Entrevistas
Maurício Ruffy abre o jogo sobre sumiço após derrota no UFC e revela drama familiar
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Diego Ribas, em Las Vegas (EUA)
Um dos maiores talentos do MMA nacional na atualidade, Maurício Ruffy passou por momentos complicados recentemente, que o fizeram se afastar por um tempo da vida pública. Em entrevista exclusiva à equipe de reportagem da Ag Fight, o top 15 peso-leve (70 kg) do UFC abriu o jogo e explicou os motivos por trás do seu sumiço – entre eles uma delicada questão familiar.
E ao que tudo indica, a vontade de ‘juntar os cacos’ e buscar entender a razão por trás da sua atuação abaixo do esperado diante de Benoit Saint Denis no UFC Paris, em setembro, no que marcou sua primeira derrota na companhia, não foram os únicos responsáveis pelo afastamento. De acordo com o lutador da equipe ‘Fighting Nerds’, outro fator que o levou a se esquivar do contato público, principalmente na internet, foi o luto pela morte do seu irmão.
“Foram dias difíceis. Não pela derrota em si, mas o fato de subir lá em cima e não lutar. Eu tenho 15 lutas e isso nunca tinha me acontecido antes. Nós queríamos identificar bem o erro, e já ficou claro para nós o que aconteceu ali. Depois que tudo passou, logo em seguida, teve a morte do meu irmão, por isso o sumiço da internet. Fiquei bem na minha. Mas Deus tem me abençoado, tem abençoado a minha família, cuidado de tudo aqui. (Já) Voltei aos treinos muito bem, estou animado para os próximos passos”, contou Maurício.
Batalha contra o suicídio
A perda do irmão, ainda mais pela forma como tudo ocorreu, faz com que Ruffy levante uma bandeira que o próprio já defendia muito antes de todo o drama familiar vivido por ele recentemente: a importância de estar atento aos problemas de saúde mental e procurar ajuda em caso de necessidade – uma batalha que o atleta do UFC promete lutar até o fim. Isso porque, assim como acontece com cada vez mais pessoas em todo o mundo, o irmão do lutador tirou a própria vida.
“A grande realidade é que, só na Zona Norte de São Paulo, pelo menos um caso por dia de pessoas que tiram a própria vida. No mundo, a cada dois minutos, uma pessoa tira a própria vida. Por conta de uma mensagem, por conta de uma palavra, porque a galera se guarda, não expressa o sentimento… Eu também tinha vontade de fazer uma besteira comigo, achava que não tinha solução, mas conheci o Senhor Jesus e tudo na minha vida mudou. Então, eu estou sempre disposto a conversar com alguém, a trocar ideia, a falar sobre o assunto. É muito mais sério do que a gente imagina. Meu irmão estava sorrindo comigo ontem, no outro dia ele foi lá e tirou a própria vida. É um assunto muito sério e eu declaro guerra contra isso. Até o meu último dia de vida, eu vou estar sempre compartilhando sobre este assunto”, afirmou o lutador do UFC.
Força para ajudar outras pessoas
Apesar da evidente tristeza com a situação, o peso-leve do Ultimate garante estar em paz, dentro do possível, principalmente com o auxílio da fé. Se manter saudável mentalmente, inclusive, além de servir para afastar os pensamentos negativos, faz com que Maurício esteja apto a ajudar outras pessoas que passem por um momento complicado, como já foi o caso do também lutador do UFC Jean Silva, seu companheiro de treinos na Fighting Nerds, segundo o próprio Ruffy.
“Eu sinto uma paz em meio às minhas maiores dificuldades. Isso aconteceu tão recentemente, e era o meu irmão de verdade. Mas o fato de você saber e ter a certeza do amanhã, com quem eu ando, a paz que eu sinto dentro de mim, é como se eu tivesse o próprio Senhor Jesus me consolando todos os dias. A gente está bem, lidando com tudo isso, não é fácil, tem o processo do luto… Teve a questão de perder a minha luta – não pelo fato de perder, mas como foi. Eu não dei um soco, praticamente, na luta. Mas eu tenho a oportunidade de estar bem, continuar compartilhando essa mensagem com as pessoas – muitas pessoas não vão chegar a esse ponto de tirarem a própria vida. Através de uma mensagem que eu compartilho, já recebi vários relatos de pessoas abortando essa missão. Pessoas a ponto de fazer e, através de uma ligação comigo, o cara abandonar a missão e hoje estar super bem. O próprio Jean (Silva) é uma dessas pessoas. E olha que grandeza. Se o Jean tivesse feito aquilo, ele não estaria vivendo toda a imensidão que ele está vivendo agora”, concluiu.
Depois de iniciar sua trajetória no UFC de forma extremamente promissora, com três vitórias consecutivas e performances que, rapidamente, fizeram sua base de fãs crescer, Maurício Ruffy sofreu sua primeira derrota na liga em sua última apresentação. Com um desempenho aquém do que vinha demonstrando dentro do octógono mais famoso do mundo, o peso-leve da Fighting Nerds acabou sendo amplamente dominado pelo francês Benoit Saint Denis no card da edição sediada em Paris, no dia 6 de setembro.
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Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.