Siga-nos
exclusivo!

Entrevistas

Em última luta do contrato, Werdum descarta renovação com UFC: “Acabou o ciclo”

Fabrício Werdum encara Alexander Gustafsson na ‘Ilha da Luta’ – Diego Ribas

Escalado para enfrentar Alexander Gustafsson no próximo sábado (25), em duelo que marca a última luta do seu contrato com o UFC, Fabrício Werdum já fala em tom de despedida da companhia pela qual vivenciou muitos dos melhores momentos de sua carreira, como a conquista do cinturão dos pesos-pesados. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, o gaúcho demonstrou gratidão ao Ultimate pelos vários anos de parceria, mas descartou a possibilidade de negociar um novo acordo para sua permanência na entidade.

Após duas passagens pela principal organização de MMA do planeta, onde colecionou vitórias e glórias, assim como algumas polêmicas e brigas, Werdum considera que seu ciclo no Ultimate esteja encerrado. Para o ex-campeão dos pesos-pesados, o fato de finalizar seu contrato, e consequentemente ficar livre no mercado, fará com que ele possa explorar outras possibilidades para o seu futuro, como lutar por outras ligas e contra adversários que não estejam no plantel de lutadores do UFC, como, por exemplo, Fedor Emelianenko, lenda do MMA mundial e que já foi derrotado pelo brasileiro em 2010, ainda pelo extinto evento ‘Strikeforce’.

“Não tem a possibilidade (de renovar com o UFC). Todos esses anos com o UFC foram muito bons. Tivemos uma boa relação, algumas vezes existiram algumas polêmicas, umas discordâncias, coisas que acontecem em uma relação normal. Agradeço muito ao UFC por todos esses anos, fiz a minha carreira praticamente no UFC. Sempre quis entrar no UFC e eles me deram essa oportunidade duas vezes. Já fui despedido e voltei porque fiquei enchendo o saco (risos). Mas acabou o ciclo, o ciclo foi bom até aqui. Agora eu quero seguir minha carreira um pouco mais, e quero fazer do meu jeito. De repente lutar em outros eventos, já lutei em muitos eventos e quero poder ter outras possibilidades”, explicou Werdum, antes de continuar.

“Essa trajetória que eu tive no UFC foi muito legal, foram momentos muito bons e felizes. Duas vezes campeão, ganhei do Mark Hunt, depois ganhei do Cain Velasquez, fora as outras lutas também. E eu não conto só as vitórias, claro que eu não gosto de perder, mas as derrotas também me fizeram crescer muito. Essa parte como comentarista também, há oito anos como comentarista em espanhol. Tudo isso fez parte da minha trajetória. Tivemos brigas, discussões, não entramos em acordo com algumas coisas, fui despedido (risos). Mas isso já passou, isso é passado já, agora é bola para frente e só agradecer. Só tenho a agradecer ao UFC por todos esses anos de vitórias”, destacou.

Com a consciência de que seu ciclo na entidade está perto de ser finalizado, restava uma despedida à altura de sua trajetória no Ultimate. Por isso, o veterano não teve dúvidas ao optar por fazer sua última luta pela liga diante de Alexander Gustafsson. Apesar de nunca ter conseguido conquistar o título dos meio-pesados (93 kg), o sueco – que estreia nos pesados contra o brasileiro – foi durante anos um dos principais nomes da categoria e é apontado até hoje como um dos melhores lutadores da história a não ter um cinturão do UFC em sua prateleira.

O gaúcho Fabrício Werdum foi campeão dos pesos-psados do UFC – Diego Ribas

Além do oponente de nome, obviamente, Werdum busca deixar o UFC “pela porta da frente” com uma boa apresentação seguida de vitória. E, pensando nisso, o atleta adotou mudança em sua postura na semana pré-luta. O gaúcho, que normalmente é bastante extrovertido, tem se mostrado mais introspectivo nas entrevistas, sem suas tradicionais declarações divertidas ou provocações ao rival. De acordo com ele, tudo faz parte do plano traçado para se manter completamente focado no objetivo final, o triunfo diante do sueco no dia 25 de julho, no quarto evento promovido pelo Ultimate na ‘Ilha da Luta’, em Abu Dhabi (EAU).

