso estava no mesmo vestiário. E ele continuou falando alguma coisa depois e é o que você veem no vídeo. Eu fui tirar satisfação com ele e rolou o que rolou. Os dois times deixaram acontecer o mano a mano e dois homens resolveram da melhor maneira naquele momento“, recordou o ex-lutador.

Outra realidade

Apesar de falar orgulhosamente do episódio, Cristiano Marcello admite que, hoje em dia, devido a todas as mudanças pelas quais a sociedade passou, a briga contra ‘Krazy Horse’ poderia ser mal vista, ao invés de ser recordada com saudosismo pelos fãs. Isso não significa necessariamente que o veterano, atualmente com 48 anos, aprove completamente os novos rumos do mundo.

“O clima de rivalidade (antigamente) não era ‘trash talk’. Se pensava muito no que ia falar. Se falasse, era do coração – bom ou ruim – porque sabia que a porrada ia comer em qualquer momento. Não tinha esse negócio de ‘ah, é profissional’. Éramos profissionais e sujeito homem ao ponto de que se falasse, ia ter que assumir o que falou. E se tivesse que resolver, onde tivesse que ser, era resolvido. Tudo era mais latente, tudo era muito verdadeiro. Sinto muita falta desse tempo. Era maravilhoso. Hoje, talvez, isso não caberia mais. Mas, na época, coube e fez história“, ponderou o treinador.

Só o jiu-jitsu salva

Outro ponto que fez com que o vídeo viralizasse entre os fãs, mesmo em uma época praticamente sem redes sociais, foi a forma como a briga transcorreu. Depois de partir para cima do carioca, aproveitando-se da sua pujança física para deixar Cristiano Marcello encurralado com as costas no chão, ‘Krazy Horse’ se viu exatamente onde o faixa-preta de jiu-jitsu mais se sente à vontade – mesmo sendo atingido por socos potentes enquanto preparava a finalização que ‘apagaria’ o americano.

Confiei 100% no jiu-jitsu. Sempre fui um cara com um jiu-jitsu muito agressivo, agressividade acima da média, muito bem adaptado para o MMA. Mantive a calma, tomei quatro ou cinco socos bem fortes, porque ele era um cara bem agressivo e batia muito forte. Consegui a primeira vez ir para a omoplata, voltar para o triângulo… Ele saiu, jogou o casaco, cortina por cima, eu me desvencilhei. Quando eu consegui atacá-lo de volta, fechar o triângulo e botá-lo para dormir. E o ‘bota para dormir’, com certeza, ficou marcado também. Eu lembro até hoje, no UFC Rio 3, a torcida inteira gritando ‘bota pra dormir’ na minha luta contra o Reza Madadi”, afirmou.

Wanderlei nocauteado

Em 20 anos, todas as histórias envolvendo essa briga entre Cristiano Marcello e Krazy Horse nos bastidores do PRIDE já foram contadas. Até mesmo a que era um dos segredos mais bem guardados do MMA nacional em todos os tempos: o nocaute aplicado por Charles Bennett em Wanderlei Silva, que ainda entraria em ação no evento, como uma das atrações principais.

De acordo com o líder da CM System, o fato da principal estrela da Chute Boxe ter sofrido um nocaute foi um choque para os membros da equipe presentes. Mas, recuperados, souberam usar o ocorrido para motivar ainda mais o ‘Cachorro Louco’, que, de fato, subiu no ringue na sequência, com sangue nos olhos e venceu seu combate contra Ricardo Arona, mantendo o título dos médios do PRIDE.

“Quando ele acordou, houve aquele entreveiro também, que agora já foi revelado pelo Wanderlei, dele nocautear o Wanderlei. Ele acordou e o primeiro cara que ele viu foi o Wanderlei. Ele deu um soco e saiu correndo. Foi uma coisa que assustou bem a gente porque o Wanderlei ainda tinha uma disputa de cinturão para fazer contra o Arona. Então, a gente teve a capacidade de acalmá-lo e usar aquilo como combustível para ele sair vitorioso aquele dia e manter o cinturão”, recordou.

Reencontro

Com o passar dos anos, o episódio passou a integrar o folclore do MMA. O reencontro entre Cristiano Marcello e Krazy Horse mostrou que, apesar da violência do passado, o tempo foi capaz de esfriar os ânimos, ao menos momentaneamente. O respeito mútuo, ainda que frágil, refletiu a maturidade adquirida fora do calor do momento e reforçou a ideia de que aquele confronto pertence a uma outra era do esporte, mais crua, visceral e sem filtros.

“Dez anos depois, eu levei um atleta para lutar em um evento e ele estava para lutar nesse dia. Rolou aquela troca de olhares primeiro, mas sentimos que era coisa do passado. Trocamos uma ideia, nos abraçamos e foi bem legal ver que estava zerado. Mas durou pouco. Um tempo depois, ele me xingou pelo Twitter. Mas é ele, é um cara que eu torço muito pela vida dele, peço (a Deus) pela vida dele. Não tenho mágoa nenhuma, pelo contrário, faz parte da minha história”, concluiu.

Cristiano Marcello possui uma longa carreira nos esportes de combate – primeiro como lutador e depois como treinador. Hoje em dia, o faixa-preta de jiu-jitsu, que se orgulha de ter sido o único atleta a competir no PRIDE, no The Ultimate Fighter e no UFC, lidera a equipe ‘CM System’, em Curitiba (PR), inaugurada por ele em 2009, após sua saída da Chute Boxe.

Por sua vez, Charles Bennett, ao que tudo indica, continua em atividade como lutador de MMA profissional. Aos 46 anos de idade, o americano entrou em ação pela última vez em julho deste ano, sofrendo sua 47ª derrota na carreira, que conta ainda com 31 vitórias e dois empates.

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