“É muito importante (ter o Gustafsson como rival na última luta pelo UFC), até porque fui eu que o escolhi. Eu tive algumas opções e escolhi o Gustafsson porque é um cara bem conhecido, que tem um nome no mundo do MMA, ele fez o nome dele na categoria até 93 kg, e eu queria que essa luta fosse importante. Não queria que fosse uma luta qualquer, contra um cara que está começando. E o mais importante é a vitória, fazer uma boa atuação. Vou dar o meu melhor, estou me sentindo muito bem. Quero sair pela porta da frente”, destacou ‘Vai Cavalo’, como é conhecido, antes de comentar sobre a postura mais sóbria nas entrevistas pré-luta.

“Eu estou trabalhando com o Eric Faro, que é um cara que trabalha a alta performance – ele trabalha com a Cris Cyborg também, ela que me indicou – e foi muito bom o trabalho que eu fiz com ele. Faz parte do meu treinamento também a parte psicológica. É o foco total, estar mais consciente de tudo. Realmente eu vejo que mudou muito, de não falar tanto, mostrar mais, estar concentrado realmente. Isso tudo resumiu na concentração. Realmente eu não estava muito a fim de falar ontem (terça-feira), não estava muito a fim de falar demais, do jeito que eu sempre dei as entrevistas. Isso fez parte desse trabalho que eu fiz com o Eric Faro, de estar mais concentrado e consciente de tudo que está acontecendo. Estou focado para o dia 25”, afirmou.

Satisfeito com a história construída dentro do UFC, Werdum admite que, se pudesse, mudaria um aspecto de sua trajetória na entidade: a frequência de lutas. Com a média de pouco mais de uma luta e meia por ano em sua segunda passagem pela companhia, ainda que tenha sido atrapalhada pela suspensão da USADA, o peso-pesado revelou que desperdiçou algumas oportunidades de competir mais vezes, algo que, hoje em dia, não faria novamente.

“Olhando para trás, com certeza eu faria uma coisa diferente: lutar mais. Eu lutaria mais. Acho que em alguns momentos eu tive oportunidades de poder lutar e, por uma lesão ou por outra coisa, não pude lutar, mas teve outros momentos em que, sim, eu poderia ter lutado. Então, se eu pudesse voltar atrás eu teria lutado mais. Quanto? Quatro, cinco lutas ao ano. Não me arrependo, mas eu lutaria mais vezes. Só isso”, revelou.

Sobre o futuro no esporte, Fabrício ainda evita comentar detalhadamente sobre seus planos, até por estar focado no duelo de despedida contra Gustafsson. Já o planejamento pós-aposentadoria parece incluir a possibilidade de um retorno ao Brasil. Longe do país natal há muitos anos, o peso-pesado revelou que considera voltar a morar em terras tupiniquins para explorar melhor a sua imagem, indicando inclusive um possível trabalho em frente às câmeras, situação com a qual está acostumado, por sua passagem como comentarista do UFC em espanhol, assim como pela apresentação dos vídeos publicados em seu canal no ‘Youtube’.

“Tenho vontade de voltar a morar no Brasil também. É o meu país, onde eu nasci, eu amo o Brasil. Quem sabe eu não possa morar no Brasil e usar minha imagem de outra maneira. Seria uma segunda fase da minha carreira, com palestras, presenças – que eu faço isso já -, seminários, propagandas, fazer esse lado que, de repente, pode ser uma segunda fase da minha carreira que eu vá seguir. Gosto muito de televisão, não sou um cara encabulado na hora que aparece uma câmera, fico bem natural e gosto, na verdade”, concluiu.

No MMA profissional desde 2002, Fabrício Werdum soma 23 vitórias, sendo 11 por finalização, e nove derrotas, além de um empate, em sua carreira. Pelo UFC, onde foi campeão dos pesos-pesados, o gaúcho possui 11 triunfos e seis reveses no total, contando as duas passagens.

Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.

Mais em Entrevistas